São Paulo, sexta-feira, 25 de outubro de 2002

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MEDICINA

Hormônio sintético evitou perda óssea em roedor, sem os efeitos colaterais vistos nos tratamentos convencionais

Composto reduz risco da terapia hormonal

SALVADOR NOGUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Ele parece ter o jeito e os benefícios do estrógeno, mas sem os perigosos efeitos colaterais. Um hormônio sintético desenvolvido por cientistas norte-americanos pode vir a se tornar uma alternativa mais segura aos polêmicos tratamentos de reposição hormonal, para tratamento de efeitos da menopausa. Mas isso só em cinco ou seis anos, e se tudo correr bem, afirmam os cientistas.
A pesquisa ainda está em estágio muito preliminar, mas os resultados são animadores. O estudo feito por um grupo da Universidade do Arkansas para Ciências Médicas (EUA) e publicado hoje na revista americana "Science" (www.sciencemag.org) relata a ação da droga em camundongos.
"Conduzimos os experimentos por seis semanas, o que seria o equivalente a quatro ou cinco anos de terapia em mulheres", relata Stravos Manolagas, líder da equipe do Arkansas. "Normalmente esse é o tempo-padrão para experimentos desse tipo com roedores", diz César Eduardo Fernandes, presidente da Sociedade Brasileira do Climatério.
Segundo os médicos, a nova substância, que ganhou o nome de estreno, obteve bons resultados para conter a perda óssea em camundongos que tiveram seus ovários extraídos. Por outro lado, não provocou alteração alguma detectável nos tecidos ligados aos órgãos reprodutivos.
Caso se confirmem em humanos os resultados em animais, a substância pode se tornar uma alternativa mais segura e menos polêmica aos tratamentos de reposição hormonal, atual alvo de controvérsia entre os médicos. Mas ainda há muito chão pela frente.
"Ainda temos diversos testes pré-clínicos para fazer, antes que essa droga seja testada em humanos", diz Manolagas. "Os testes com animais devem nos tomar mais uns dois a três anos. Depois, os testes clínicos também devem consumir de dois a três anos."

Polêmica
Alternativas aos tratamentos tradicionais de reposição hormonal são uma boa pedida -o tema está mais quente do que nunca, com sucessivos cancelamentos de testes clínicos e acalorados debates nos EUA e no Reino Unido.
Um número crescente de médicos começa a acreditar que as terapias que envolvem a combinação dos hormônios estrógeno e progesterona como forma de combater a perda óssea iniciada com a menopausa podem não valer a pena, diante de riscos associados a esses tratamentos.
Isso porque os hormônios não só agem sobre os ossos, promovendo sua manutenção, mas também sobre os órgãos reprodutivos, algumas vezes levando a um processo que culmina com a aparição de células cancerosas. Como o estreno não atua nesses órgãos, parece evitar o perigo.

Potencial
"O trabalho parece ser bastante promissor, embora não parta de uma estratégia totalmente inédita", comenta Fernandes. "Ao que tudo indica, a molécula é similar a outros fármacos que já existem no mercado, os Serms [Moduladores Seletivos dos Receptores de Estrógeno, na sigla em inglês], mas parece ser parcialmente derivada de um hormônio natural", aponta o brasileiro.
"A definição mais aproximada seria a de um hormônio sintético", diz Manolagas, que é grego de nascimento, mas já está há 25 anos nos EUA. "É um esteróide que não é encontrado nessa forma na natureza", afirma.



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