São Paulo, sábado, 27 de agosto de 2011

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Urso-polar vira dor de cabeça em ilha ártica

Encontros comuns com animal e morte de jovem britânico deixam em alerta arquipélago que pertence à Noruega

Mudança climática estaria deixando os predadores com fome; população do bicho também cresceu

Nick Cobbing/Greenpeace
Urso-polar aproveita o sol na localidade de Liefdefjord, arquipélago de Svalbard

CLAUDIO ANGELO
ENVIADO ESPECIAL A SVALBARD

O urso-polar, símbolo dos problemas causados pela mudança climática, está virando uma dor de cabeça para os 2.000 habitantes da ilha de Spitsbergen, no arquipélago de Svalbard, Noruega.
Encontros entre homem e urso têm sido cada vez mais frequentes por aqui -e especialistas temem que possam se tornar mais letais.
Na capital do arquipélago, Longyearbyen, ainda se comenta o último ataque, no começo do mês. Um urso invadiu um acampamento de estudantes britânicos a 40 km da cidade na madrugada, matando uma pessoa e ferindo gravemente outras quatro.
O caso acendeu uma luz amarela sobre Longyearbyen e o governo de Svalbard.
Foi o primeiro acidente fatal com um urso polar desde 1995, e envolveu praticantes de turismo de aventura, uma das principais atividades econômicas do arquipélago.
Horatio Chapple, 17, dormia com dois colegas numa barraca quando o urso apareceu e o estraçalhou.
"Nunca tivemos um ataque com tanta gente envolvida", disse o vice-governador de Svalbard, Lars Erik Alfheim, que lidera a investigação.
A autópsia do urso mostrou uma camada de gordura fina e quase nada no estômago, o que sugere que o animal, um macho de 250 kg, estava faminto e por isso se afastou da beira da água, onde a espécie geralmente fica para caçar focas.
Alfheim tranquiliza os turistas: "Os ataques mais comuns são a cientistas, que ficam em áreas mais remotas".
O problema é que, nos últimos anos, os ursos têm visitado a periferia de Longyearbyen com maior frequência. É difícil encontrar um morador que não tenha uma história de "isbjorn" (literalmente "urso do gelo", em norueguês) para contar.
"Eu vi um há três semanas enquanto andava de caiaque no fiorde", conta Jenna Anderssen, garçonete de um café no centro da cidade.
Ainda neste verão (do hemisfério Norte) um animal foi visto no aeroporto. No começo do ano, o governo já havia distribuído um alerta sobre ursos na zona urbana.
Há duas explicações para essa aproximação. Uma delas é que a mudança climática pode estar reduzindo as chances de caça dos ursos.
Como o gelo marinho derrete cada vez mais cedo no verão, e os ursos dependem dele para caçar, eles podem estar migrando para terra firme em busca de alternativas.
A outra é mais prosaica: a população do Ursus maritimus simplesmente está se recuperando, depois de ter passado a maior parte do século 20 com sua caça liberada.
Só em 1973 o animal ganhou proteção oficial.
O biólogo Jon Aars, do Instituto Polar da Noruega, apoia a segunda hipótese. "A mudança climática pode estar produzindo mais ursos famintos, mas um número maior de ursos locais e de turistas pode explicar os encontros", afirmou à Folha.
Hoje são 3.000 ursos-polares em Svalbard -10% da população da espécie- contra 2.000 pessoas.
Apesar de terem a maioria, os ursos por enquanto estão levando a pior nesses encontros. "Em média três são mortos a tiros por ano em legítima defesa", afirma Aars.

O jornalista CLAUDIO ANGELO viajou ao Ártico a convite da Embaixada da Noruega e do Greenpeace


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