|
Próximo Texto | Índice
Plano do clima exclui meta para desmate
Documento divulgado ontem pelo governo lista a troca de geladeiras entre suas principais ações contra o efeito estufa
Iniciativa, que levou um ano
para ser lançada, lista ações
já existentes para mitigar
CO2; para ambientalista,
plano é "uma decepção"
Sérgio Lima/Folha Imagem
|
|
O ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, lê trecho do Plano Nacional de Mudança Climática
MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
CLAUDIO ANGELO
EDITOR DE CIÊNCIA
Dobrar a área de florestas
plantadas no Brasil nos próximos sete anos e aumentar de
0,5% para 20% a co-geração para a produção de energia são
dois dos principais objetivos do
Plano Nacional de Mudança
Climática, lançado ontem. O
documento destaca ainda a intenção de substituir 10 milhões
de geladeiras até 2018 como
contribuição para reduzir o impacto do aquecimento global.
O plano é resultado de um
compromisso assumido por
Luiz Inácio Lula da Silva em setembro do ano passado. Sua
versão final só deverá ser assinada pelo presidente no início
de 2009, com um ano de atraso
em relação à previsão original.
Conforme a Folha adiantou
na última terça-feira, o plano
não estabelece metas de redução no desmatamento, responsável por dois terços das emissões brasileiras de gases de
efeito estufa. O mais próximo
que chega disso é prever uma
"redução sustentada" das taxas
de desmatamento, a cada quatro anos, até que se atinja o
"desmatamento ilegal zero"
-sem no entanto dar um prazo
para isso. No geral, limita-se a
listar ações já existentes no
país que podem contribuir para a mitigação (redução) do
CO2 e outros gases-estufa.
O documento divulgado ontem -que será colocado em
consulta pública por um mês a
partir de segunda-feira-, no
entanto, avança em relação à
sua versão preliminar ao listar
alguns objetivos numéricos em
áreas como a de transportes.
"Um plano sem objetivos é
um saco vazio", comentou o
ministro Carlos Minc (Meio
Ambiente) ao divulgar o documento. Ele insistiu, no entanto,
em que os objetivos listados
são duplamente voluntários. O
Brasil, como país em desenvolvimento, não está obrigado a
cumprir metas de redução das
emissões de gases-estufa. Também não haverá punição em
caso de descumprimento das
metas previstas no plano.
Dos 5,5 milhões de hectares a
serem reflorestados no país até
2015, 36% deverão receber espécies nativas. Também nesse
período, a área reflorestada deverá superar a desmatada, que
chegou a 420 mil quilômetros
quadrados entre 1990 e 2005.
Segundo Suzana Kahn Ribeiro, secretária nacional de Mudança Climática, o plano tenta
organizar algumas ações já em
curso e reforçar medidas já
existentes, além de compilar
previsões feitas por diferentes
áreas do governo.
O principal exemplo é que os
objetivos definidos para o setor
de petróleo apenas reproduzem metas de redução de emissões já definidas pela Petrobras
em seu plano estratégico, que
prevê evitar o lançamento de
21,3 milhões de toneladas de
gás carbônico na atmosfera entre 2007 e 2012.
Essa ação se apequena quando comparada ao problema do
desmatamento: ela pouparia,
por ano, o equivalente ao que o
desmatamento emite em menos de três dias. Todo o programa de troca de geladeiras deixará de emitir por ano o que o
desmate emite em 9 horas.
O documento também prevê
investimentos em eficiência
energética, que deverão reduzir em 10% a demanda por
energia até 2030. Ao mesmo
tempo, cita o programa Luz Para Todos (de inclusão social)
como medida de mitigação.
O plano destaca estímulo à
produção de biocombustíveis.
Com base em cálculo da EPE
(Empresa de Pesquisa Energética), o documento prevê que o
país mais do que dobrará a produção de álcool combustível
em dez anos, de 25,6 bilhões
para 53,2 bilhões de litros. Até
2017, a substituição de gasolina
por álcool deverá evitar o lançamento de 508 milhões de toneladas de gás carbônico.
Críticas
Para Fabio Feldmann, secretário-executivo do Fórum Paulista de Mudanças Climáticas, o
documento é "um pouco frouxo" e deixa questões cruciais de
fora, como metas setoriais e redução de desmatamento. "A
iniciativa é bem-vinda, mas o
que esse documento agrega ao
que já está sendo feito? Qual é a
adicionalidade dele?"
Marcelo Furtado, do Greenpeace, diz que o documento é
"uma decepção" ou, na pior das
hipóteses, "uma embromação".
"As metas para eficiência energética, por exemplo, são 10%,
quando sabemos que hoje poderíamos obter entre 35% e
50%", diz. Outra falha do plano,
segundo a ONG, é usar dados de
1994 para calcular a contribuição do país à mudança do clima.
Próximo Texto: Objetivos do plano Índice
|