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Proteína de sapo evita demência em rato
Estudo feito por grupo do Rio Grande do Sul aponta nova classe de medicamentos para combater o mal de Alzheimer
A bombesina, extraída de
secreção do anfíbio, conteve
a perda da memória nos
animais; cientistas querem
agora testar versão humana
RAFAEL GARCIA
DA REPORTAGEM LOCAL
Uma molécula extraída da
secreção da pele de um anfíbio
mostrou um caminho promissor na busca de medicamentos
para combater o mal de Alzheimer. Em um experimento realizado por pesquisadores da
UFRGS (Universidade Federal
do Rio Grande do Sul), a bombesina, produzida pelo sapo-de-barriga-de-fogo (Bombina
bombina) conseguiu evitar em
ratos a perda de memória característica da doença.
Para simular o avanço do mal
de Alzheimer nos roedores,
cientistas liderados pelo neurofarmacologista Rafael Roesler injetaram doses progressivas da proteína beta-amilóide
nos animais. Essa molécula se
acumula formando placas no
tecido cerebral e acaba levando
os neurônios à morte. É o mesmo processo que ocorre no mal
de Alzheimer, mas no experimento a doença foi induzida artificialmente.
Ao fim do teste, elaborado
pela bioquímica Tatiana Luft,
os animais que tinham recebido uma dose de bombesina não
passaram por processo de perda de memória acentuada.
Os cientistas pretendem agora fazer testes em pessoas, só
que não exatamente com a
mesma molécula. "Pretendemos, no prazo de um ano, testar
clinicamente as aplicações do
GRP, que é o análogo humano
da bombesina", diz Roesler,
que coordenou a pesquisa ao lado de Gilberto Schwartsmann.
Os dois assinam um estudo
publicado neste mês pelo periódico "Neuropharmacology".
Os cientistas já sabiam que
tanto a bombesina quanto a
GRP atuam interagindo com a
mesma proteína no corpo, a
GRPR. Esta por sua vez, age como receptor, uma espécie de fechadura química na membrana
das células que é acionada pela
bombesina e por sua "irmã".
A escolha das substâncias
surgiu da interação entre a área
de especialização de Roesler e a
de Schwartsmann, que é oncologista. "Vários tipos de tumor
expressam grande quantidade
do receptor para a bombesina,
só que há estudos mostrando
que eles se expressam também
em alta quantidade nas membranas dos neurônios", diz
Roesler. "Três anos atrás a gente começou a fazer testes com
um bloqueador da ação da
bombesina, e com isso conseguimos identificar que ela era
importante também para processos de memória."
O caminho aberto pelo grupo
de Roesler, discípulo do neurocientista gaúcho-argentino
Ivan Izquierdo, tem boas chances de ganhar espaço na busca
mundial por um tratamento
eficaz contra o Alzheimer. O remédio usado hoje como tratamento padrão para a doença, o
donepezil (nome comercial
Aricept), tem se mostrado insatisfatório. A esperança nesta
molécula sofreu um baque em
abril do ano passado, quando
um estudo da Clínica Mayo,
nos EUA, mostrou que ela tinha baixa eficácia.
O donepezil "só retarda um
pouco a doença no primeiro
ano de tratamento, mas depois
de três anos não faz diferença",
diz Wagner Gattaz, professor
de psiquiatria da Faculdade de
Medicina da USP. Acreditava-se que a vitamina E também
pudesse ajudar a conter o avanço do Alzheimer, mas ela também acabou sendo descartada.
"Desencorajados pela falência dessas duas estratégias, os
pesquisadores passaram a procurar com mais ênfase por alternativas, na qual deve se inserir a manipulação dos GRPRs",
afirmou Gattaz à Folha.
Outro dado é que a pesquisa
de medicamentos contra o mal
de Alzheimer hoje procura
compostos que possam evitar
que a demência apareça. O experimento de Roesler parece
ter atingido essa meta.
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