São Paulo, sexta-feira, 25 de junho de 2004

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MEDICINA

Técnica que usa células de adulto para criar prótese natural pode ir ao mercado em dez anos

Brasileiros criam dente em abdome de rato

SALVADOR NOGUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

O velho ditado referente aos cavalos dados já não se aplica mais aos ratos, graças a uma nova pesquisa da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo). Lá, um grupo de cientistas conseguiu realizar um feito surpreendente, fazendo dentes crescerem no abdome dos animais a partir de um mero punhado de células. Eles esperam agora caminhar na direção de obter sucesso em humanos.
Claro, a idéia não é produzir pessoas com dentes na barriga (por mais que isso pudesse encurtar o caminho até o estômago). O objetivo na verdade é criar meios de cultivar dentes naturais, que possam substituir funcional e esteticamente os perdidos.
A porção brasileira do estudo é conduzida pelo casal Silvio e Mônica Duailibi. A dupla trabalha em cooperação com cientistas liderados por Pamela Yelick, do Instituto Forsyth, nos EUA.
Juntos, eles estão numa verdadeira corrida internacional antibanguelas. Há mais um grupo na competição, liderado por Paul Sharpe, pesquisador britânico que fundou uma empresa (www.odontis.co.uk) no Reino Unido com o objetivo de cultivar dentes naturais para quem por alguma razão os perdeu.
Os resultados do grupo americano e do grupo europeu estão publicados lado a lado na edição de julho do "Journal of Dental Research", um dos periódicos científicos especializados na área.
Ambos levantam mais uma vez a lebre das células-tronco e de seu uso promissor para as mais variadas aplicações médicas. Mas, desse ponto de vista, a pesquisa que vem do Brasil e dos EUA é menos polêmica: os cientistas estão apostando aqui nas células-tronco extraídas de indivíduos adultos. Os britânicos, em compensação, usam células embrionárias. "Essa é uma diferença fundamental", diz Silvio Duailibi.
Na pesquisa nacional, que foi apresentada ontem em entrevista coletiva realizada pela Unifesp, as células são cultivadas numa espécie de molde, de modo a produzir os tecidos constituintes do dente, como dentina, esmalte e polpa.
O trabalho, iniciado nos EUA, já havia sido bem-sucedido com células de porcos e agora reproduz o sucesso com ratos. A expectativa é que o procedimento funcione também para humanos. Os primeiros experimentos com culturas de células de pessoas já vão começar -mas só devem produzir uma técnica comercialmente aplicável em uma década.
Quanto à corrida pelos dentes, os brasileiros a vêem com bons olhos. "O esforço deles é muito interessante, e Paul Sharpe é um pesquisador sério", afirma Silvio. "E é bom que mais gente esteja tentando fazer coisas parecidas."
A única preocupação dos cientistas da Unifesp parece ser o financiamento. Segundo eles, será preciso R$ 3 milhões para dar continuidade à pesquisa. O financiamento ainda não foi obtido.


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