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Mundo dobra o uso de água subterrânea em quatro décadas
Exploração é tanta que faz com que o líquido do lençol freático corresponda a 25% do aumento do nível do mar
Reservas totais do globo
não são conhecidas,
mas estima-se que 30%
da água doce da Terra
provenha do subsolo
REINALDO JOSÉ LOPES
EDITOR INTERINO DE CIÊNCIA
A humanidade se tornou
uma usuária tão sedenta das
águas subterrâneas do planeta que essa exploração pode ser responsável por um
quarto do aumento anual do
nível dos oceanos.
O dado vem de um artigo
aceito para publicação na revista científica "Geophysical
Research Letters". Nele, uma
equipe liderada por Marc
Bierkens, da Universidade de
Utrecht (Holanda), traça um
mapa não muito animador
do estado das reservas subterrâneas mundo afora.
Usando estatísticas e simulações de computador sobre a entrada e saída de água
dos lençóis freáticos, Bierkens e companhia estimam
que a exploração de água doce subterrânea mais do que
dobrou dos anos 1960 para
cá, passando de 126 km3 para
283 km3 por ano, em média.
A questão, lembram os
pesquisadores, é que ainda
não dá para saber o preço
exato da brincadeira, porque
ninguém tem dados precisos
sobre a quantidade de água
subterrânea no mundo.
Mas, a esse ritmo, se tais
reservas fossem equivalentes
aos célebres Grandes Lagos
dos EUA e Canadá, essa fonte
de água seria esgotada em 80
anos. De qualquer maneira, a
preocupação se justifica porque, de acordo com estimativas, 30% da água doce da
Terra está no subsolo (veja o
quadro acima, à direita).
Com exceção das calotas
polares -as quais ninguém
em sã consciência gostaria
de derreter, já que os efeitos
sobre os mares e o clima seriam imensos-, trata-se da
principal fonte de água potável do mundo. Rios e lagos na
superfície são só 1% do total.
BEBERRÕES
Algumas regiões são especialmente beberronas, mostra a pesquisa. Não por acaso, são centros de grande
produção agrícola em áreas
naturalmente já não muito
chuvosas: noroeste da Índia,
nordeste da China e do Paquistão, Califórnia e Meio-Oeste americano.
A exploração desenfreada
afeta principalmente, como
seria de esperar, os agricultores mais pobres. Segundo
Bierkens, a água que sobrar
"vai acabar ficando num nível tão baixo que um fazendeiro comum, com sua tecnologia normal, não vai mais
conseguir alcançá-la".
Ao trazer para a superfície
quantidades portentosas do
líquido, a exploração sem
muito controle aumenta a
evaporação e, consequentemente, a precipitação em forma de chuva, o que acaba favorecendo o aumento do nível dos mares ligado ao uso
dos aquíferos do subsolo.
Embora a pesquisa não
aborde diretamente a situação brasileira, o país tem razões de sobra para se preocupar com a situação dos aquíferos subterrâneos. O interior
brasileiro abriga, por exemplo, a maior fração do aquífero Guarani, gigantesca reserva com 1,2 milhão de km2.
Hoje, 75% dos municípios
do interior paulista precisam
usar as águas do aquífero para seu abastecimento. No caso de Ribeirão Preto, uma das
principais cidades do Estado,
essa dependência é total.
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