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Estudo vai mapear cérebro de homicidas
Foto Jefferson Bernardes/Preview.com
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M.C.Z., 18, com cinco passagens pela Fase, no seu alojamento |
Projeto de universidades gaúchas examinará mais de 50 menores infratores para investigar base biológica da violência
Grupo vai analisar aspectos genético, psicológico, social e cerebral de adolescentes; secretário da Saúde do RS é um dos mentores do projeto
RAFAEL GARCIA
ENVIADO ESPECIAL A PORTO ALEGRE
"Eu estava sozinho na rua.
Não tinha recurso. Ninguém
queria me dar serviço. O que
queriam me dar não dava dinheiro. Comecei a traficar, roubar, matar." A história de D.S.,
de 17 anos, interno da Fase
(Fundação de Atendimento Socio-Educativo, antiga Febem
gaúcha) parece ser comum entre as dos mais de 50 adolescentes homicidas que vão ter
seus cérebros mapeados por
um aparelho de ressonância
magnética num estudo em Porto Alegre, no ano que vem.
Cientistas da PUC-RS (Pontifícia Universidade Católica do
Rio Grande do Sul) e da UFRGS
(Universidade Federal do RS)
querem saber se o que determina o comportamento de um
menor infrator é sua história de
vida e se há algo físico no cérebro levando-o à agressividade.
"Algo que sempre foi negligenciado foi o entendimento da
violência como aspecto de saúde pública", diz Jaderson da
Costa, neurocientista da PUC-RS que coordenará os trabalhos
de mapeamento cerebral. A
idéia é entender quais pontos
são mais relevantes dentro da
realidade brasileira na hora de
determinar como se produz
uma mente criminosa.
Para isso serão avaliados
também aspectos genéticos,
neurológicos, psicológicos e sociais de cada pesquisado. Serão
examinados dois grupos: um de
internos da Fase e outro de meninos sem passado de crime,
para efeito de comparação. O projeto vai
olhar para questões sociais,
mas o foco é mesmo o fundo
biológico da questão.
"Estamos nos baseando em
trabalhos que já existem mostrando que há um período crítico no início da vida e que se
uma criança é maltratada entre
o 8º e o 18º mês ela adquire
comportamento alterado na
idade adulta", diz um dos mentores do projeto, o secretário de
Estado da Saúde do Rio Grande
do Sul, Osmar Terra, aluno de
mestrado de Costa. "Decidi no
ano passado retomar a neurociência como uma opção de vida; minha opção não é fazer política até morrer", diz.
Cabeça de agressor
Para os cientistas, um ambiente de desenvolvimento
inadequado pode mesmo "fabricar" um psicopata: pessoa
que despreza regras de convívio social e é desprovida de sentimentos de empatia e afeto.
O papel do mapeamento cerebral por ressonância magnética na pesquisa é tentar entender a manifestação física de
problemas como esse. O trabalho que inspira Costa nessa
área é um artigo do grupo do
neurocientista português António Damasio publicado em
1999. O estudo mostra que meninos que sofreram lesões no
córtex pré-frontal -região do
cérebro próxima à testa- tinham sérios problemas de sociabilidade após crescer.
"A aquisição de convenções
sociais complexas e de regras
morais se estabelece precocemente", diz Costa. "Essas lesões podem resultar mais tarde
numa síndrome parecida com a
psicopatia." O cientista quer saber se, independentemente de
lesões, meninos cronicamente
violentos tenham atividade reduzida em alguma região do
córtex pré-frontal, área cerebral ligada a tarefas mentais
que envolvem juízo moral.
"Não queremos que isso sirva
como roupa sob medida para
explicar todos os casos, mas pode explicar boa parte", diz.
Traumas e psicopatia
Na avaliação psicológica que
complementará o estudo, três
questionários serão aplicados.
Um deles avalia se houve traumas na infância dos pesquisados, outro avalia o histórico de
vida familiar e escolar. "Um
terceiro tenta identificar se há
ou não um traço de psicopatia
ou comportamento violento
extremo", explica Ângela Maria
Freitas, psicóloga da PUC-RS
que integra o projeto. O DNA
dos meninos também será analisado.
O projeto de Costa e Terra
ainda está sendo analisado por
um comitê de ética da PUC-RS,
e os cientistas se dizem confiantes de que a aprovação sairá
para início dos trabalhos em
março de 2008. O custo da empreitada, avaliado por Terra em
cerca de R$ 120 mil, será coberto com doações da siderúrgica
Gerdau para a pesquisa, afirma
o secretário da Saúde.
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