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Painel do clima terá auditoria externa para avaliar dados
ONU anuncia decisão em meio a crise de credibilidade dos dados do IPCC sobre os impactos do aquecimento global
Comissão independente terá "figuras de alto calibre", diz Pnuma; grupo discute veto a estudos científicos sem revisão técnica formal
DA REUTERS
A ONU anunciou que vai nomear um grupo independente
de cientistas para a tarefa de revisar o trabalho do IPCC (Painel Intergovernamental sobre
Mudança Climática), que passa
por uma crise de credibilidade
devido a um conjunto de erros
divulgados nos últimos meses.
No seu relatório de 2007, ano
em que o painel recebeu o Prêmio Nobel da Paz e colocou a
mudança climática no topo da
agenda mundial, o IPCC incluiu a informação errada de
que as geleiras do Himalaia desapareceriam até 2035. Esse e
outros equívocos deram combustível para o ressurgimento
do ceticismo climático -a descrença na existência do aquecimento global- mas a ONU diz
que a maior parte das afirmações do IPCC ainda é sólida.
O grupo de cientistas será
parte de uma revisão do trabalho do IPCC a ser anunciada na
semana que vem, disse Nick
Nuttall, porta-voz do Pnuma
(Programa das Nações Unidas
para o Meio Ambiente). "Serão
figuras científicas de alto calibre, mas agora ainda não posso
dar os nomes", afirmou.
"Eles deverão revisar o trabalho do IPCC, produzir um relatório até agosto, digamos, a
tempo de ele poder ser adotado
na plenária do IPCC que acontece na Coreia do Sul, em outubro", explicou o porta-voz durante uma conferência do Pnuma em Nusa Dua, na ilha indonésia de Bali, onde ministros do
Ambiente estão reunidos.
"No momento, o painel de revisão ainda não existe. Ontem
[anteontem], os Estados-membros [da Convenção do Clima]
deixaram mais ou menos claro
como gostariam que esse painel fosse, ou seja, totalmente
independente e não indicado
pelo IPCC, mas sim por um outro grupo de cientistas independentes", disse Nuttall.
"Acho que vamos conseguir algo conclusivo nesse tema."
"Literatura cinza"
De acordo com ele, a revisão
deverá decidir se é preciso proibir o uso de "literatura cinza"
(termo usado para descrever
estudos que não passaram por
revisão por pares e, portanto,
são considerados menos confiáveis) nos relatórios do IPCC.
Por enquanto, as regras do
órgão permitem referências à
"literatura cinza". Pesquisadores dizem que esses materiais,
como relatórios de agências governamentais ou trabalhos
confiáveis que não tenham sido
publicados em revistas científicas, são cruciais para tentar obter um quadro amplo do estado
atual da ciência climática.
Achim Steiner, diretor-executivo do Pnuma, se diz contrário à proibição do uso da literatura cinza e afirma que a imprensa exagerou os erros do
IPCC. Um dado sobre a sensibilidade da Amazônia a secas, por
exemplo, havia sido criticado
por ter sido extraído de um relatório da WWF. A ONG, porém, se baseara numa pesquisa
publicada na "Nature" pelo
cientista Daniel Nepstad, que
endossou os números usados.
O relatório de 2007, listando
causas e os impactos da mudança climática, cita mais de 10
mil artigos científicos e tem
mais de 3.000 páginas. É a principal fonte para os responsáveis por políticas públicas no
combate à mudança climática.
Críticas ao IPCC, porém, não
se restringem ao uso de "literatura cinza". Nos e-mails que foram roubados de cientistas da
Universidade de East Anglia
-o caso apelidado de "climagate"-, membros do painel sugeriam vetar acesso de céticos do
clima a dados de temperatura e
barrar seus estudos em periódicos científicos indexados.
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