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MEDICINA
Técnica que usa células de adulto para criar prótese natural pode ir ao mercado em dez anos
Brasileiros criam dente em abdome de rato
SALVADOR NOGUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
O velho ditado referente aos cavalos dados já não se aplica mais
aos ratos, graças a uma nova pesquisa da Unifesp (Universidade
Federal de São Paulo). Lá, um
grupo de cientistas conseguiu realizar um feito surpreendente, fazendo dentes crescerem no abdome dos animais a partir de um
mero punhado de células. Eles esperam agora caminhar na direção
de obter sucesso em humanos.
Claro, a idéia não é produzir
pessoas com dentes na barriga
(por mais que isso pudesse encurtar o caminho até o estômago). O
objetivo na verdade é criar meios
de cultivar dentes naturais, que
possam substituir funcional e esteticamente os perdidos.
A porção brasileira do estudo é
conduzida pelo casal Silvio e Mônica Duailibi. A dupla trabalha
em cooperação com cientistas liderados por Pamela Yelick, do
Instituto Forsyth, nos EUA.
Juntos, eles estão numa verdadeira corrida internacional antibanguelas. Há mais um grupo na
competição, liderado por Paul
Sharpe, pesquisador britânico
que fundou uma empresa
(www.odontis.co.uk) no Reino
Unido com o objetivo de cultivar
dentes naturais para quem por alguma razão os perdeu.
Os resultados do grupo americano e do grupo europeu estão
publicados lado a lado na edição
de julho do "Journal of Dental Research", um dos periódicos científicos especializados na área.
Ambos levantam mais uma vez
a lebre das células-tronco e de seu
uso promissor para as mais variadas aplicações médicas. Mas, desse ponto de vista,
a pesquisa que vem do Brasil e dos
EUA é menos polêmica: os cientistas estão apostando aqui nas
células-tronco extraídas de indivíduos adultos. Os britânicos, em
compensação, usam células embrionárias. "Essa é uma diferença
fundamental", diz Silvio Duailibi.
Na pesquisa nacional, que foi
apresentada ontem em entrevista
coletiva realizada pela Unifesp, as
células são cultivadas numa espécie de molde, de modo a produzir
os tecidos constituintes do dente,
como dentina, esmalte e polpa.
O trabalho, iniciado nos EUA, já
havia sido bem-sucedido com células de porcos e agora reproduz o
sucesso com ratos. A expectativa é
que o procedimento funcione
também para humanos. Os primeiros experimentos com culturas de células de pessoas já vão começar -mas só devem produzir
uma técnica comercialmente aplicável em uma década.
Quanto à corrida pelos dentes,
os brasileiros a vêem com bons
olhos. "O esforço deles é muito interessante, e Paul Sharpe é um
pesquisador sério", afirma Silvio.
"E é bom que mais gente esteja
tentando fazer coisas parecidas."
A única preocupação dos cientistas da Unifesp parece ser o financiamento. Segundo eles, será
preciso R$ 3 milhões para dar
continuidade à pesquisa. O financiamento ainda não foi obtido.
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