São Paulo, terça-feira, 27 de janeiro de 2009

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Obama reverte políticas de clima de Bush

Presidente dá poder a Estados para limitar emissão carbono de automóveis e aperta prazo para aumento de eficiência

Produção de carros que consomem menos poupará o equivalente ao que o país importa do Golfo Pérsico em petróleo, afirma democrata

Ron Edmonds/Associated Press
Obama assina ordens para reduzir emissões de gases de veículos, ao lado de Lisa Jackson, da EPA, e Hay LaHood, dos Transportes

SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON

A golpes de caneta, como vem fazendo nos últimos sete dias, Barack Obama revogou aspectos cruciais do enfoque conservador de George W. Bush em relação a ambiente e política energética. Com ordens executivas, o novo presidente dos EUA deu mais poder aos Estados para coibir a emissão de poluentes por veículos e apertou o prazo para que as montadoras instaladas no país façam carros mais eficientes.
Criou ainda o cargo de "czar da mudança climática", um alto diplomata que representará o país nesse assunto na arena internacional, e deu mais detalhes da parte de seu plano que lida com os chamados "empregos verdes". "Os dias de Washington atrasar esse processo acabaram", disse o democrata, na cerimônia de assinatura das ordens, ontem. "Minha administração não negará os fatos, mas será guiada por eles."
A última frase foi uma estocada direta em seu antecessor republicano. Bush começou seu governo defendendo que a relação entre emissão de poluentes e aquecimento global "ainda está para ser julgada" e se despediu da última reunião do G8 (grupo das oito maiores economias), em junho passado, em Tóquio, dizendo em tom de blague: "Um adeus do maior poluidor do mundo".
Na primeira ação, Obama pediu que a EPA (Agência de Proteção Ambiental) revisse decisão de 2007 de Bush que impede que os Estados tenham política autônoma em relação a limites para emissão de gás carbônico por automóveis. Liderados pela Califórnia, dez Estados implantaram metas muito mais rígidas do que a exigida por esse órgão regulador federal, que acabou brecando a iniciativa.
"O governo federal deve trabalhar com, não contra, os Estados para reduzir a emissão de gases de efeito estufa", disse Obama. "A Califórnia mostrou coragem e liderança bipartidária em seu esforço de criar padrões para o século 21 nesse assunto, e vários Estados seguiram seus passos. Mas, em vez de servir como parceiro, Washington entrou no caminho."
O democrata trouxe ainda de 2020 para 2011 o prazo para que as montadoras fabriquem carros que tenham o consumo médio de 14,9 quilômetros por litro de gasolina. "Esse aumento de 40% na eficiência de nossos carros e caminhões pode economizar mais de 2 milhões de barris de petróleo por dia, que é perto do que importamos do Golfo Pérsico", afirmou. O prazo anterior havia sido estabelecido pelo Congresso.
Por fim, detalhou o aspecto ambiental do plano de estímulo econômico de US$ 825 bilhões (o equivalente ao PIB da Austrália) proposto por ele e que o Legislativo examina nesse momento. Nos cálculos de Obama, se aprovado o plano, serão criados 460 mil "empregos verdes", vagas de trabalho que lidam direto com a indústria de energia limpa, e a capacidade de os EUA gerarem energia alternativa dobrará nos próximos três anos.
Além disso, o plano prevê a construção de 4,8 mil quilômetros de "linhas de transmissão" desse tipo de energia pelo país -de dutos para transporte de etanol a construção de postos de combustíveis alternativos-, e a reforma de 2 milhões de lares e de 75% dos prédios federais para que se tornem mais eficientes energeticamente.
No mesmo dia, a secretária de Estado, Hillary Clinton, anunciou a criação do cargo que está sendo chamado informalmente de "czar do ambiente", um diplomata subordinado à chanceler que será o negociador-chefe dos EUA em acordos ambientais e representará a nova administração na Conferência do Clima da ONU em Copenhague, em dezembro.
O primeiro a ocupá-lo será Todd Stern, que foi assessor de Bill Clinton. Desde então, especializou-se na questão climática e é considerado progressista.

Reação das montadoras
Os fabricantes de carros tiveram uma reação mista ao anúncio. As ações foram bem-vindas, mas a possibilidade de os padrões estritos da Califórnia serem aprovados assustaram as montadoras, que dizem que irão à falência no Estado.


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