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São Paulo, terça-feira, 26 de agosto de 2003

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VLS-1

Agência espacial usou a maior parte dos recursos liberados com remuneração de pessoal e administração da unidade

AEB só recebeu 10% do orçamento de 2003

Flávio Florido/Folha Imagem
Integrantes da comissão que vai investigar o desastre com o foguete VLS-1 dão entrevista no Centro de Lançamento de Alcântara


LUCIANA CONSTANTINO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Tratado pelo ministro Roberto Amaral (Ciência e Tecnologia) como prioritário para o governo Luiz Inácio Lula da Silva, o programa espacial brasileiro vem recebendo recursos a conta-gotas.
Dos R$ 35,7 milhões previstos no orçamento deste ano para a AEB (Agência Espacial Brasileira), apenas 10,02% haviam sido gastos até o dia 1º deste mês.
Assim mesmo, a maior parte dos pagamentos -56,79%- foi com remuneração de pessoal e administração da unidade.
O ritmo é semelhante quando se trata do orçamento total do Ministério da Ciência e Tecnologia para o Pnae (Programa Nacional de Atividades Espaciais). Foram gastos nestes primeiros oito meses de governo 11,66% dos R$ 132,261 milhões previstos.
Os números estão no Siafi (Sistema Informatizado dos Gastos Federais), alimentado com informações do Tesouro Nacional.
O projeto de desenvolvimento de veículos lançadores de satélites foi o que mais recebeu investimento da AEB, atrás dos gastos com pessoal e administração. Esse projeto é uma das fontes de recursos do VLS-1, que pegou fogo na sexta-feira passada em Alcântara (MA), matando 21 pessoas.
O ritmo da liberação é lento. Foram gastos em oito meses R$ 957.470, ou 8,97% dos R$ 10,672 milhões previstos. Por outro lado, três áreas não tinham recebido até o dia 1º deste mês nenhum centavo do que estava previsto: desenvolvimento de satélites de coleta de dados e sensoriamento remoto, formação de astronautas e manutenção da infra-estrutura de apoio às atividades espaciais. Somadas, têm previsto para este ano R$ 6,838 milhões.
Para a implantação de infra-estrutura no Centro de Lançamentos de Alcântara, o governo liberou apenas 4,28% dos R$ 12,245 milhões que estão no Orçamento. Anteontem, o presidente da AEB, Luiz Bevilacqua, havia defendido mudanças no financiamento do programa espacial, dizendo que espera mais investimentos, após o acidente no Centro de Lançamento de Alcântara.
Professor e pesquisador, Bevilacqua havia relutado em aceitar o cargo, que assumiu no início de abril. O ministro Amaral chegou a fazer-lhe um agradecimento especial por assumir a presidência da AEB. Para Bevilacqua, "quanto maior o investimento, maior a probabilidade de sucesso".
Roberto Amaral deu declarações semelhantes, mas pôs a culpa na falta de investimento registrada nos últimos anos.
Em entrevista ontem, o ministro da Defesa, José Viegas, considerou "injusto" e "precipitado" relacionar eventual falta de recursos ao acidente em Alcântara (leia texto abaixo à dir.).
O presidente da AEB chegou a citar como exemplo os investimentos feitos por Índia e China no programa espacial -cerca de US$ 400 milhões ao ano, segundo ele. E afirmou que o Brasil poderia aplicar cerca de 30% desse valor, ou seja, US$ 120 milhões, o que daria cerca de R$ 360 milhões.
Ontem, a assessoria de imprensa da AEB disse que Bevilacqua estava envolvido com os trabalhos de ajuda às famílias das vítimas do incêndio em Alcântara e não comentaria os investimentos.
A Folha também solicitou à agência o levantamento dos gastos dos últimos oito anos, mas até a conclusão desta edição não recebeu resposta. Da mesma forma, não obteve a posição do Ministério da Ciência e Tecnologia.

Colaborou MARTA SALOMON, da Sucursal de Brasília


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