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MEDICINA
Italianos criam dois compostos que funcionam como alvos falsos para proteína fatal do micróbio, neutralizando-a
Arapuca química detém toxina do antraz
REINALDO JOSÉ LOPES
FREE-LANCE PARA A FOLHA
O micróbio do antraz usa uma
arma quase infalível, a proteína
chamada fator letal, para acabar
com as defesas do organismo que
invade. Mas um grupo de pesquisadores italianos encontrou uma
forma de enfrentar a bactéria
dando a ela um alvo falso, o que
pode gerar, dentro de alguns meses, drogas capazes de neutralizar
os efeitos mais graves da doença.
É o que afirma Cesare Montecucco, patologista da Universidade de Pádua e coordenador do estudo que sai hoje na revista científica "Nature" (www.nature.com).
"O nosso método permitirá a
identificação de moléculas com
valor terapêutico em pouco tempo", afirma o pesquisador.
É que, além de sintetizar duas
moléculas -batizadas de In-1-LF
e In-2-LF- que conseguiram impedir a ação do fator letal sobre
células humanas em laboratório,
Montecucco e seus colegas criaram uma forma de medir a atividade da proteína tóxica, revelando quais substâncias são mesmo
eficazes contra ela.
O Bacillus anthracis, que pôs
boa parte do planeta em pânico
depois de ser usado em atentados
terroristas nos Estados Unidos no
ano passado, é perigoso porque
seu fator letal é imune à ação dos
antibióticos existentes.
A toxina começa a agir depois
que os esporos da bactéria (estruturas resistentes que reúnem milhares de células do parasita) são
"engolidos" pelos macrófagos,
grandes células do sistema de defesa do organismo. As bactérias se
multiplicam dentro dos macrófagos e arrebentam essas células, indo parar no sangue e no sistema
linfático. O fator letal, liberado
por elas, se liga a certas proteínas
das células do hospedeiro e causa
uma reação inflamatória colossal,
levando a pessoa à morte.
Acontece que a toxina é "projetada" para se encaixar de forma
exata nas proteínas celulares que
provocam a inflamação. O que
Montecucco e seus colegas fizeram foi oferecer ao fator letal uma
ratoeira molecular -substâncias
que possuem o mesmo "encaixe"
em sua estrutura e que não pertencem às células do hospedeiro,
mas que são capazes de entrar nelas e deter a proteína fatal.
"Esses dois inibidores se ligam
ao fator letal no lugar das proteínas celulares às quais ele se ligaria,
impedindo sua atividade", diz
Montecucco. Dessa forma, em vez
de desencadear a inflamação, a
toxina do antraz se junta às moléculas criadas pelos italianos e acaba ficando inutilizada.
Teste rápido
Os pesquisadores também desenvolveram um peptídeo (um
pedaço de proteína) que fica fluorescente quando é degradado pelo fator letal. Para testar com rapidez novas drogas contra o antraz, a idéia é unir esse peptídeo à molécula que está sendo testada. Se a mistura ficar fluorescente, é sinal de que a toxina ainda está ativa.
"Nossa esperança é bloquear a ação do fator letal, fazendo com que ainda seja possível usar os antibióticos. Ou seja, a idéia é fazer com que o paciente sobreviva nos estágios finais do antraz, para que a infecção possa ser eliminada", diz o pesquisador italiano.
A intenção de Montecucco é começar a testar uma série de substâncias que inibem a toxina em animais infectados com a bactéria do antraz nos próximos meses e,
depois, em humanos. "Ainda não sabemos se esses inibidores são
ativos no organismo", ressalva.
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