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DROGAS
Cientistas nos EUA acham em roedor proteína da "ferveção" descontrolada que causa superaquecimento do corpo
Grupo encontra o gatilho fatal do ecstasy
RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL
Pesquisadores nos EUA descobriram como a "ferveção" de alguns clubbers nas pistas de dança
pode levá-los a "ferver" demais
-esquentando o corpo até morrer. Uma proteína no organismo,
a UCP-3, foi apontada como essencial para o desenvolvimento
de febres altíssimas que podem
até matar os clubbers usuários da
droga ecstasy.
A droga existe desde a década
de 1910. Seu princípio ativo é conhecido pela sigla MDMA (metilenodioxidometanfetamina). Era
utilizada em psicoterapia e para
inibir o apetite. Tomada por via
oral, passou a ser muito difundida
nos anos 80 e 90 pela tribo urbana
dos clubbers em todo o mundo.
O ecstasy age no sistema nervoso, aumentando a concentração
de serotonina e dopamina, dois
neurotransmissores (substâncias
responsáveis pela comunicação
entre os neurônios, as células do
cérebro). O usuário sente euforia,
bem-estar, fica de bem com o
mundo e com quem estiver em
volta. É uma verdadeira pílula do
amor, mas que pode matar.
Testes com roedores
A equipe liderada por Jon Sprague, da Ohio Northern University, em Ada, Ohio, EUA, testou
camundongos que não tinham a
proteína UCP-3. Os resultados da
pesquisa estão na edição de hoje
da revista científica britânica "Nature" (www.nature.com).
Segundo um relatório da ONU
citado por Sprague e colegas, houve um aumento de 70% no uso dito recreativo da MDMA entre
1995 a 2000. Apesar do crescimento, os casos de morte são raros.
A maior parte das mortes está ligada a uma persistente hipertermia, febres que causam problemas no sistema músculo-esqueletal (músculos que dependem da
vontade, por exemplo o bíceps do
braço) e também danos aos rins.
As proteínas tipo UCP atuam na
regulação da temperatura do corpo, embora com distinções, além
de ainda existir dúvidas sobre o
papel exato de várias delas. Os
pesquisadores foram checar a
UCP-3 porque ela é muito produzida nos músculos esqueletais, e
porque o ecstasy aumenta a temperatura desses músculos.
Os experimentos foram feitos
com camundongos que não produziam a proteína, e também
com camundongos de uma linhagem normal. Todos receberam
doses crescentes de ecstasy.
Os roedores selvagens mostraram um claro aumento na temperatura associado com a dose que
recebiam da droga. Quanto mais
droga, mais "ferveção".
O mesmo não aconteceu com os
animais deficientes em UCP-3
-seu aumento de temperatura
foi bem menor. E mesmo recebendo doses da droga que matariam camundongos comuns, eles
sobreviveram.
Segundo os autores do estudo, a
demonstração de que a proteína
UCP-3 age como uma mediadora
do aquecimento provocado pela
droga pode servir de ponto de
partida para tratamentos futuros.
"Nosso objetivo é ajudar no tratamento de pacientes que ficam perigosamente hipertérmicos", afirma Sprague. Mas um agente terapêutico poderia até ser usados pelos drogados -algo como "tome
a pílula, e se sentir febre, tome a
outra". "Este é um cenário de fato
possível. A descoberta do nosso
estudo pode ajudar nessa direção", diz o pesquisador.
Problemas no coração
O ecstasy também pode causar
ataques do coração em pessoas
relativamente jovens, segundo
um relato que está sendo publicado na edição de dezembro da revista médica "Annals of Emergency Medicine".
Trata-se da história de um homem de 27 anos que procurou o
pronto-socorro depois de sentir
dores no peito por cerca de três
horas. Ele tinha tomado uma garrafa de uísque e tomado meia pílula da droga. Esse é apenas o segundo relato do gênero, de um
"infarto do miocárdio induzido
por MDMA", segundo os autores
do estudo, pesquisadores da Universidade Nacional de Taiwan.
Relatos de efeitos negativos da
droga acompanham o aumento
do número de usuários, pela disseminação da droga e por seu uso
por períodos prolongados. Apesar disso, há cientistas que defendem o uso terapêutico da MDMA,
como ocorre com drogas como
maconha ou morfina (e as mais
perigosas heroína e cocaína).
A Universidade da Carolina do
Sul, nos EUA, pretende testar o
ecstasy em vítimas de estresse
pós-traumático, notadamente em
mulheres vítimas de estupro.
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