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Desmate perde peso em produção de CO2
CLAUDIO ANGELO
EDITOR DE CIÊNCIA
O desmatamento deixou de
responder por 75% das emissões brasileiras de gases-estufa.
Números a serem divulgados
pelo Ministério do Meio Ambiente indicam que, em 2008, o
corte de florestas contribuiu
com cerca de um terço do gás
carbônico que o país emitiu.
Os dados ainda são preliminares e não têm pretensão de
serem completos como os do
inventário nacional de emissões, que ficará pronto no final
do ano -e que tem uma defasagem de quase dez anos.
Mas eles mostram que o ritmo de desmatamento caiu, enquanto as emissões da agricultura e do setor industrial subiram. Na Amazônia, por exemplo, as emissões por desmatamento em 2008 foram de cerca
de 460 milhões de toneladas de
CO2, contra 550 milhões em
1994. No setor industrial, que
inclui transportes e geração de
energia, as emissões passaram
de 230 milhões para 375 milhões de toneladas, mostra cálculo feito pela Folha a partir de
dados da organização sem fins
lucrativos Economia & Energia, que faz o balanço de carbono nacional (www.ecen.com).
"O que era dois terços não
permaneceu assim", disse à
Folha Tasso Azevedo, consultor do Ministério do Meio Ambiente. Segundo ele, a proporção hoje está provavelmente
mais próxima de um terço para
florestas, um terço para indústria e um terço para agricultura.
Ninguém sabe realmente
quanto o Brasil emite, já que o
único inventário disponível hoje é de 15 anos atrás.
Ontem o ministro Carlos
Minc (Meio Ambiente) prometeu para amanhã a divulgação
dos dados dos setores industrial, elétrico e de transportes.
A mudança no perfil de emissões tem causado preocupação
no governo, que neste momento se prepara para definir a meta de corte que o país apresentará na conferência do clima de
Copenhague, em dezembro.
O Itamaraty já declarou que
o Brasil apresentará uma trajetória de emissões que represente um desvio do cenário
atual -ou seja, que tenha um
"viés de queda". A trajetória está sendo calculada. Espera-se
que outros países desobrigados
de metas pelo Protocolo de
Kyoto façam a mesma coisa.
Assim, as emissões poderiam
até continuar a crescer até
2020, mas num ritmo menor
ao que seria se nada fosse feito.
Após 2020, elas deveriam cair.
A maneira mais fácil de fazer
isso no Brasil é reduzir o desmatamento. Isso tem a vantagem de produzir uma redução
significativa das emissões brasileiras enquanto outros países
ainda teriam emissões crescentes. O problema é que após
2020, zerado o desmate, o país
ainda ficará com uma curva de
emissões ascendente no setor
energético -especialmente na
área de petróleo, com a exploração do pré-sal.
Como a matriz energética
nacional é limpa, isso deixa o
Brasil numa situação parecida
com a do Japão, país que já usa
energia de forma muito eficiente. Em ambos os casos, cortar
emissões adicionais implicará
em custos altos. E aqui o governo brasileiro vê nas metas uma
ameaça ao desenvolvimento.
"A proposta de trajetória do
Brasil deve ser diferente da de
outros países", disse Azevedo.
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