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Emissão de gás-estufa no país sobe 24,6% em 15 anos
Desmate cresceu menos que energia e agropecuária, mas ainda é a maior fonte
Estimativa inédita feita por grupo da USP de Piracicaba cobre vácuo deixado por dados oficiais do governo federal, que vão só até 1994
RAFAEL GARCIA
DA REPORTAGEM LOCAL
As emissões de gases do efeito estufa no Brasil aumentaram
24,6% entre 1990 e 2005, indica uma estimativa feita por
cientistas da USP. Desde 1994
-o último ano para o qual o
país havia produzido um inventário oficial sobre o tema- o
crescimento foi de 17%.
O trabalho, liderado por Carlos Cerri, , sai às vésperas de o
MMA (Ministério do Meio Ambiente) divulgar suas próprias
estimativas. Os dois estudos
preenchem um vácuo de informação deixado pelo MCT (Ministério da Ciência e Tecnologia), que produz os dados oficiais, e deve divulgar o próximo
inventário só no ano que vem.
Questionado sobre se 17% é
algo acima ou abaixo da expectativa, Cerri diz que não sabe
avaliar: "A gente não tinha ideia
de quanto seria; o Brasil mudou
muito nos últimos anos".
Seu trabalho, porém, mostra
que o perfil brasileiro de emissões está mudando . Gases-estufa do desmatamento cresceram 8,1% entre 1994 e 2005, taxa menor que a de outros tipos
de fonte. Emissões vindas de
energia, agropecuária, indústria e lixo tiveram juntas aumento médio de 41%.
Mesmo com essa diferença,
porém, o desmate continua
sendo o principal emissor, representando 51,9% do total.
Descontando a perda de floresta, é possível comparar o
Brasil a outros países. O crescimento de 41% foi menor que o
de muitos países ricos que deveriam estar cortando emissões em vez de aumentar, conforme prevê o Protocolo de
Kyoto. Gigantes pobres como
China e Índia também tiveram
aumentos maiores (89% e 62%,
respectivamente). As emissões
não-desmate do Brasil, porém,
subiram mais que a média
mundial de 28,1% -puxadas
por uma matriz energética
mais suja e pelos transportes.
Os cálculos de Cerri e seus
colegas saem em um artigo na
edição desta semana da revista
"Scientia Agricola". O trabalho,
que levou cerca de um ano, é
basicamente a compilação de
dados de outros levantamentos
já publicados -incluindo o inventário oficial de 1994. Cada
fonte de dados teve de receber
tratamento estatístico adequado para ser unida às outras.
Concorrência
Segundo Cerri, professor do
Centro de Energia Nuclear na
Agricultura, no campus da USP
de Piracicaba, aquilo que o motivou a fazer a pesquisa não foi a
demora dos dados oficiais.
"Não estamos fazendo concorrência ao MCT, estamos colaborando", diz. "A universidade
precisa ser proativa em fazer
esses tipos de inventário."
O vácuo nos dados oficiais da
Ciência e Tecnologia, porém,
foi o que motivou em parte o
MMA a fazer sua própria estimativa, que deve ser divulgada
na íntegra nesta semana.
Segundo Tasso Azevedo,
consultor do MMA, o resultado
de Cerri "é muito parecido"
com os números do estudo encomendados pelo ministro
Carlos Minc. "Isso mostra que
estimar as emissões não é um
bicho de sete cabeças", diz.
Azevedo defende, porém,
que o MCT continue fazendo
seu inventário detalhado. Estimativas mais rápidas, porém,
são necessárias para guiar políticas públicas, diz. Segundo ele,
há certa margem de erro em
trabalhos como o do MMA e o
de Cerri, mas o fato de os dois
chegarem a números próximos
fortalece sua confiabilidade.
Um importante aspecto confirmado agora é papel da pecuária. O gado emite gases estufa
tanto contribuindo para o desmate, requerendo mais áreas
de pastagem, quanto de forma
autônoma. O metano eliminado no arroto dos bois equivale a
cerca de 12% da contribuição
brasileira ao efeito estufa.
Para Cerri, porém, o perfil de
emissões do país tem um aspecto bom: "Há uma margem
de manobra grande para produzir de forma mais limpa", diz.
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