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GEOLOGIA
Caldeira de 22 km de diâmetro tem 1,85 bilhão de anos e originou grandes depósitos de ouro, cobre e molibdênio
Pesquisa acha vulcão mais velho do Brasil
REINALDO JOSÉ LOPES
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Não dá mais para sair por aí dizendo que os megavulcões são
privilégio do Pacífico. Bem no
meio da Amazônia, um grupo de
pesquisadores da USP acaba de
achar um gigante do mundo vulcânico, com 22 km de diâmetro.
Por sorte, trata-se de um inativo
ancião de 1,85 bilhão de anos. Mas
o achado pode ajudar na busca
por metais de valor econômico,
como ouro, cobre e molibdênio.
É claro, ninguém vai sair abrindo buracos em vulcões extintos
no meio da floresta: o local estudado, cerca de 1.600 km a sudoeste de Belém, na bacia do rio Tapajós, deve apenas servir como modelo para a exploração mineira
em outros terrenos similares no
mundo e no Brasil.
É o que explica Rafael Hernandes Corrêa Silva, 28, um dos participantes da pesquisa, cujo trabalho de mestrado, apresentado ontem no IGC (Instituto de Geociências) da USP, descreve o vulcão
veterano e seu potencial.
De acordo com ele, terrenos
com essa combinação de minerais importantes costumam ser
muito mais jovens em termos
geológicos: em geral, eles surgem
com vulcões do Mesozóico (de
248 a 65 milhões de anos atrás).
Acontece, porém, que vastas porções do território nacional, assim
como regiões da África, do Canadá e dos Estados Unidos, também
são antigas como a do supervulcão amazônico. Procurar estruturas parecidas ajudaria a achar os
cobiçados metais.
"Em geral, rochas dessa época já
estão degradadas. Por isso, um
trabalho como esse pode ser uma
contribuição relevante para a geologia", disse à Folha Leila Marques, do IAG (Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas) da USP. Segundo ela, o vulcão deve ser o mais antigo do
Brasil com a estrutura preservada.
É até difícil traçar um retrato do
que viria a ser a Amazônia no período remoto em que o vulcão
apareceu, que leva o indigesto nome de Paleoproterozóico (termo
grego que pode ser traduzido como "antiga vida primordial").
"É uma época em que nem os
continentes existiam ainda", afirma Silva. Algumas placas tectônicas pré-continentais, mesmo assim, já estavam assumindo uma
posição mais fixa, enquanto outras ainda "flutuavam" e colidiam
pelo antigo oceano da Terra.
Foi uma dessas colisões que
criou o gigante amazônico, que fica perto do município paraense
de Itaituba. Um pequeno vulcão
já havia se formado no mesmo lugar, mas a trombada de uma placa
tectônica que se enfiou debaixo
do trecho de crosta que o sustentava iniciou um processo de desabamento da cratera do vulcão, o
mesmo se dando com o terreno
nas imediações.
Resultado: o que era uma cratera virou uma caldeira vulcânica,
um buraco no chão de 22 km de
diâmetro, em cujas bordas a pressão do magma (massa de rochas
derretidas abaixo da crosta terrestre) foi criando diversos pequenos vulcões. "A quantidade de
cinza que foi lançada na atmosfera deve ter sido imensa. O clima
da região deve ter mudado muito", afirmou Silva.
Paradoxalmente, a região deve
ter esfriado, graças à nuvem de
cinzas que ficou suspensa no ar e
diminuiu a luminosidade. As
chuvas formaram um lago na caldeira e, com o tempo, ele deve ter
ficado cheio das poucas formas de
vida que já existiam na Terra: bactérias e algas microscópicas chamadas cianofíceas.
De acordo com Silva, já se desconfiava da topografia do lugar,
uma depressão quase no nível do
mar (a caldeira) cercada de morros de 500 metros de altura (os pequenos vulcões das bordas).
Contudo, foram as imagens de
satélite, que deixavam entrever a
estrutura da caldeira, as responsáveis por intrigar a equipe, coordenada por Caetano Juliani, orientador de Silva, e da qual também
participam pesquisadores paraenses e norte-americanos. O
teste definitivo veio com a análise
dos minerais: "Dá para ver claramente o jorro do material fundido, que vem de baixo, substituindo as rochas mais antigas", afirma
o pesquisador da USP.
Segundo Silva, é difícil avaliar o
valor das jazidas na região, que
tem outros vulcões extintos de tamanho similar. Além disso, afirma, a área é totalmente isolada, o
que -felizmente- diminui o interesse das mineradoras em explorar o antigo vulcão. O estudo
teve apoio da Fapesp (Fundação
de Amparo à Pesquisa do Estado
de São Paulo) e do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico).
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