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ARTIGO
Pontes está longe de ser o prato forte do programa espacial brasileiro
JOSÉ MONSERRAT FILHO
ESPECIAL PARA A FOLHA
Não temos, nem teremos, em
futuro previsível, um programa
espacial tripulado. Não precisamos sonhar tão alto para atender
às nossas necessidades de conhecimentos geoespaciais para fomentar o desenvolvimento nacional, nosso imperativo maior.
Vale para o Brasil o que disse o
pai do programa espacial da Índia, Vikram Sarabhai: "Não temos a fantasia de competir com
países economicamente avançados na exploração da Lua ou de
planetas ou com vôos tripulados.
Mas, estamos convencidos de
que, se nos cabe desempenhar um
papel importante, no país e na comunidade das nações, não devemos ficar atrás de ninguém na
aplicação das tecnologias avançadas nos problemas efetivos do homem e da sociedade".
Índia e Brasil se iniciaram nas
atividades espaciais no começo
doa anos 1960. A Índia está hoje
bem à frente, com um orçamento
espacial beirando meio bilhão de
dólares -mais de cinco vezes o
nosso. Produz e lança os próprios
foguetes e satélites. Coloca-os, inclusive, na órbita geoestacionária.
Certo, a Índia também teve um
astronauta: Rakesh Sharma, que
voou numa nave Soyuz em 1984.
Sua principal ocupação foi tirar
fotos multiespectrais do norte de
seu país, em missão de apoio à
construção de Usinas Hidrelétricas no Himalaia. Era astronauta
convidado, não pagante, e seu trabalho a bordo teve vinculação direta com um projeto estratégico
para o desenvolvimento da Índia.
O Brasil também está comprometido a "desenvolver e utilizar
tecnologias espaciais na solução
de problemas nacionais".
Ocorre que, em 1997, tivemos de
firmar um estranho acordo com
os EUA, quando da visita do então presidente Bill Clinton. Assumimos os encargos de fabricar
peças para a parte americana da
ISS, no valor de cerca de US$ 120
milhões, e de pagar a formação de
um brasileiro na Nasa, para voar
num ônibus espacial. Até hoje
não produzimos as peças. Mas o
astronauta seguiu treinando.
Em 2003, o nosso foguete VLS-1
explodiu no Centro de Alcântara,
ceifando 21 vidas. O presidente
Lula prometeu a reconstrução do
VLS-1 e novo lançamento antes
do fim de seu mandato (2006). Os
russos vislumbraram um bom
negócio e propuseram atualizar o
VLS-1. Depois, ofereceram a ida
do brasileiro à ISS pela nave Soyuz, por cerca de US$ 10 milhões.
O governo comprou o pacote.
O acordo sobre o VLS-1 ainda
não foi assinado, mas o astronauta já está subindo. A mídia em geral o trata como o "prato forte" de
nosso programa espacial. Não é e
está longe de ser.
Cabe ao próprio desfazer o engano. E dar visibilidade ao que de
mais relevante fazemos no espaço
hoje: conhecer nossos recursos
naturais, graças ao acordo com a
China, que já lançou dois satélites
de sensoriamento remoto (Cbers-1 e 2) e lançará mais três até 2010;
introduzir a base de Alcântara no
mercado mundial de lançamentos comerciais, com base no acordo com a Ucrânia e com outros
países também interessados em
lançar foguetes dali; construir outros satélites e um geoestacionário, indispensável às nossas comunicações; construir foguetes, a
começar pelo novo VLS-1, capazes de nos abrir novas portas no
espaço e aqui na Terra à nossa indústria. São objetivos úteis e produtivos, de longo alcance: fomentam a competência do país.
Esse discurso daria sentido à
missão do astronauta.
José Monserrat Filho, advogado e jornalista, é vice-presidente da Sociedade
Brasileira de Direito Espacial
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