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MEDICINA
Proteína que impede suicídio de célula tumoral em metástase pode ser alvo de nova droga contra a doença
Estudo desvenda plano de fuga do câncer pelo corpo
LAURA NELSON
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Dois estudos publicados na edição de hoje do periódico científico
britânico "Nature" (www.nature.com) identificam, em animais,
novos alvos potenciais para drogas contra o câncer.
A primeira pesquisa desvenda
como células cancerígenas viajam
pelo organismo, processo conhecido como metástase, que dissemina a doença pelo corpo.
Normalmente, as células do
corpo morrem ao deixar seu tecido de origem, em um processo
chamado "anoikis" (em grego,
palavra que significa "falta de
lar"). No entanto, as versões cancerígenas possuem uma proteína
que as mantém vivas enquanto se
espalham pelo corpo.
No experimento, o grupo formado por cientistas dos institutos
nacionais do câncer da Holanda e
dos Estados Unidos inseriu moléculas de DNA em células intestinais retiradas de ratos. Cada molécula era responsável pela produção de uma proteína diferente. Os
pesquisadores descobriram que
uma proteína em especial, chamada TrkB, impediu o suicídio
automático das células tumorais.
"Sabemos que alguns pacientes
possuem a proteína TrkB ", explicou à Folha, de Amsterdã, o líder
do estudo, Daniel Peeper. De
acordo com ele, uma droga que
pudesse inibir a proteína poderia
representar uma terapia para o
câncer. O grupo acredita que, a
partir de agora, outros cientistas
buscarão a TrkB em diversos tipos de câncer, em um processo
que permitirá aumentar o conhecimento sobre a proteína e aproximará os pacientes de um medicamento eficaz.
O oncologista Michael Seckl, do
Imperial College em Londres
(Reino Unido), afirma que o modelo é importante, ainda que por
enquanto tenha sido testado em
animais, não em pessoas. "O que
falta é descobrir se o estudo é pertinente a tratamento do câncer
em humanos", diz.
Inflamação evitada
O segundo estudo publicado na
"Nature" liga a ocorrência de
doenças inflamatórias agudas ao
desenvolvimento de tumores, e
identifica um mecanismo capaz
de interromper o processo. Há algum tempo se suspeita que inflamações podiam levar ao câncer,
mas o mecanismo molecular não
era totalmente compreendido.
Um grupo israelense estudou
camundongos geneticamente
modificados, que desenvolviam
inicialmente hepatite e depois
câncer. Os pesquisadores perceberam que, enquanto a doença
progride, a inflamação ativa uma
proteína específica nas células do
fígado. Quando a ação da proteína foi "nocauteada", os roedores
não desenvolveram tumores.
Os cientistas agiram na iniciação do tumor, e não na proliferação das células cancerígenas. "O
processo tumoral foi evitado com
o bloqueio do processo inflamatório", explica Agnaldo Anelli, diretor do departamento de oncologia clínica do Hospital do Câncer,
em São Paulo.
Evolução médica
Conhecido o processo molecular, pode-se saber onde agir tanto
no diagnóstico quanto no tratamento. Essa é uma evolução em
relação a como os medicamentos
eram testados. "Há cinco anos, as
drogas eram usadas sem que se
soubesse onde agiam", diz Anelli.
Após o modelo experimental,
os pesquisadores devem partir
para testes em humanos, mais
complexos, antes que uma droga
possa ser criada para conter o
processo inflamatório.
"Esse modelo", afirma o oncologista, "pode ser experimentado,
por exemplo, em uma população
que tenha desenvolvido anteriormente hepatite C e, por conseqüência, seja mais propensa a
apresentar carcinomas (tumores
malignos) no fígado".
Colaborou Cristina Amorim, free-lance
para a Folha
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