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Catálogo virtual reúne a vida de 30 mil espécies
Brasil fica de fora da 1ª fase da Enciclopédia da Vida, que entrou ontem na internet
Projeto que deverá custar até US$ 100 milhões é uma ferramenta importante para o desenvolvimento de políticas de conservação
DA REPORTAGEM LOCAL
As estimativas recentes da
perda de biodiversidade planetária ajudam a pintar o sombrio
quadro da extinção: cerca 12%
das aves, 23% dos mamíferos e
32% dos anfíbios já sumiram do
mapa. Portanto, o lançamento
da Enciclopédia da Vida, realizado ontem nos EUA, antes de
tudo é a consolidação de uma
ferramenta importante para
que políticas de conservação da
flora e da fauna mundial possam ser colocadas em prática.
O projeto, que vai durar pelo
menos até 2017 e poderá custar
US$ 100 milhões, consiste em
uma espécie de "Wikipédia"
dos seres vivos. Desde ontem,
no site oficial da iniciativa
(www.eol.org), 30 mil páginas
-uma para cada espécie- já
estão disponíveis gratuitamente para internautas.
E a biologia parece ter mesmo apelo. Ontem o site teve
problemas técnicos por excesso de tráfego: 11,5 milhões de
acessos em cinco horas e meia.
Apesar de apenas 24 páginas
já estarem totalmente completas, em dez anos o grupo internacional que desenvolve o projeto -25 instituições lideradas
por 13 cientistas- espera atingir a marca de 1,8 milhão de espécies catalogadas.
"Esse é um projeto inovador,
o início de um longo processo.
O Brasil, como um país megadiverso, não poderia ficar à
margem de iniciativas como
essa", disse à Folha o pesquisador Vanderlei Perez Canhos,
membro do projeto Catálogo
da Vida, um dos que foram usados como subsídio para a montagem da lista usada pela Enciclopédia da Vida.
Segundo Canhos, que é diretor-presidente do Cria (Centro
de Referência em Informação
Ambiental), o Brasil poderá
participar do projeto da enciclopédia no futuro. "Mas é bom
lembrar que temos muito por
fazer. Não dispomos nem de
uma lista da espécies da flora
brasileira", afirma Canhos.
O mentor da Enciclopédia da
Vida é o biólogo americano Edward Wilson. A partir de recomendações explícitas do cientista, a Fundação MacArthur
investiu US$ 10 milhões no
projeto. A Fundação Alfred P.
Sloan também entrou no circuito e colocou mais US$ 2,5
milhões na enciclopédia.
"Esse projeto não é apenas a
criação de um sumário de tudo
aquilo que já sabemos sobre os
seres vivos da Terra. Ele também vai acelerar a descoberta
de uma vastidão de relações
que ainda permanece desconhecida", disse Wilson em um
comunicado à imprensa.
Fluxo epidêmico
Após reunir parte do conhecimento científico taxonômico
gerado pelo menos nos últimos
250 anos, a Enciclopédia da Vida, segundo seus organizadores, poderá ter uma série de
aplicações úteis.
Os dados reunidos de forma
eletrônica, por exemplo, poderão contribuir para o mapeamento do fluxo das epidemias
causadas por insetos. O mosquito da febre amarela é um dos
bichos que estão com dados detalhados no site.
Cada página, além de fotos e
links, apresenta informações
ecológicas e taxonômicas das
espécies. O visitante pode também saber se aquele determinado organismo está ou não
ameaçado de extinção.
De acordo com James Edwards, secretário-executivo do
projeto, a enciclopédia também
terá uma importância óbvia para o aprendizado.
Estudos sobre espécies invasoras, um grande problema
ecológico em várias regiões do
mundo, inclusive no Brasil, e
pesquisas sobre levantamentos
taxonômicos de grandes áreas
também poderão ser facilitados pela nova ferramenta.
"O site deverá unir interesses
acadêmicos e da população em
geral", disse Edwards.
(EDUARDO GERAQUE)
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