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Tráfico leva 50% de tesouro do Araripe
Comércio ilegal de fósseis em chapada nordestina afeta mais pterossauros; 14 das 24 espécies estão no exterior
"Exportação" atrapalha
a pesquisa brasileira;
moradores de baixa
renda usam venda como
alternativa econômica
Mark Witton - 13.out.2009/Divulgação
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Pterossauro do Araripe; hoje, fóssil está no Reino Unido
DO ENVIADO AO RIO
Pesquisadores acabam de
mapear o tamanho do estrago que o comércio ilegal de
fósseis na bacia do Araripe,
no Nordeste, já causou à
ciência brasileira.
Das 41 espécies de vertebrados terrestres extintos já
descobertas no Araripe, 21
têm seus exemplares de referência armazenados em museus do exterior. Ou seja,
cientistas do país precisam ir
para a Europa, os Estados
Unidos e o Japão para poder
estudar tais bichos direito.
O caso é ainda mais grave
no caso dos pterossauros,
répteis voadores que são o
símbolo da riqueza fóssil do
Araripe. De 24 espécies descobertas, 14 têm seus exemplares de referência (os ditos
holótipos) no exterior.
Cada novo trabalho sobre
um fóssil, principalmente
quando se quer entender as
relações de parentesco entre
os seres vivos, envolve a
comparação com os holótipos. "O custo disso para o
cientista brasileiro nesses casos é algo muito sério", diz
um dos autores do estudo,
Felipe Augusto Correa Monteiro, mestrando da Universidade Federal do Ceará.
Mais complicado ainda:
no caso do tráfico de fósseis
do Araripe, o que é vendido
ilegalmente para museus e
colecionadores estrangeiros
"é sempre o material com
melhor estado de preservação", afirma outro membro
do grupo, Felipe Lima Pinheiro, mestrando da Universidade Federal do Rio
Grande do Sul.
No caso do Araripe, essa
preservação pode chegar a
níveis espetaculares, revelando tecidos moles (pele e
até vasos sanguíneos dos bichos de 100 milhões de
anos). "É o material que acaba dando capa da "Nature" e
da "Science" para o paleontólogo", diz Marcos Fontenele
Sales, da Universidade Federal do Ceará, referindo-se às
duas principais revistas científicas do mundo.
Embora o número de holótipos surrupiados tenha sido
mapeado só agora, a situação já é conhecida há anos.
Para os pesquisadores, o único jeito de contorná-la é dar
alternativas de renda à população pobre da área, que hoje
repassa os fósseis a atravessadores por uma ninharia.
(REINALDO JOSÉ LOPES)
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