|
Próximo Texto | Índice
Astrônomos detectam grande "rombo" no cosmo
Buraco de 1 bilhão de anos-luz de diâmetro não tem nenhum tipo de matéria
Escala do vazio está além do
previsto pelos cosmólogos,
diz cientista americano;
estudo descarta "defeito de
fabricação" no Universo
DA REDAÇÃO
Nunca na história deste Universo se viu um buraco tão
grande. Astrofísicos americanos descobriram um rombo de
nada menos que 1 bilhão de
anos-luz de diâmetro no tecido
do cosmo. Ali não há galáxias,
estrelas, gás ou poeira. Nem
mesmo a misteriosa matéria
escura foi encontrada por lá.
O buraco está localizado próximo à constelação de Eridanus, e os cientistas não sabem
por que ele surgiu. Só sabem
que nada nessa escala estava
previsto pelos cosmólogos.
"O Universo tem buracos vazios normalmente, assim como
a Terra tem morros", diz Lawrence Rudnick, do Departamento de Física da Universidade de Minnesota, co-descobridor do rombo. "Nós sabemos
que a Terra tem alguns raros
morros grandes, de 8.000 metros de altura. Mas isto é como
topar com um morro de 80 mil
metros", compara. Ele e duas
colegas descrevem o achado em
artigo a ser publicado na revista
"Astrophysical Journal".
Já se sabia que havia alguma
coisa estranha naquela região
do céu. O lugar é chamado de
"ponto frio", porque ali a temperatura da chamada radiação
cósmica de fundo é mais baixa.
A radiação cósmica de fundo
é uma espécie de eco do Big
Bang que banha todo o Universo. Essa radiação já é extremamente fria (está apenas 2,7
graus Celsius acima do zero absoluto), e variações mínimas
em sua estrutura e temperatura determinam a estrutura do
cosmo. As galáxias, por exemplo, estão distribuídas nos pontos mais quentes dela.
O tal "ponto frio" não parece
assim tão mais frio. "É uma diferença da ordem de 70 partes
em 100 mil", diz Rudnick. Mas,
comparado ao restante da radiação de fundo, ele é realmente anormal. Isso chamou a
atenção dos cientistas.
Uma das hipóteses para a formação do ponto frio era que ele
fosse um "defeito de fabricação" na radiação cósmica de
fundo. "Se fosse isso seria um
desafio para a cosmologia, porque nada assim estava previsto", diz Laerte Sodré, cosmólogo do Instituto Astronômico e
Geofísico da USP.
Usando dados do VLA Sky
Survey, um programa de varredura dos céus que usa um conjunto de radiotelescópios conhecido como Very Large Array, o trio americano viu que o
número de fontes luminosas na
região do ponto frio caía drasticamente, algo consistente com
a presença de um buraco. Conclusão: a radiação de fundo não
tem defeito -foi alterada durante a expansão do cosmo.
As teorias cosmológicas podem respirar aliviadas? Segundo Sodré, ainda não. "Todos os
modelos indicam que os buracos devem ser menores que 100
milhões de anos luz. Como explicar isso?"
(CLAUDIO ANGELO)
Próximo Texto: Brasileiro mostra como sono consolida memória Índice
|