São Paulo, segunda-feira, 26 de abril de 2010

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Cientistas criticam índice de risco de dengue do governo

Para eles, indicadores de infestação utilizados como referência não são precisos

Método adotado hoje usa contagem de criadouros de mosquito, mas especialistas propõem monitoramento baseado em armadilhas

Silva Junior/Folha Imagem
Agente procura por focos da dengue em Ribeirão Preto (SP)

ESTELITA HASS CARAZZAI
DA AGÊNCIA FOLHA

Principal referência para as ações preventivas contra a dengue, os índices de infestação pelo mosquito Aedes aegypti utilizados hoje são considerados pouco precisos por cientistas da Fiocruz-PE, UFMG e USP, que sugerem outra abordagem.
Hoje, o principal indicador de risco da dengue adotado pelo Ministério da Saúde é calculado a partir da observação e contagem de criadouros do Aedes pelos agentes de saúde, o que é criticado pelos estudiosos. "Os criadouros são difíceis de serem localizados", afirma a pesquisadora da Fiocruz Pernambuco Lêda Regis. Para ela, o método depende muito da atuação do agente. "É melhor fazer o mosquito chegar até nós do que ir atrás dele."
Por isso, ela desenvolve há dois anos, em dois municípios de Pernambuco, um sistema de monitoramento do Aedes baseado em armadilhas, que atraem as fêmeas do mosquito.
O índice de infestação das residências é calculado com base nos ovos botados por armadilha, que são contados por um programa de computador. "Nossos índices são sempre muito mais elevados do que os estimados pela detecção visual dos criadouros [no método do Ministério da Saúde]", diz ela.
Apesar de o combate aos criadouros ser essencial para a erradicação do mosquito, há consenso entre os pesquisadores de que índices baseados no número de ovos, larvas ou de Aedes adultos são mais eficientes para estimar o risco de transmissão da doença.
Em Minas Gerais, uma equipe da UFMG conseguiu desenvolver um índice baseado nas fêmeas adultas do mosquito, que já foi aplicado em 38 cidades e está em uso há três anos.
A contagem dos insetos, que são capturados em armadilhas, é feita semanalmente, o que origina 52 relatórios de risco de transmissão da doença por ano -quase nove vezes mais do que o método oficial.
Segundo o pesquisador Marcelo Resende, o indicador ajudou a focar as ações de combate ao mosquito nas áreas de maior risco. Com isso, a incidência da doença caiu 93,7% em um ano nos municípios que o utilizaram, contra 83% em cidades do mesmo perfil que contaram apenas com os relatórios bimensais do ministério.
Um indicador semelhante também é utilizado em Teresina (PI), num projeto coordenado pelo professor da USP Almério de Castro. Lá, o trabalho está em andamento desde 2008 e ajudou a reduzir a incidência da doença em 85%. A limitação dos indicadores oficiais é reconhecida pelo próprio Ministério da Saúde, que está bancando pesquisas para o desenvolvimento de novos índices há um ano. "O ideal seria que tivéssemos uma medida de risco mais próxima do real", diz o coordenador do Programa Nacional de Controle da Dengue, Giovanini Coelho.
Apesar dos bons resultados, o Ministério da Saúde e os estudiosos dizem que essas novas estratégias de combate ao mosquito ainda precisam de mais testes. O Ministério da Saúde também diz que, pelos novos métodos, não se sabe a proporção entre os insetos capturados e os existentes no ambiente.
A Organização Mundial da Saúde também ressalta a necessidade de comprovação científica desses indicadores, mas os considera uma boa ferramenta para inibir a dengue.


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