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Aquecimento custará 1 ano de crescimento ao Brasil
Em 2050, renda anual de brasileiro terá perda de R$ 534 a R$ 1.600, diz estudo
Relatório projeta impacto econômico da crise do clima no país pela primeira vez; desigualdades setoriais e regionais devem se agravar
RAFAEL GARCIA
DA REPORTAGEM LOCAL
Em 2050, cada cidadão brasileiro perderá de R$ 534 e R$
1.600 de sua renda anual por
causa da mudança climática,
indica um estudo feito por 11
instituições de pesquisa. A redução no PIB nacional será de
0,5% a 2,3%, o equivalente a
perder um ano de crescimento.
O trabalho, divulgado ontem,
mostra que Norte e Nordeste
tendem a ser mais afetados pelo aquecimento global daqui a
quatro décadas, e que o aumento das desigualdades sociais e
regionais será o legado mais
cruel da crise do clima no país.
Coordenado pelos economistas Jacques Marcovitch, da
USP, Sérgio Margulis, do Banco
Mundial, e Carolina Dubeux,
da Coppe/UFRJ, com financiamento do governo britânico, o
estudo "Economia do Clima"
pôs o problema em perspectiva
nacional pela primeira vez.
Ele é inspirado no Relatório
Stern, o primeiro grande cálculo do impacto da mudança climática na economia global, feito em 2006.
Para chegar aos valores finais, os pesquisadores aglutinaram estimativas de perdas
econômicas como a da agropecuária, que sofrerá mais com
secas, e das áreas costeiras, que
sofrerão mais com ressacas e o
aumento do nível do mar.
O trabalho simula dois cenários de crescimento econômico
para Brasil: um baseado em
uma economia "limpa", que
respeita o ambiente e emite
menos CO2, e outro em uma
economia suja. O resultado
mostra uma solução para o
problema expresso há pouco
pelo presidente Lula, de que a
crise do clima se deve ao fato de
que "o mundo é redondo".
"Se o Brasil fizer um esforço
muito grande para reduzir a
emissão dos gases do efeito-estufa, mas os outros países não
fizerem nada, o clima vai mudar aqui de um jeito ou de outro", explica Dubeux. "Só a totalidade dos países pode mitigar a mudança do clima."
Contudo, se o Brasil adotar
uma economia mais limpa, sairá ganhando de um jeito ou de
outro, pois o modelo ecologicamente correto também é economicamente mais robusto. "O
recado é que existe espaço para
crescer limpo e crescer firmemente", diz Margulis.
A diferença entre os dois modelos é que o limpo prevê uma
ação mais eficiente para conter
o desmate, mais investimento
em transporte público em detrimento do individual, adoção
de uma matriz energética com
menos termelétricas, adoção
de processos industriais ambientalmente corretos, mais
transporte ferroviário de carga
contra caminhões e outras medidas. Foi estipulado também
um investimento maior em
educação. "É um jeito de simular que a população passa a ter
uma maior consciência ambiental", explica o economista.
Na projeção feita pelos pesquisadores, o PIB do país em
2050 seria de R$ 15,2 trilhões,
no cenário sujo, contra R$ 15,6
trilhões no cenário limpo. Essa
diferença tende a se ampliar
muito na segunda metade do
século, mas fazer previsões para depois disso envolve muita
incerteza, e os cientistas trataram de apenas alguns aspectos
nesse segundo período.
Sofrimento desigual
Um dos problemas mais claros é o estresse hídrico, que afeta tanto a agropecuária quanto
a geração de eletricidade, principalmente no Nordeste. Nessa
região, a bacia do rio Parnaíba,
com importantes hidrelétricas,
pode perder 90% da vazão até
2100. A capacidade de pastoreio do gado de corte na região
pode cair em 25%.
Segundo Margulis, a desigualdade entre regiões no impacto da mudança climática
tende a ser agravada por uma
desigualdade entre setores. Enquanto a agricultura deve sofrer muito, sobretudo no Centro-Oeste, o setor de serviços
-bancos, principalmente-
não perderia quase nada.
O novo estudo traça também
um panorama das oportunidades em investimentos que ajudem o país a se adaptar à mudança do clima e a minimizar
suas emissões de gases-estufa.
Neste segundo item, como
esperado, o combate ao desmatamento ganha papel crucial.
Segundo Margulis, se pecuaristas na Amazônia recebessem
apenas US$ 3 por tonelada de
carbono que o desmatamento
emite ao abrir pastos, derrubar
árvores já não traria compensações para o agronegócio.
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