|
Próximo Texto | Índice
Vídeos do YouTube viram estudo sobre alucinógeno
Cientistas mediram pela 1ª vez período de efeito da droga Salvia divinorum
Erva é legal na maior parte do mundo; por ser
uma droga nova, ainda
não existe informação
sobre potenciais riscos
RAFAEL GARCIA
DE SÃO PAULO
A mania que muitos usuários da droga alucinógena
Salvia divinorum têm de publicar vídeos dos efeitos da
erva no site YouTube rendeu
um improvável dividendo:
um estudo científico.
Com base em filmagens de
jovens que se divertem vendo seus colegas "viajarem"
após uma ou duas tragadas
da fumaça da erva, cientistas
nos EUA conseguiram pela
primeira vez saber com alguma precisão qual o período
de efeito da droga. Imagens
de gente rindo descontroladamente, rolando pelo chão
e estranhando o próprio corpo forneceram os dados.
Segundo o trabalho publicado na revista "Drug and Alcohol Addiction", a Salvia divinorum (não confundir com
o tempero sálvia) faz efeito
em até 30 segundos e mantém os usuários num estado
de consciência bastante alterado por até oito minutos.
A descoberta pode não parecer grande novidade para
os usuários da droga, mas
deu trabalho para os cientistas, já que o uso da sálvia é
globalizado, mas ainda não
muito disseminado.
Fazer um estudo clínico
em que a droga seja administrada deliberadamente, além
disso, pode pode enfrentar
uma série de barreiras éticas.
"Ainda não há estudos na
literatura médica que tenham feito isso de maneira
tão precisa quanto o nosso"
disse à Folha o sanitarista James Lange, da Universidade
Estadual de San Diego coordenador do trabalho.
"A maioria dos estudos
publicados se baseou em relatos dos usuários e não em
observações detalhadas."
MATERIAL E MÉTODOS
Para conseguir filmagens
que não tivessem sido adulteradas e mostrassem a "viagem" da sálvia do início ao
fim, o cientista se juntou a
três colegas para assistir a
mais de 3.000 vídeos no YouTube. Só 34 passaram no
controle de qualidade.
"Só poderíamos fazer isso
com uma droga como a sálvia, por causa da restrição do
YouTube a vídeos de 10 minutos", disse o pesquisador.
Lange reconhece que seu
método não cobre alguns aspectos do uso da erva.
"Sabemos que o YouTube
só mostra as pessoas que se
sentiram à vontade. Vídeos
com experiências aterrorizantes ou perturbadoras provavelmente não seriam divulgados, diz Lange.
Segundo o cientista, há
pesquisadores correndo para
preparar testes controlados
da droga, estratégia que no
futuro pode se tornar inviável, com muitos governos
proibindo a droga. Restará,
quem sabe, o YouTube.
Próximo Texto: Brasil ainda não controla a erva, diz Anvisa Índice
|