|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
AMBIENTE
Índice é o segundo mais alto dos últimos 15 anos
Desmatamento na Amazônia não traz surpresa, afirma Marina Silva
DA REDAÇÃO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A ministra do Meio Ambiente,
Marina Silva, disse ontem que o
índice recorde de desmatamento
na Amazônia não foi uma surpresa e que espera resultados semelhantes para 2003.
Dados do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) divulgados anteontem estimam que o
desmatamento na Amazônia
cresceu 40% no biênio 2001-2002
em relação ao período anterior. A
área desmatada passou de 18.166
km2 para 25.476 km2.
Ao fechar o biênio anterior,
2000-2001, o instituto detectou
ainda um crescimento de 15% na
área originalmente estimada, que
subiu de 15.787 km2 para os atuais
18.166 km2. Os dados, divulgados
anualmente, vão contra a expectativa que havia no governo FHC
de que a tendência seria de queda.
Classificando o aumento de "escalada inaceitável", o governo federal anunciou ontem que montará um esquema de monitoramento da região em tempo real e
criará um sistema para obter dados com mais frequência durante
o ano, talvez mensalmente.
A partir deste ano, as pesquisas
sobre desmatamento serão divulgadas pela internet (www.obt.inpe.br), para que o monitoramento seja feito em tempo real.
"A gente tinha informações do
próprio Ibama [Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis] e de
institutos que operam na região e
sabia que os dados seriam elevados", disse a ministra à Folha.
Segundo Marina Silva, desde o
início do mês o governo vem definindo uma série de medidas para
tentar reverter a tendência, junto
a institutos de pesquisa, ONGs e
ministérios responsáveis por políticas destrutivas, como Agricultura, Transportes e Desenvolvimento Agrário. "Desta vez não é
uma ação isolada do MMA."
As ações serão divulgadas apenas na próxima semana, após
uma reunião do governo marcada para segunda-feira.
Ontem, a ministra divulgou um
comunicado conjunto (Casa Civil
e ministérios da Ciência e Tecnologia e Meio Ambiente) dizendo
que será feita uma análise "técnica e qualificada" da série histórica
dos dados do Inpe para identificar tendências e cenários. "O processo não se reverte de uma hora
para a outra; 2003 não vai ter resultado diferente", afirmou.
O desmatamento em 2001-2002
na Amazônia é o segundo mais alto já registrado desde que o Inpe
começou a medi-lo anualmente.
Só perde para o biênio 1994-1995,
quando a área devastada foi de
29.059 km2 e o Brasil sofreu pressões internacionais.
As causas do aumento recente
ainda não estão plenamente esclarecidas, mas, uma vez que não
houve nenhum fenômeno climático que pudesse afetar a dinâmica florestal e o biênio 2001-2002
foi de depressão na economia, as
suspeitas recaem sobre o fato de o
período ter sido um ano eleitoral.
Nessas épocas, os controles do
Estado costumam ser mais frouxos e as pressões dos setores produtivos, maiores. "Não quero
simplificar nenhuma explicação
desse processo, mas isso [eleições] é uma das primeiras coisas
que vêm à cabeça", disse Marina.
O desmatamento se concentrou
no chamado Arco do Desflorestamento, que engloba o leste e o sul
da Amazônia, principalmente em
53 municípios de Rondônia, Mato Grosso e Pará. Nessa região está 75% da área desmatada.
Esses três Estados concentram
atividades como a sojicultura e a
criação de gado, consideradas as
maiores inimigas da floresta.
"É muito frustrante saber que
não conseguimos ter uma política
de controle do desmatamento depois de tantas análises", disse
Paulo Moutinho, do Ipam (Instituto de Pesquisa Ambiental da
Amazônia).
(CLAUDIO ANGELO e LUCIANA CONSTANTINO)
Texto Anterior: Brasil participa de testes iniciais para obter vacina Próximo Texto: Panorâmica - Evento: Palestra fala sobre a física dos neutrinos Índice
|