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São Paulo, sexta-feira, 26 de dezembro de 2003

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ESPAÇO

Missão européia Mars Express entra em órbita com sucesso, mas módulo de pouso Beagle-2 ainda não foi localizado

ESA fracassa em contatar sonda marciana

France Presse/ESA - 03.dez.2003
Marte visto de 5,4 milhões de km com câmera de alta resolução da nave européia Mars Express


SALVADOR NOGUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Pousar em Marte continua sendo tão arriscado quanto de costume. Apesar do sucesso com a inserção orbital da sonda Mars Express, nas primeiras horas de ontem, os cientistas da ESA (agência espacial européia) tiveram de amargar em pleno Natal o incômodo silêncio do módulo de pouso Beagle-2 -que a essa altura deve estar, em um ou vários pedaços, na superfície marciana.
A primeira tentativa de contato surgiu às 3h30 de ontem, quando a sonda americana Mars Odyssey sobrevoou Isidis Planitia, o local designado para o pouso do pequeno laboratório europeu, cuja missão é a busca por sinais de vida passada ou presente em Marte.
A nave da Nasa (agência espacial americana) deveria ter captado um sinal musical vindo da superfície, acusando a chegada segura da Beagle-2 ao solo, mas a mensagem não foi interceptada.
"Temo que seja um pouco desapontador, mas não é o fim do mundo", disse Colin Pillinger, cientista-chefe da missão de pouso européia. "Por favor, não saiam daqui acreditando que perdemos a espaçonave", ele pediu à imprensa, pela manhã. A segunda tentativa de captar um sinal da sonda ocorreu entre as 20h e 22h de ontem, usando o radiotelescópio de Jodrell Bank, Reino Unido.
As chances de um contato eram muito maiores do que com a Odyssey, mas o esforço não resultou em sucesso. Novas tentativas já estão marcadas para hoje e sábado, novamente com a Odyssey, o radiotelescópio de Jodrell e um outro, localizado nos EUA.
Os cientistas, técnicos e engenheiros envolvidos no projeto ainda não haviam abandonado a esperança antes da tentativa malograda via radiotelescópio. "Apenas entramos na prorrogação, mas ainda não temos cobrança de pênaltis", brincou Pillinger, usando uma metáfora futebolística para transmitir o espírito dos membros da missão. Com o novo resultado negativo, o jogo já parece prestes a terminar.

Tabus marcianos
Se estabelecer contato prontamente com uma sonda tão pequena quanto a Beagle-2 já é por si só difícil (a nave tem apenas 64 cm de largura e 33 quilos), a retrospectiva histórica não anima.
Até hoje, após 43 anos de missões ao planeta, apenas três naves sobreviveram à travessia da atmosfera marciana para contar a história -todas americanas. A ex-União Soviética chegou a lançar cinco módulos de pouso na direção do planeta vermelho, mas nenhum deles produziu dados científicos. E o último veículo enviado à superfície de Marte, a sonda americana Mars Polar Lander, também fracassou -até hoje ninguém sabe dizer o que deu errado.
Somando missões de sobrevôo, inserção orbital e pouso, menos da metade das tentativas empreendidas resultou em sucesso -definitivamente não é fácil explorar o planeta vermelho. O Japão, por exemplo, acabou de perder sua primeira sonda marciana, a Nozomi, depois que falhas dos sistemas de bordo impediram a realização das manobras que a colocariam em torno de Marte.
Colocada nesse contexto, a primeira missão européia ao planeta vermelho ainda merece ser apresentada como um grande sucesso. A Mars Express, sonda orbitadora que acompanhou a Beagle-2 durante toda a longa viagem de cerca de 400 milhões de quilômetros até Marte, está agora seguramente colocada numa órbita em torno do planeta. Novos ajustes devem ser feitos em sua trajetória, mas sem dúvida o pior já passou.
"A chegada da Mars Express é um grande sucesso para a Europa e para a comunidade científica internacional. Agora, estamos apenas esperando um sinal da Beagle-2 para fazer deste Natal o melhor que poderíamos esperar", afirmou David Southwood, diretor científico da ESA.
A equipe que agora se põe à caça da nave desaparecida na superfície marciana trabalha com cinco hipóteses: a Beagle-2 pode ter chegado bem, mas não no local previsto; a antena de comunicação pode estar apontada na direção errada; um defeito no computador teria afetado o acionamento de seu transmissor; os sistemas de comunicação da Beagle-2 não se mostraram compatíveis com a Mars Odyssey; uma falha catastrófica antes ou durante o pouso pode ter destruído a sonda.
A Beagle-2, que tem seu nome emprestado da embarcação usada por Charles Darwin no século 19, foi projetada para uma missão de seis meses em solo marciano.


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