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Atividade cerebral "offline" sustenta memória duradoura
Estudo mostra que aprendizado persistente depende de ativação de área no cérebro 12 horas e 24 horas após treino
Experimento de cientistas do Rio Grande do Sul usou teste de memorização em ratos; grupo está ganhando projeção internacional
RAFAEL GARCIA
DA REPORTAGEM LOCAL
Um grupo brasileiro de neurocientistas mostrou que os
mecanismos ligados à persistência de uma memória entram
em funcionamento várias horas depois de o indivíduo tê-la
adquirido. A estrutura cerebral
que determina a estocagem daquela informação no longo prazo, o hipocampo, precisa trabalhar em um momento 12 horas
após a aquisição da lembrança
e, de novo, 24 horas depois. Tudo acaba de ser demonstrado
em experimentos com ratos.
A descoberta está descrita
em um trabalho liderado por
Jorge Medina e Iván Izquierdo,
da PUCRS (Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do
Sul), publicado no início do
mês na revista "PNAS". Os
cientistas, que já vinham descrevendo o fenômeno em estudos publicados ao longo dos últimos anos, estão conseguindo
mostrar que o cérebro possui
uma espécie de agenda de atividades para consolidar uma memória após a sua formação.
"Nós já sabíamos que havia
duas fases onde havia intensificação da expressão gênica no
hipocampo, uma logo depois do
treino [para memorização] e
uma três ou quatro horas depois", diz Izquierdo. "Agora estamos vendo que existe uma
outra fase que se encarrega não
da consolidação da memória,
mas da persistência dela, 12 horas e 24 horas depois."
Hora certa
Para investigar quais eram os
momentos em que o cérebro
estavam atuando "offline" para
consolidar uma memória
-operando sem estímulo direto do contexto de aprendizagem- os cientistas deram às
cobaias uma droga que inibia a
produção de proteínas no hipocampo. Para efeito de comparação, cada rato recebia o fármaco num intervalo diferente
após o treino de memória.
Este consiste, basicamente,
em uma caixa onde os animais
tomam um leve choque nas patas ao pisar uma área específica. Quando o rato reluta em pisar a região eletrificada mesmo
após passar uma temporada fora da caixa, os cientistas sabem
que ele reteve a memória adquirida quando esteve lá.
"O choque tem de ser pequeno para produzir o aprendizado", explica Izquierdo, que tem
de seguir as normas éticas para
pesquisa com animais determinadas pela universidade. "Se o
choque for muito forte, também, acaba produzindo estresse, e o animal não aprende."
Ratos que recebiam a droga
12 horas e 24 horas após o treinamento no teste, porém, raramente conseguiam se lembrar
da área a ser evitada na gaiola.
Examinando o cérebro das cobaias após o teste, Izquierdo e
colegas comprovaram que o hipocampo dos animais de fato
estava realizando uma atividade especial naquele momento.
A prova disso é que um gene conhecido por agir na formação
de sinapses de longo prazo, o c-Fos, estava mais ativo naqueles
momentos.
A descoberta do grupo de Izquierdo é a segunda a ganhar as
páginas da "PNAS", o periódico
da Academia de Nacional de
Ciências dos EUA (leia texto ao
lado). Com estudos nessa e outras publicações importantes, o
grupo tem conseguido aumentar sua projeção internacional.
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