São Paulo, quarta-feira, 26 de novembro de 2008 |
Próximo Texto | Índice
Aquecimento podará crescimento do NE
Estudo indica que região mais pobre do Brasil terá redução de 11,4% do PIB em 2050 devido às mudanças climáticas
AFRA BALAZINA DA REPORTAGEM LOCAL O aquecimento global secará 11,4% do PIB do Nordeste brasileiro de 2050. O dado está num estudo sobre migração, mudança climática e saúde pública elaborado pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e pela Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz). De acordo com a pesquisa, o aquecimento global provocará perda de áreas aptas para agricultura no Nordeste, prejudicará a economia da região e, conseqüentemente, impulsionará a migração de pessoas. O percentual de perda do PIB equivale a aproximadamente dois anos de crescimento da economia da região, se for levado em conta o desempenho verificado entre 2000 e 2005. A previsão considera a concretização do cenário mais grave apresentado pelo IPCC (painel do clima das Nações Unidas), em que o aumento da temperatura na área analisada será de 4C até 2070. Nas modelagens criadas pelo grupo, só o Ceará perderá 79,6% de terras agricultáveis. Na seqüência, os Estados que mais perderão áreas para plantio são Piauí (-70,1%), Paraíba (-66,6%) e Pernambuco (-64,9%). No caso do PIB, os mais impactados serão Pernambuco (-18,6%), Paraíba (-17,7%), Piauí (-17,5%) e Ceará (-16,4%). O estudo indica que a mudança climática provocará a migração de 247 mil nordestinos entre 2035 e 2040, ou uma taxa líquida de -0,36%. Já no período de 2045 e 2050, haverá migrarão de 236 mil pessoas da região (taxa líquida de -0,34%). De acordo com Alisson Barbieri, um dos coordenadores do estudo, não haverá despovoamento da região por conta dessa migração. "Nos anos 1970 houve intensa migração para o Sudeste e não houve esvaziamento. Porém, essa perda de população terá relevância, pois ocorrerá a distribuição [saída] de pessoas vulneráveis", diz. Assim, se a situação não for evitada, as migrações podem impactar as cidades que receberão essas pessoas carentes. O processo de migração deve ser maior a partir das regiões metropolitanas de Recife, João Pessoa e Teresina. O destino provável dos migrantes seria o Sudeste e a Amazônia. Planejamento Segundo o pesquisador, que é Ph.D em planejamento regional e urbano pela Universidade da Carolina do Norte (EUA), se não houver planejamento para enfrentar o novo clima, o Nordeste será cada vez mais dependente do governo e de programas como o bolsa-família. Uma das saídas para tentar reverter o quadro é investir na adaptação da agricultura para o aumento das temperaturas -com o uso de novas tecnologias, por exemplo. Para outro coordenador da pesquisa, o médico Ulisses Confalonieri, será necessário investir em maneiras de obter água potável -como buscá-la em aqüíferos profundos ou dessalinizar a água do mar. Outra aposta é encontrar novas vocações para o Nordeste. "Onde a agricultura se tornar inviável, deve-se investir em turismo, em indústrias. O estudo indica cenários futuros, mas as ações devem ser imediatas", afirma Barbieri. A pesquisa mostra que a situação ficará mais complicada para municípios cuja economia está baseada no setor primário. Petrolina (PE), grande produtor vinícola e de frutas tropicais, e Mossoró (RN), onde a fruticultura tropical irrigada também tem grande importância na economia, deverão estar entre os mais afetados. "Se nada for feito, certamente os impactos vão afetar o desempenho econômico dessas cidades. Mas, ao identificar os cenários, abrimos a possibilidade para os planejadores buscarem alternativas", diz Barbieri. A pesquisa mostra, ainda, que os impactos ambientais nos municípios dependentes da agropecuária repercutirão nos demais. É o caso de Campina Grande (PB) e Caruaru (PE). As duas, apesar de serem pólos com predominância do setor terciário, serão afetadas pela perda de recursos e de áreas agricultáveis dos vizinhos. Saúde A migração de nordestinos por conta da mudança do clima repercutirá na saúde. Com a migração, doenças endêmicas da zona rural, como a leishmaniose visceral, poderão ser levadas para áreas urbanas pelos migrantes. Segundo Confalonieri, o aumento da população nas regiões urbanas também faz crescer o número de pessoas suscetíveis à dengue, por exemplo. Segundo ele, o custo do SUS (Sistema Único de Saúde) aumentará nesse cenário. O estudo foi financiado pelo Global Opportunities Fund, por meio da Embaixada Britânica no Brasil. Próximo Texto: O céu é o limite: Nível de CO2 tem nova alta, diz agência da ONU Índice |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |