São Paulo, sábado, 27 de fevereiro de 2010

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Painel do clima terá auditoria externa para avaliar dados

ONU anuncia decisão em meio a crise de credibilidade dos dados do IPCC sobre os impactos do aquecimento global

Comissão independente terá "figuras de alto calibre", diz Pnuma; grupo discute veto a estudos científicos sem revisão técnica formal

DA REUTERS

A ONU anunciou que vai nomear um grupo independente de cientistas para a tarefa de revisar o trabalho do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática), que passa por uma crise de credibilidade devido a um conjunto de erros divulgados nos últimos meses.
No seu relatório de 2007, ano em que o painel recebeu o Prêmio Nobel da Paz e colocou a mudança climática no topo da agenda mundial, o IPCC incluiu a informação errada de que as geleiras do Himalaia desapareceriam até 2035. Esse e outros equívocos deram combustível para o ressurgimento do ceticismo climático -a descrença na existência do aquecimento global- mas a ONU diz que a maior parte das afirmações do IPCC ainda é sólida.
O grupo de cientistas será parte de uma revisão do trabalho do IPCC a ser anunciada na semana que vem, disse Nick Nuttall, porta-voz do Pnuma (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente). "Serão figuras científicas de alto calibre, mas agora ainda não posso dar os nomes", afirmou.
"Eles deverão revisar o trabalho do IPCC, produzir um relatório até agosto, digamos, a tempo de ele poder ser adotado na plenária do IPCC que acontece na Coreia do Sul, em outubro", explicou o porta-voz durante uma conferência do Pnuma em Nusa Dua, na ilha indonésia de Bali, onde ministros do Ambiente estão reunidos.
"No momento, o painel de revisão ainda não existe. Ontem [anteontem], os Estados-membros [da Convenção do Clima] deixaram mais ou menos claro como gostariam que esse painel fosse, ou seja, totalmente independente e não indicado pelo IPCC, mas sim por um outro grupo de cientistas independentes", disse Nuttall. "Acho que vamos conseguir algo conclusivo nesse tema."

"Literatura cinza"
De acordo com ele, a revisão deverá decidir se é preciso proibir o uso de "literatura cinza" (termo usado para descrever estudos que não passaram por revisão por pares e, portanto, são considerados menos confiáveis) nos relatórios do IPCC.
Por enquanto, as regras do órgão permitem referências à "literatura cinza". Pesquisadores dizem que esses materiais, como relatórios de agências governamentais ou trabalhos confiáveis que não tenham sido publicados em revistas científicas, são cruciais para tentar obter um quadro amplo do estado atual da ciência climática.
Achim Steiner, diretor-executivo do Pnuma, se diz contrário à proibição do uso da literatura cinza e afirma que a imprensa exagerou os erros do IPCC. Um dado sobre a sensibilidade da Amazônia a secas, por exemplo, havia sido criticado por ter sido extraído de um relatório da WWF. A ONG, porém, se baseara numa pesquisa publicada na "Nature" pelo cientista Daniel Nepstad, que endossou os números usados.
O relatório de 2007, listando causas e os impactos da mudança climática, cita mais de 10 mil artigos científicos e tem mais de 3.000 páginas. É a principal fonte para os responsáveis por políticas públicas no combate à mudança climática.
Críticas ao IPCC, porém, não se restringem ao uso de "literatura cinza". Nos e-mails que foram roubados de cientistas da Universidade de East Anglia -o caso apelidado de "climagate"-, membros do painel sugeriam vetar acesso de céticos do clima a dados de temperatura e barrar seus estudos em periódicos científicos indexados.



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