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MEDICINA
Imunização desenvolvida pela USP contra parasita causador de tumor de colo de útero impediu infecção em roedor
Vacina de DNA combate vírus de câncer
CRISTINA AMORIM
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Uma equipe de pesquisadores
da Universidade de São Paulo está
desenvolvendo uma vacina de
DNA para combater o tipo mais
letal do HPV (papilomavírus humano), o 16, principal causador
do câncer de colo de útero. Testes
preliminares do produto mostram que a imunização impediu
que todos os camundongos testados fossem infectados, e eliminou
tumores em 40% dos casos.
"Queremos atingir uma eficiência de 100%", afirma o líder do
projeto, Luís Carlos de Souza Ferreira, do Departamento de Microbiologia da universidade.
O câncer de colo de útero é o segundo tipo que mais mata mulheres no mundo (o primeiro é o de
mama). São 288 mil mortes por
ano, cerca de 8.000 no Brasil. Quase 80% dos casos são diagnosticados em países pobres.
Entre as mais de 30 cepas do vírus conhecidas pelos cientistas, o
HPV16 é a mais perigosa -e,
portanto, o alvo de diversas iniciativas profiláticas e terapêuticas
de instituições públicas e privadas
em todo o mundo.
Ação e reação
O que Ferreira busca é estimular
uma célula de defesa do corpo,
para que ela aprenda a identificar
proteínas que sinalizem a presença do vírus e possa, assim, destruir as células doentes.
Para isso, ele inseriu em um
plasmídeo (um anel de DNA)
dois genes do vírus, o E6 e o E7,
além de um gene que expressa
uma proteína do vírus do herpes
genital, a fim de facilitar a expressão das informações genéticas.
Esses dois genes são os responsáveis por alterar o ciclo de crescimento celular na epiderme. As
proteínas geradas por eles impedem a ação de outras duas, a P53 e
a PRb, que controlam o ritmo de
multiplicação de novas células.
Assim, quando o vírus infecta as
células da base da epiderme, ele
garante uma replicação irregular,
além de prolongar a vida das versões mutantes. Em algumas mulheres, tal processo induz o surgimento de tumores.
O plasmídeo foi injetado nos camundongos e as proteínas E6 e E7
foram "ligadas" nas células musculares do animal, ativando o sistema imunológico de forma suficiente para que um certo linfócito,
o TCD8+, aprenda que a presença
delas significa perigo para o corpo. A partir daí, o defensor começa a atacar as células que estão infectadas, inclusive as tumorais.
"Nesse ponto, nossa vacina se
diferencia da maioria das vacinas
terapêuticas, pois não há produção de anticorpos", diz Ferreira.
"Vacinas genéticas ativariam uma
resposta citotóxica da paciente",
quando tal reação não acontece
de naturalmente. Cerca de 10%
das mulheres não apresentam
reação imunológica ao HPV.
Justamente por isso, ele acredita
que produtos como o desenvolvido em seu laboratório terão sua
importância reconhecida em alguns anos, com o advento de procedimentos diagnósticos para
predisposição genética. "Com o
avanço da genômica, poderemos
fazer um teste e perceber a deficiência da paciente em apresentar
uma resposta adequada do sistema imunológico para combater o
vírus. Essa pessoa é candidata a
receber uma vacina que estimule
a resposta citotóxica em caso de
infecção", afirmou.
Primeiros passos
Pelo menos 50 camundongos já
receberam de uma a quatro doses
da vacina, ministrada por injeções intramusculares. O melhor
resultado obtido até o momento
-sucesso em 40% dos casos de
câncer induzidos pelos cientistas
e proteção total a partir da primeira dose- apenas coloca a equipe
em um caminho aparentemente
correto. Ela experimenta atualmente novas configurações dos
genes no plasmídeo, com o objetivo de fazer regredir o câncer em
todos os animais imunizados.
"Pessoalmente, acho que o uso
de uma vacina de DNA contra o
HPV16, como a que desenvolvemos, é bastante restrito. Então,
vejo o processo como uma forma
de adquirir conhecimento e desenvolver tecnologias no Brasil."
Mesmo assim, os cientistas ainda tentam estimular uma reação
imunológica à proteína do herpes. Caso consigam, eles terão um
produto, ainda que incipiente, capaz de combater dois dos vírus
transmitidos por relações sexuais.
O herpes genital é uma das
doenças oportunistas observadas
com freqüência em soropositivos.
Além disso, as úlceras que provoca aumenta chance de transmissão e infecção pelo HIV, vírus
causador da Aids.
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