São Paulo, terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

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Análise química do cabelo pode indicar o paradeiro das pessoas

Teste consegue rastrear origem geográfica da água que compõe organismo

RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL

Analisando as proporções de dois elementos químicos no cabelo de uma pessoa foi possível a cientistas dos EUA indicarem em que região do país ela vive, com alto índice de acerto.
O estudo decorre das diferenças físico-químicas entre diversas fontes de água de torneira. A nova técnica tem potencial de ser usada na ciência forense, em antropologia e arqueologia, dizem os cientistas.
A base do estudo é a noção de que uma pessoa "é o que ela come" -ou bebe, como lembra Thure Cerling, da Universidade de Utah, um dos autores de um estudo sobre a técnica na edição de hoje da revista "PNAS". Ou seja, os elementos químicos que constituem a comida e a água vão parar no organismo de quem comeu e bebeu.
Um mesmo elemento tem variantes naturais com diferentes "massas atômicas", isto é, com maior ou menor número das nêutrons no núcleo do átomo. É o caso do mais leve urânio-235 e do mais pesado urânio-238. Cada uma dessas variantes é chamada de "isótopo".
A comparação da água de torneira com os cabelos mostrou uma correlação de 85% na composição isotópica. O modelo "pode ser aplicado em outros países", disse Cerling à Folha. Os cientistas já sabiam que a relação entre os isótopos de elementos como carbono, nitrogênio e enxofre em seres humanos é fortemente correlacionada com a sua dieta.
Por exemplo, na Amazônia se consome mais peixe; no Rio Grande do Sul se come mais carne bovina. "A diferença entre peixe e carne aparece nos isótopos de carbono e nitrogênio", diz Cerling. "Ela pode ser usada em amostras antropológicas ou arqueológicas para lidar com a mesma questão."
Mas não há uma maneira fácil de relacionar esses isótopos com a origem geográfica da comida. Os cientistas precisam de elementos mais fáceis de rastrear. Cerling e colegas usaram como modelo os dois elementos constituintes da água, hidrogênio e oxigênio. E foram comparar a composição isotópica da água e do cabelo.
Os pesquisadores coletaram amostras de água de torneira e de cabelos em barbearias de 65 cidades de 18 Estados americanos. A idéia é que a maior parte da água consumida por uma pessoa seja de origem local.
Testando a água foi possível ver que no norte de Montana a água é isotopicamente mais leve, e que a do sul de Oklahoma é isotopicamente mais pesada.


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