|
Próximo Texto | Índice
Grupo "desliga" desejo sexual em roedor
Fêmea passou a repelir investidas de macho após ter gene do cérebro silenciado com precisão por técnica que usa RNA
Trabalho, de cientistas do
Japão, mostra potencial da
chamada interferência de
RNA no tratamento de uma
série de males neurológicos
RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL
Com mais precisão que um
bombardeio da Força Aérea
Americana, cientistas conseguiram atacar com exatidão um
ponto específico no cérebro e
desligar o interesse de uma fêmea de camundongo por sexo.
Provando mais uma vez o
que já se sabia: o cérebro é o
principal órgão sexual da maioria dos seres vivos, incluindo,
claro, seres humanos. Mas,
além da curiosidade, a nova
pesquisa promete ajudar a buscar novos tratamentos para
distúrbios neurológicos.
O experimento é de ficar com
pena do bichinho macho, como
dá para ver em um vídeo que
acompanha o estudo, disponível na internet aos assinantes
da revista da Academia Nacional de Ciências dos EUA, a
"PNAS" (www.pnas.org).
Dois casais de camundongos
estão em duas gaiolas transparentes nesse vídeo de meros 14
segundos. São fêmeas cinza e
machos brancos. Em cima, os
bichos comuns que fazem parte do "experimento controle"
ficam cheirando o local, se
cheirando, mas lá pelo décimo
segundo o macho monta na fêmea, que aceita a cópula sem
problemas, se agachando para
receber o companheiro roedor.
Na gaiola embaixo o clima é
outro. Logo no começo do filme, o macho tenta montar a fêmea, mas a companheira reage
com violência. São 14 segundos
de frustração masculina e violência feminina.
"Hoje não, querido, estou
sem o gene do receptor de estrógeno-alfa", é o que a fêmea
talvez dissesse, se falasse.
A equipe de cinco pesquisadores liderada por Sonoko
Ogawa, da Universidade de
Tsukuba, Japão, no momento
na Universidade Rockefeller,
de Nova York, publicou artigo
sobre o "silenciamento" desse
gene hoje na "PNAS".
O gene tem um papel importante na regulação desse hormônio. Ele produz um "receptor", um local onde o hormônio
estrógeno vai se ligar para agir.
Estudos anteriores com camundongos que não tinham o
gene deram boas pistas sobre
suas funções, mas não eram
claros sobre sua ação no sexo e
mais especificamente no cérebro. Esses camundongos sem o
gene deixavam todo o corpo
sem receptores de estrógeno.
É que os hormônios sexuais
também têm papel na fase de
desenvolvimento do ser vivo,
notadamente do seu cérebro.
O truque de Ogawa e colegas
foi usar um meio preciso para
desligar o gene em um local específico já em um cérebro adulto. Para isso eles usaram um vírus inofensivo como "vetor" do
material genético que queriam
enxertar no núcleo ventromedial hipotalâmico, uma região
do cérebro.
A técnica conhecida como
interferência de RNA mostrou
ter bom resultado ao "silenciar" o gene que os pesquisadores queriam, o que a torna uma
ótima ferramenta potencial para uso em terapias.
"O silenciamento de genes
pode ser restrito a apenas um
núcleo cerebral e pode ser feito
em um animal normalmente
desenvolvido", afirmam os autores do estudo.
Para eles, essa tecnologia
tem grande potencial na identificação de genes e redes neurais envolvidas em funções cerebrais complexas, além de ser
uma opção terapêutica em casos em que isso possa ser útil
com o "silenciamento" de um
ou mais genes.
Próximo Texto: Ordem de nascimento influencia opção sexual Índice
|