São Paulo, quinta-feira, 26 de junho de 2008

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Biólogos acham quadrúpede mais antigo

Fóssil de 365 milhões de anos, escavado na Letônia, é de animal adaptado para viver em terra e na água

Philip Renne e Per Ahlberg
Reconstituição da cabeça e fotografia do crânio do Ventastega

RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL

Os "elos perdidos" da história do grupo de peixes que se transformou em vertebrados terrestres são cada vez mais "elos achados". Cientistas acabam de anunciar a descoberta dos fósseis de mais um animal nesse estágio de transição, na Letônia. Batizado com o nome de Ventastega curonica, o animal foi descrito a partir de um crânio e outros três ossos.
Apresentado na edição de hoje da revista "Nature", o bicho preenche a lacuna entre o peixe Tiktaalik roseae, a forma intermediária entre peixes tradicionais e os primeiros vertebrados de quatro patas, ou tetrápodes, como o primitivo Acanthostega.
A descoberta de formas intermediárias é tradicionalmente prevista pelos biólogos evolucionistas. A sua suposta "raridade" no registro fóssil costuma ser criticada por grupos religiosos que não aceitam a evolução e defendem uma criação divina dos seres vivos.
Os biólogos demonstraram várias dessas formas intermediárias, mas a mais simbólica popularmente foi um "peixe de quatro patas" revelando a passagem dos vertebrados da água para a terra.
Per Ahlberg, da Universidade Uppsala (Suécia), e mais quatro colegas mostraram como o fóssil de Ventastega curonica tem um crânio que lembra um tetrápode primitivo, mas com proporções de um peixe.
A evolução dos peixes para os vertebrados terrestres ocorreu entre 360 milhões e 380 milhões de anos atrás, no Período geológico Devoniano. Não foi algo tão simples de acontecer -como seres vivos com nadadeiras que viviam em águas profundas puderam passar à terra e andar com patas?
O mais provável é que esses primeiros seres "anfíbios" tenham surgido em águas rasas e ambientes pantanosos. As adaptações necessárias ou úteis seriam a capacidade de respirar oxigênio do ar, olhos no alto da cabeça para enxergar tanto dentro quanto fora d'água e finalmente nadadeiras transformadas em patas para facilitar a locomoção terrestre.
Ahlberg e colegas afirmam que o Ventastega é uma boa forma intermediária -um bom "elo"- entre Tiktaalik e Acanthostega por conta da sua mandíbula inferior semelhante à de um tetrápode, mas com dentição típica de peixes.
Mas eles ressalvam que os "elos achados" até agora também mostram considerável grau de diversidade de formas entre estes animais primitivos, o que torna mais difícil colocá-los numa árvore de "família".


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