São Paulo, domingo, 26 de dezembro de 2010

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Pesquisadores fazem tudo pela ciência

Em nome do conhecimento, cientistas não têm medo de pagar mico e abandonar o conforto dos laboratórios

Trabalhos costumam provocar a desconfiança de amigos e parentes e render munição para para todo tipo de piadas

Apu Gomes/Folhapres
A bióloga Tathiana Alvarenga no laboratório onde estuda a privação de sono em ratos

GIULIANA MIRANDA
DE SÃO PAULO

Vida de cientista, ao contrário do que muita gente pensa, não é sinônimo de moleza no conforto do laboratório. Na hora das pesquisas, a maioria não tem medo de pagar mico, enfrentar adversidades climáticas ou deixar de lado banho quente e energia elétrica.
Para estudar os efeitos da falta de sono no comportamento sexual de ratos, a biomédica Tathiana Alvarenga, 28, doutoranda da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), precisa ficar acordada junto com suas cobaias.
Como esses bichos são mais ativos durante a noite, isso significa longas madrugadas observando os animais fazerem sexo.
E não vale nem cochilar: num intervalo de 30 minutos, alguns machos conseguem até três ejaculações.
"É cansativo, mas a gente acaba se acostumando", diz a pesquisadora, que enfrenta madrugadas insones há cerca de cinco anos.
Também na Unifesp, a bióloga Vanessa Kahan, 27, vira noites investigando os efeitos da falta de sono na cicatrização de camundongos.
"Meu pai não se conforma com essa rotina", diverte-se a cientista, que garante não se incomodar com os olhares de desconfiança e as provocações da família e dos amigos.
Por causa de sua pesquisa com carrapatos em animais silvestres, a bióloga Vanessa Ramos também se acostumou a ouvir piadinhas.
Como o melhor horário para pegar os bichos é de manhã bem cedo, ela normalmente acorda antes do sol nascer e se embrenha no mato atrás desses artrópodes de quem a maioria tenta fugir.
Para não espantar os carrapatos, nada de repelentes ou outros métodos químicos. Resultado: algumas picadas de recordação.
"No início eu tinha medo. Principalmente por causa das doenças que eles podem provocar, como a febre maculosa. Mas, agora que eu já me acostumei com a rotina de segurança, já não tem problema nenhum", afirma.
Bem longe do mato, geneticistas da USP e da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) têm projetos -distintos- que envolvem células-tronco presentes no sangue menstrual.
Assim como a medula óssea, o sangue menstrual tem células com alta capacidade de diferenciação, sendo um tratamento promissor para doenças musculares e até para diminuir a rejeição de órgãos transplantados.
O difícil, garantem os cientistas, é convencer as mulheres a doar. O procedimento, que envolve uma espécie de copinho de silicone, ainda provoca desconfiança.
Ainda assim, um time de mais de 30 mulheres já se inscreveu para, literalmente, dar o sangue pela ciência.


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