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MEDICINA
Pesquisadores acusam Banco Mundial de liberar menos verba que o prometido e inflar estatísticas; instituição nega
Bird forja dados sobre malária, diz estudo
DA REDAÇÃO
Para um grupo internacional de
pesquisadores, o esforço milionário encabeçado pelo Bird (Banco
Mundial) para combater a malária desde o ano 2000 está sendo
inflado pela instituição, a qual
também utilizaria estatísticas enganosas para ressaltar o sucesso
da redução de casos da doença.
A acusação, negada parcialmente pelo banco, foi publicada
ontem na revista médica "The
Lancet", uma das mais prestigiosas do mundo. A publicação do
artigo e da resposta do Banco
Mundial foi programada para
coincidir com o Dia da Malária na
África (o continente é o mais atingido pela moléstia, que mata cerca de 1 milhão de pessoas por ano
e afeta hoje por volta de 500 milhões no mundo todo).
"O banco fracassou em ceder à
África o financiamento para o
controle da malária que tinha
prometido e, em vez de admitir isso com clareza, escondeu o fato
usando estatísticas pouco transparentes e contraditórias", escreveram os 12 pesquisadores, liderados pelo imunologista e advogado Amir Attaran, da Universidade de Ottawa (Canadá).
Attaran e seus colegas se referem à estratégia global de combate à malária do Bird, uma promessa feita em 2000 aos governos africanos, cuja intenção era investir
entre US$ 300 milhões e US$ 500
milhões no combate à doença só
na África. No entanto, ao longo
dos anos seguintes, as estatísticas
do próprio banco mostram uma
redução significativa no que realmente foi investido. Os pesquisadores calculam que, na verdade, o
crédito ficou entre US$ 100 milhões e US$ 150 milhões.
Além disso, os pesquisadores
dizem que o banco não é honesto
com os dados sobre os sucessos
que esse financiamento conseguiu. No Brasil, por exemplo, o
Banco Mundial fala em uma redução de 60% dos casos de malária entre 1989 e 1996, enquanto o
Ministério da Saúde considera
que a queda foi de cerca de 20%.
Suprotik Basu, especialista-sênior em saúde pública do Bird,
disse à Folha que a acusação não
procede. "O banco não fabrica estatísticas. Nós retiramos esses dados de um estudo publicado há
cinco ou seis anos num periódico
especializado por um especialista
do Ministério da Saúde do Brasil."
Sobe ou desce?
Mais sério ainda é o caso da Índia: o banco afirmou que seu esforço contra a doença teria ocasionado uma redução de 58%,
98% e 79% nos Estados de Gujarat, Maharashtra e Rajastão, respectivamente, entre 2002 e 2003.
Quando os pesquisadores consultaram o governo indiano, foram
informados de que a incidência
da doença teria aumentado nos
três Estados durante o período.
O artigo também acusa o banco
de aprovar compras na Índia do
antimalárico cloroquina, que
consideram obsoleto para o tipo
de malária que ataca no país.
Em sua resposta na "Lancet",
Jean-Louis Sarbib e seus colegas
do Banco Mundial admitiram que
o desempenho foi aquém do desejado, mas afirmaram que isso se
deveu ao fato de que o Bird se dedicou mais ao combate à Aids na
África nesse período.
Ressaltaram que a instituição
vai ampliar os recursos já destinados à luta contra a malária na
África e no Sudeste Asiático para
US$ 500 milhões de dólares no
período 2006-2008, "o que está de
acordo" com os objetivos inicialmente propostos.
"Claro que eles têm esse plano,
mas por que deveríamos confiar
neles?"-questionou Attaran.
Com agências internacionais
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