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Cometa explodiu sobre a Sibéria em 1908, indica estudo
Liberação de vapor causada pelo evento foi similar à do
lançamento de um ônibus espacial, afirmam cientistas
Trabalho comparou nuvens
que se formam na trilha de
espaçonaves às vistas após o
impacto que destruiu uma
floresta 101 anos atrás
RAFAEL GARCIA
DA REPORTAGEM LOCAL
Um século atrás, um cometa
se chocou com a Terra, afirma
um novo estudo sobre o evento
de Tunguska, a explosão que
destruiu mais de 2.000 km2 de
floresta na Sibéria em 1908. A
conclusão, defendida agora por
geocientistas dos EUA, saiu de
uma comparação entre os recentes lançamentos de ônibus
espaciais e a explosão do cometa há 101 anos -o bólido se desintegrou no ar vários quilômetros antes de chegar ao solo, devido ao atrito com a atmosfera.
A inusitada semelhança entre cometas e espaçonaves, dizem os cientistas, é que ambos
podem desencadear a formação de um tipo especial de nuvem. São as chamadas nuvens
noctilucentes -visíveis à noite
por surgirem em baixas temperaturas a grandes altitudes e
abrigarem partículas com cristais de gelo brilhantes.
Como cometas possuem alta
proporção de gelo em sua composição, o impacto de um deles
com a Terra liberaria uma
enorme quantidade de vapor
de água a grandes altitudes (até
85 km) devido ao superaquecimento causado pelo choque.
E ônibus espaciais fazem o
mesmo: por usarem hidrogênio e oxigênio como combustível, liberam até 300 toneladas
de vapor d'água cada vez que
decolam para o espaço, fruto da
reação química que gera energia para seus propulsores.
Como nuvens noctilucentes
haviam sido vistas em 1908 um
dia após o evento de Tunguska,
alguns cientistas já haviam
proposto a hipótese do impacto
de um cometa. Uma coisa, porém, estava mal explicada: elas
haviam sido observadas no
Reino Unido e arredores, não
na Sibéria. Nenhuma teoria explicava como nuvens poderiam
viajar tão rápido a distância entre esses dois lugares.
No estudo divulgado ontem,
liderado por Michael Kelley, da
Universidade de Cornell
(EUA), uma explicação para isso finalmente é apresentada.
Ao observar a formação de nuvens desencadeadas por lançamentos de ônibus espaciais, os
cientistas descobriram que as
nuvens noctilucentes se espalham na superfície da atmosfera por um fenômeno chamado
"turbulência bidimensional".
Segundo Kelley, a mesma
coisa é o que acontece na superfície de uma xícara cheia.
"Se você joga um pouco de creme no centro do seu café, logo
ele vai se espalhar por toda a
superfície", explicou o cientista
à Folha em conversa por e-mail. Segundo ele, isso acontece porque redemoinhos superficiais são mais poderosos que
os profundos. "Em turbulência
2-D, redemoinhos aumentam
com o tempo. Em 3-D, eles
apenas se reduzem."
Segundo o pesquisador, a
ideia que deu origem para o estudo surgiu um ano e meio
atrás, quando ele assistiu ao
lançamento de um ônibus espacial pela primeira vez.
"Assim que o vi, eu tinha a
solução", diz. Ele reconhece,
porém, que teve um pouco de
sorte, já que ônibus espaciais
não liberam vapor d'água durante todo o percurso de decolagem, só nos propulsores acionados mais no alto. "A mágica é
que a espaçonave entra em ignição na mesma altitude em
que o cometa se desintegra."
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