UOL


São Paulo, sexta-feira, 27 de junho de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

AMBIENTE

Índice é o segundo mais alto dos últimos 15 anos

Desmatamento na Amazônia não traz surpresa, afirma Marina Silva

DA REDAÇÃO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, disse ontem que o índice recorde de desmatamento na Amazônia não foi uma surpresa e que espera resultados semelhantes para 2003.
Dados do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) divulgados anteontem estimam que o desmatamento na Amazônia cresceu 40% no biênio 2001-2002 em relação ao período anterior. A área desmatada passou de 18.166 km2 para 25.476 km2.
Ao fechar o biênio anterior, 2000-2001, o instituto detectou ainda um crescimento de 15% na área originalmente estimada, que subiu de 15.787 km2 para os atuais 18.166 km2. Os dados, divulgados anualmente, vão contra a expectativa que havia no governo FHC de que a tendência seria de queda.
Classificando o aumento de "escalada inaceitável", o governo federal anunciou ontem que montará um esquema de monitoramento da região em tempo real e criará um sistema para obter dados com mais frequência durante o ano, talvez mensalmente.
A partir deste ano, as pesquisas sobre desmatamento serão divulgadas pela internet (www.obt.inpe.br), para que o monitoramento seja feito em tempo real.
"A gente tinha informações do próprio Ibama [Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis] e de institutos que operam na região e sabia que os dados seriam elevados", disse a ministra à Folha.
Segundo Marina Silva, desde o início do mês o governo vem definindo uma série de medidas para tentar reverter a tendência, junto a institutos de pesquisa, ONGs e ministérios responsáveis por políticas destrutivas, como Agricultura, Transportes e Desenvolvimento Agrário. "Desta vez não é uma ação isolada do MMA."
As ações serão divulgadas apenas na próxima semana, após uma reunião do governo marcada para segunda-feira.
Ontem, a ministra divulgou um comunicado conjunto (Casa Civil e ministérios da Ciência e Tecnologia e Meio Ambiente) dizendo que será feita uma análise "técnica e qualificada" da série histórica dos dados do Inpe para identificar tendências e cenários. "O processo não se reverte de uma hora para a outra; 2003 não vai ter resultado diferente", afirmou.
O desmatamento em 2001-2002 na Amazônia é o segundo mais alto já registrado desde que o Inpe começou a medi-lo anualmente. Só perde para o biênio 1994-1995, quando a área devastada foi de 29.059 km2 e o Brasil sofreu pressões internacionais.
As causas do aumento recente ainda não estão plenamente esclarecidas, mas, uma vez que não houve nenhum fenômeno climático que pudesse afetar a dinâmica florestal e o biênio 2001-2002 foi de depressão na economia, as suspeitas recaem sobre o fato de o período ter sido um ano eleitoral.
Nessas épocas, os controles do Estado costumam ser mais frouxos e as pressões dos setores produtivos, maiores. "Não quero simplificar nenhuma explicação desse processo, mas isso [eleições] é uma das primeiras coisas que vêm à cabeça", disse Marina.
O desmatamento se concentrou no chamado Arco do Desflorestamento, que engloba o leste e o sul da Amazônia, principalmente em 53 municípios de Rondônia, Mato Grosso e Pará. Nessa região está 75% da área desmatada.
Esses três Estados concentram atividades como a sojicultura e a criação de gado, consideradas as maiores inimigas da floresta.
"É muito frustrante saber que não conseguimos ter uma política de controle do desmatamento depois de tantas análises", disse Paulo Moutinho, do Ipam (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia). (CLAUDIO ANGELO e LUCIANA CONSTANTINO)


Texto Anterior: Brasil participa de testes iniciais para obter vacina
Próximo Texto: Panorâmica - Evento: Palestra fala sobre a física dos neutrinos
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.