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Unesp cria curativo natural para osso
Reabsorvível, estrutura de celulose promete substituir placas de metal; fêmur de rato se reconstruiu com rapidez
Perfurações nos ossos foram revertidas; testes com lesões maiores e em humanos acontecerão nos próximos anos
RICARDO MIOTO
DE SÃO PAULO
Um biomaterial desenvolvido por cientistas da Unesp,
no interior de São Paulo, promete acabar, no futuro, com
a necessidade de placas metálicas para as vítimas de lesões ósseas.
Eles criaram uma estrutura baseada em celulose. A ela
são agregados colágeno (proteína que ajuda a sustentar
os ossos) e moléculas especializadas em promover o
crescimento ósseo. O "curativo", portanto, estimula o osso a se recuperar rápido.
COSTURA E DEIXA
A eficiência da estrutura
foi testada em ratos. Com
uma broca, os cientistas
abriam um furo no fêmur dos
animais. Preenchiam, então,
a área danificada com o biomaterial, que é bem maleável. "Você o coloca direto no
osso, ajeita, costura, fecha e
deixa lá", diz Reinaldo Marchetto, bioquímico da Unesp
de Araraquara.
Entre uma e duas semanas
depois, os animais eram sacrificados, e os cientistas
avaliavam se os seus ossos
estavam recuperados.
Eles não só estavam inteirões como, ao que tudo indica, o biomaterial tinha sido
absorvido pelo corpo -mas
os cientistas ainda querem
mais estudos para confirmar
esse desaparecimento.
"Por enquanto, prefiro dizer apenas que tudo indica
que ele seja reabsorvível",
diz Sybele Saska, cirurgiã-dentista que é aluna de doutorado de Marchetto e responsável pela pesquisa.
A velocidade da recuperação foi surpreendente, diz
Marchetto. "Em condições
normais, levaria no mínimo o
dobro do tempo, poderia
chegar até a 60 dias."
Claro que pequenas perfurações em um osso grande
como o fêmur são diferentes
das grandes fraturas de um
motoqueiro que se esborracha na rua, por exemplo.
Os cientistas, porém, estão
entusiasmados. Primeiro
porque os ossos de ratos são
parecidos com os humanos.
Aplicações de menor porte
em pessoas, como em leves
fraturas no rosto, poderiam
vir primeiro, diz Marchetto.
"Hoje você coloca componentes metálicos para promover a regeneração espontânea, e depois precisa fazer
uma nova cirurgia para retirá-los. Com o nosso biomaterial, em 15 dias recalcificou,
sem precisar abrir de novo."
Testes com humanos devem começar nos próximos
anos. O desafio será tratar lesões grandes (como ossos
importantes quebrados).
Para isso, os cientistas vão
ter de achar um jeito de modelar a membrana de celulose, hoje pequena e muito flexível, em uma estrutura tridimensional maior, mais fixa
-assim, ela vai recuperar
mais do que pequenos furos.
Saska, que ainda quer ver
seu biomaterial no SUS, deseja dedicar seu pós-doutorado a esse próximo passo.
Os cientistas já pediram a
patente do biomaterial. Participaram da sua criação também os professores da Unesp
Ana Maria Gaspar e Younes
Messaddeq, entre outros.
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