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Metáforas de crimes influenciam formas de punição
Estudo mostra que associações metafóricas como "besta" e "vírus" mudam a percepção das pessoas sobre uma mesma violência
HÉLIO SCHWARTSMAN
ARTICULISTA DA FOLHA
Qual a solução para o crime? Pôr mais policiais nas
ruas e trancafiar os bandidos
ou investir em programas de
renda e educação?
Não será surpresa constatar que as respostas das pessoas variam conforme padrões bem conhecidos.
Homens, por exemplo,
tendem a ser mais policialescos do que mulheres; pessoas mais à esquerda costumam preferir medidas consideradas preventivas.
Pesquisadores da Universidade Stanford encontraram uma variável mais poderosa que o sexo ou as preferências políticas: as metáforas. A forma como descrevemos a criminalidade faz mais
diferença nas respostas do
que os demais fatores.
Paul Thibodeau e Lera Boroditsky mostraram num artigo de psicologia publicado
esta semana na "PLoS One"
que, se o crime é comparado
a uma besta selvagem, aumentam as soluções repressivas; se estiver relacionado
a um vírus, por exemplo,
crescem as preventivas.
A primeira descrição estimula a ideia de caçar e enjaular e, por consequência, adotar leis mais duras. Já a segunda favorece a noção de
que as causas reais devem
ser buscadas, e a comunidade, inoculada contra o mal.
Por muito tempo, metáforas foram vistas como um floreio linguístico, no máximo
um modo engenhoso para
explicar conceitos abstratos.
Nos últimos anos, contudo, trabalhos em psicologia e
neurociência vinham indicando que nós pensamos
através de metáforas.
Autores importantes como
George Lakoff chegaram a
sustentar que metáforas têm
existência física no cérebro.
O que a pesquisa de Thibodeau e Boroditsky mostra de
forma empírica é que elas
também são capazes de influenciar fortemente a forma
como tentamos solucionar
problemas complexos.
No experimento principal
da dupla, 485 estudantes foram divididos em dois grupos. Cada um deles leu uma
de duas versões de um texto
sobre o aumento da criminalidade em Addison, uma cidade fictícia. As diferenças
eram mínimas.
A primeira variante comparava o crime a uma "besta
selvagem". A segunda usava
a imagem de um "vírus". Em
seguida, vinham dados estatísticos inventados.
Após ler o texto, os pesquisadores perguntaram aos estudantes como o problema
poderia ser resolvido. Para
65%, a resposta era na linha
do mais policiamento.
Entre os que leram a metáfora da besta, porém, 74%
abraçaram a linha repressiva; contra 56% dos que receberam a versão vírus.
Experimentos com outras
populações exploraram mais
esses achados. Mostraram,
por exemplo, que as pessoas
não se dão conta do enquadramento metafórico que fazem dos crimes.
A maioria diz que chegou à
conclusão que chegou a partir dos dados estatísticos.
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