São Paulo, sábado, 25 de agosto de 2007

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Astrônomos detectam grande "rombo" no cosmo

Buraco de 1 bilhão de anos-luz de diâmetro não tem nenhum tipo de matéria

Escala do vazio está além do previsto pelos cosmólogos, diz cientista americano; estudo descarta "defeito de fabricação" no Universo

DA REDAÇÃO

Nunca na história deste Universo se viu um buraco tão grande. Astrofísicos americanos descobriram um rombo de nada menos que 1 bilhão de anos-luz de diâmetro no tecido do cosmo. Ali não há galáxias, estrelas, gás ou poeira. Nem mesmo a misteriosa matéria escura foi encontrada por lá.
O buraco está localizado próximo à constelação de Eridanus, e os cientistas não sabem por que ele surgiu. Só sabem que nada nessa escala estava previsto pelos cosmólogos.
"O Universo tem buracos vazios normalmente, assim como a Terra tem morros", diz Lawrence Rudnick, do Departamento de Física da Universidade de Minnesota, co-descobridor do rombo. "Nós sabemos que a Terra tem alguns raros morros grandes, de 8.000 metros de altura. Mas isto é como topar com um morro de 80 mil metros", compara. Ele e duas colegas descrevem o achado em artigo a ser publicado na revista "Astrophysical Journal".
Já se sabia que havia alguma coisa estranha naquela região do céu. O lugar é chamado de "ponto frio", porque ali a temperatura da chamada radiação cósmica de fundo é mais baixa.
A radiação cósmica de fundo é uma espécie de eco do Big Bang que banha todo o Universo. Essa radiação já é extremamente fria (está apenas 2,7 graus Celsius acima do zero absoluto), e variações mínimas em sua estrutura e temperatura determinam a estrutura do cosmo. As galáxias, por exemplo, estão distribuídas nos pontos mais quentes dela.
O tal "ponto frio" não parece assim tão mais frio. "É uma diferença da ordem de 70 partes em 100 mil", diz Rudnick. Mas, comparado ao restante da radiação de fundo, ele é realmente anormal. Isso chamou a atenção dos cientistas.
Uma das hipóteses para a formação do ponto frio era que ele fosse um "defeito de fabricação" na radiação cósmica de fundo. "Se fosse isso seria um desafio para a cosmologia, porque nada assim estava previsto", diz Laerte Sodré, cosmólogo do Instituto Astronômico e Geofísico da USP.
Usando dados do VLA Sky Survey, um programa de varredura dos céus que usa um conjunto de radiotelescópios conhecido como Very Large Array, o trio americano viu que o número de fontes luminosas na região do ponto frio caía drasticamente, algo consistente com a presença de um buraco. Conclusão: a radiação de fundo não tem defeito -foi alterada durante a expansão do cosmo.
As teorias cosmológicas podem respirar aliviadas? Segundo Sodré, ainda não. "Todos os modelos indicam que os buracos devem ser menores que 100 milhões de anos luz. Como explicar isso?"
(CLAUDIO ANGELO)

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