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Carvão devasta mata atlântica mineira
Estado vê desmatamento no bioma crescer 15%, na contramão da tendência geral de queda entre 2008 e 2010
No RS, derrubada quase
dobrou, mas em área
bem menor; em SC,
chuvas fizeram taxa
cair em 75%, diz ONG
CLAUDIO ANGELO
EDITOR DE CIÊNCIA
A exploração ilegal de carvão vegetal para siderúrgicas
tornou Minas Gerais o Estado
campeão de desmatamento
na mata atlântica.
O dado é da nova edição
do atlas de remanescentes do
bioma, divulgado ontem pelo Inpe (Instituto Nacional de
Pesquisas Espaciais) e pela
ONG SOS Mata Atlântica.
As imagens de satélite trazem, por um lado, uma boa
notícia: nos nove Estados
monitorados entre 2008 e
2010, a devastação no bioma
caiu 21% em comparação
com a média anual do período anterior, de 2005 a 2008.
Até em Santa Catarina, tradicional líder em destruição
do bioma, o desmate caiu.
Apesar da aprovação, no
ano passado, de uma lei que
permite aos produtores do
Estado desmatarem a mais
em margens de rio (áreas de
proteção permanente), o Estado teve uma redução de
75% na taxa de desmatamento entre 2008 e 2010 em relação à média de 2005 a 2008.
Segundo Flávio Ponzoni,
coordenador do monitoramento da mata atlântica do
Inpe, a queda provavelmente
pode ser explicada pelas
chuvas do final de 2008, que
arrasaram Santa Catarina -e
frearam a economia.
VENDO ALÉM
Por outro lado, Minas e Rio
Grande do Sul contrariaram
a tendência geral, com 15% e
83% de aumento na taxa,
respectivamente.
Neste último Estado, a devastação se concentrou na
região serrana.
Segundo Márcia Hirota,
diretora da SOS Mata Atlântica, a razão da explosão do
desmatamento observado
em terras gaúchas ainda precisa ser explicada.
Mas ela se deve provavelmente não a uma mudança
radical na economia, mas à
melhora do método de detecção, que consegue "enxergar" derrubadas menores.
"No Sul as propriedades
são pequenas. Há 20 anos
[quando o monitoramento
começou] só conseguíamos
ver desmatamentos maiores
que 40 hectares. Hoje, enxergamos até 3 hectares."
Já em Minas, apesar de a
porcentagem de aumento na
taxa ser menor, o tamanho
da devastação é bem maior:
foram 12.524 ha de mata
atlântica perdidos entre 2008
e 2010, contra 1.897 ha no Rio
Grande do Sul.
TRANSIÇÃO
Os cinco municípios que
mais desmataram o bioma
estão todos no norte mineiro,
em florestas de transição entre mata atlântica, cerrado e
caatinga. Nessas áreas há exploração de lenha para a fabricação de carvão vegetal.
Segundo Hirota, é a mesma região que concentrara a
derrubada em 2005-2008.
"Nós já havíamos alertado o
governo do Estado", diz. "Seria interessante ver o que eles
fizeram a respeito."
Está em tramitação na Assembleia Legislativa mineira
um projeto de lei para excluir
as matas dessa região, as
chamadas "florestas secas",
da proteção da Lei da Mata
Atlântica, Isso legalizaria
desmatamentos ali.
"O problema da siderurgia
tem solução", disse Mario
Mantovani, da SOS Mata
Atlântica. "[Minas] já tem
uma área plantada extensa
[de eucalipto para fabricar
carvão], mas há o problema
do contrabando."
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