São Paulo, sexta-feira, 27 de junho de 2008

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Planta sobe montanha para fugir do calor

Com o aquecimento global, vegetais migraram, em média, 29,4 metros de altitude a mais por década entre 1995 e 2005

Das 171 espécies estudadas em áreas da França, 118 tiveram deslocamento para outras áreas mais altas e 53 diminuíram a sua elevação

"Science"
Floresta em zona montanhosa na cordilheira Dvoluy, nos Alpes franceses, região estudada

RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL

As plantas estão fugindo do calor provocado pelo aquecimento do planeta. Um estudo com vegetais de montanha na França mostra que eles estão vivendo cada vez mais alto, na direção do frio -subiram em média 29,4 metros por década entre 1905 e 2005.
"O aspecto mais importante da nossa pesquisa é mostrar que a mudança climática está causando conseqüências significativas em um grande conjunto de espécies de plantas", declarou Jonathan Lenoir, em comunicado da revista "Science", que publica na edição de hoje o artigo descrevendo o estudo.
Lenoir, pesquisador do Laboratório de Estudo dos Recursos de Florestas e Bosques, de Nancy, França, e mais quatro colegas -incluindo um cientista chileno- analisaram dois grandes conjuntos de dados de plantas em regiões de montanha do país europeu.
Em entrevista coletiva por telefone, Pablo Marquet, da Pontifícia Universidade Católica do Chile, disse que o estudo demonstrou que não só as espécies estão se deslocando, mas que estão indo para toda parte, e que isso valeria também para outras regiões, "permitindo nos situar em meio a um mar de espécies em movimento".
Para Marquet, este é o primeiro trabalho que permite dizer com confiança que espécies de planta estão se movendo por conta do aquecimento global, e que foi possível demonstrar isso porque outros fatores de mudança que poderiam afetar a pesquisa -como o uso da terra, ou o perda de nitrogênio- foram controlados.
Foram selecionadas 171 espécies de planta, que incluíam desde árvores e arbustos até gramíneas. Para ter mais confiabilidade dos dados, Lenoir e colegas procuraram estudar as espécies mais comuns, deixando as mais raras ou sensíveis de lado. Apesar de existirem 2.853 espécies nas bases de dados, essas 171 representavam 62% do total de ocorrências.

Equador ou Antártida?
Que o aquecimento está afetando a distribuição de espécies de plantas e animais já é sabido. Mas, até agora, os estudos se restringiram mais a variações de calor devido à latitude (quanto mais uma espécie se afasta ou se aproxima do calor do equador ou do frio polar).
As plantas estudadas vivem em altitudes de zero metro a 2.600 metros. Os locais são seis cadeias de montanhas francesas -Alpes Ocidentais, Pirineus do Norte, Maciço Central, Jura Ocidental, Vosges e a cadeia da Córsega.
A mudança climática na França, escreveram os autores, se caracterizou no século 20 por aumento de temperatura acima da média mundial de 0,6C. Na região alpina, a média ficou em 0,9C e se aproximou de 1C desde os anos 1980.
Os autores da pesquisa tomaram cuidado em restringir as florestas nas quais as tendências de longo prazo teriam mais impacto, pois o dossel das árvores age como uma espécie de "zona-tampão" ao amenizar a variação de temperatura durante o ano. Em áreas mais abertas, a variação climática ao longo do ano e as práticas agrícolas causam um impacto maior na temperatura. Isso contribui para tornar as mudanças na distribuição de espécies sob o dossel uma boa indicação de tendências regionais.
Das 171 espécies, 118 tiveram deslocamento para maiores altitudes e 53 diminuíram a sua elevação ótima. A mudança tendeu a ser maior para espécies que estão restritas a habitats de montanha.


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