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Avanço do mar ameaça 42 mi no Brasil
Estudos avaliam impacto do aquecimento global sobre país e projetam elevação de até 8C na temperatura da Amazônia
Meio Ambiente quer usar os
novos dados, derivados de 8
pesquisas, para elaborar um
plano nacional de combate
às mudanças climáticas
HUMBERTO MEDINA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
CLAUDIO ANGELO
EDITOR DE CIÊNCIA
A elevação no nível dos mares decorrente do aquecimento
global poderá deslocar, até o final deste século, até 42 milhões
de pessoas que habitam cidades
litorâneas no Brasil. Por conta
do calor, casos de doenças como febre amarela, malária e
dengue devem aumentar. A
Amazônia pode esquentar até
8C, com vastas porções de floresta cedendo lugar a uma vegetação semelhante ao cerrado.
Essas são as projeções mais
pessimistas dos estudos divulgados ontem pelo Ministério
do Meio Ambiente sobre os impactos da mudança climática
no país. Oito pesquisas mapearam os efeitos do aumento da
temperatura, usando desde dados atualizados do último relatório do IPCC (Painel Intergovernamental de Mudança Climática) até maquetes da baixada Santista para projetar o efeito da elevação do nível do mar.
A ministra Marina Silva
(Meio Ambiente) defendeu que
o governo federal prepare um
plano de ação para adaptar o
país à nova realidade climática
-irreversível, segundo o próprio governo, mas variável em
sua intensidade.
"O processo que se avizinha é
avassalador, é altamente preocupante", disse a ministra Marina Silva. "Defendo que o governo tenha um plano nacional,
como foi feito para conter o
desmatamento na Amazônia."
Segundo o secretário de Biodiversidade e Florestas do ministério, João Paulo Capobianco, o MMA "já tem uma proposta" de um plano de ação contra
as mudanças climáticas, que
depende de negociação com
outros ministérios. Ela poderá
ser apresentada "em três ou
quatro meses", afirmou.
Um plano contra a mudança
climática incluiria tanto ações
de adaptação (como mudar o
zoneamento em cidades litorâneas para evitar o avanço do
mar) quanto de mitigação. O
Meio Ambiente vê a redução do
desmatamento amazônico como principal ação de mitigação.
"O Brasil tem uma janela de
oportunidade para enfrentar o
problema. Tem uma matriz
energética limpa e a maioria de
suas emissões é por desmatamento, que é algo que governo e
sociedade já estão combatendo", disse Capobianco à Folha.
O ministério, no entanto, fez
ressalvas ao resultado dos estudos. Para o governo, as conclusões "devem ser vistas como
indicadores, não como fatos
consumados". Por isso, seria
preciso fazer mais pesquisas e
melhorar as metodologias usadas, que tiveram falhas e levaram a resultados divergentes.
Além disso, o governo acredita que é preciso levar em conta a possibilidade de as políticas ambientais melhorarem
anulando as previsões.
Encomenda
Os estudos divulgados ontem
foram feitos por universidades
e entidades de pesquisa contratadas pelo ministério em 2004.
O objetivo da contratação (R$ 1
milhão, com financiamento de
várias entidades, como Banco
Mundial), segundo o ministério, é preparar o governo para
lidar com o efeito estufa.
O único estudo divulgado na
íntegra no site do MMA
(www.mma. gov.br) foi realizado pelo Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais).
Ele considerou itens como
chuvas, temperatura, vazão de
rios e extremos climáticos.
Com base nesses itens, foram
montados dois cenários: um
"absolutamente otimista" e outro "totalmente pessimista".
De acordo com o estudo, o
aumento médio da temperatura no Brasil pode chegar a 4C
acima da média verificada em
1961. A temperatura média do
país chegara a 28,9C (cenário
pessimista) ou 26,3C (cenário
otimista) em 2100.
A redução da quantidade de
chuvas afetaria principalmente
a região leste da Amazônia. Para o Sudeste e no Centro-Oeste, a pesquisa apontou também
a possibilidade de aumento de
"extremos do clima", como ondas de calor e chuvas intensas.
No estudo, o climatologista
José Marengo usou um modelo
climático regional recém-desenvolvido pelo Inpe. O modelo é um programa de computador que simula condições futuras após ser alimentado com
dados como temperatura e
concentração de gases-estufa.
O novo modelo "enxerga" a
região com mais detalhe (dividindo-a em células de até 40
km) que os modelos usados pelo IPCC, chamados GCMs ou
modelos de circulação global
(com células de 200 km).
Como o clima é global, o modelo regional precisou ser unido a GCMs. E aqui entrou uma
segunda inovação no estudo:
juntar o modelo do Inpe aos
cinco principais modelos usados pelo IPCC, o que aumenta
a confiabilidade dos resultados.
Segundo Marengo, o que elevará a média das temperatura
na Amazônia não é o aumento
nos extremos, mas sim uma rotina quente. "As temperaturas
de 40C ocorrem agora com
pouca freqüência, mas no futuro podem ocorrer mais", diz.
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