São Paulo, sexta-feira, 28 de abril de 2006

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MATERIAIS

Estrutura de polímero tem 2,5 milímetros e poderá ser usada em câmeras ultraprecisas para aplicações médicas

Americanos criam olho de inseto artificial

DA REPORTAGEM LOCAL

Filmes de horror e ficção científica adoram aqueles olhos de mosca compostos por milhares de pequenos olhinhos, mas agora foi a vez da ciência propriamente dita tirar partido de um dos mais exóticos equipamentos produzidos pela natureza. Uma equipe da Universidade da Califórnia produziu um olho de inseto artificial que promete ter aplicações médicas, industriais e militares.
A idéia de uma mosca-espiã no quartel-general inimigo observando seus planos, sonho de gerações de generais, agora começa a fazer sentido. Ou de um aparelho de endoscopia ultraleve e preciso capaz de sondar em detalhe o interior do corpo humano.
Um olho de uma abelha ou mosca, por exemplo, é constituído por uma combinação de milhares de pequenos olhos, chamados de omatídeos pelos biólogos. Uma libélula chega a ter 30 mil omatídeos por olho. Já o olho artificial criado agora é mais modesto: tem 8.700. Cada um de seus omatídeos tem 30 micrômetros (milésimos de milímetro) de diâmetro, e o olho artificial inteiro tem 2,5 milímetros.
Cada omatídeo ocupa um lugar distinto, apontando cada um para uma direção diferente, na superfície esférica do olho do inseto. O conjunto deles capta um amplo campo de visão, além de permitir uma rápida detecção de movimento -essencial para o inseto evitar um predador.
São atributos que seriam também importantes em equipamentos com usos diversos, o que atraiu o interesse dos pesquisadores Ki-Hun Jeong, Jaeyoun Kim e Luke P. Lee, da Universidade da Califórnia em Berkeley. Os três descrevem os seus "olhos compostos artificiais biologicamente inspirados" em artigo com esse título na edição de hoje da revista científica americana "Science" (www.sciencemag.org).
E inspirado é o termo certo. Lee declara que foi seu treinamento como biofísico e bioengenheiro que deu a idéia de basear seu equipamento no desenvolvimento dos olhos dos insetos.

Para baixo e avante
Um primeiro desafio foi partir da tecnologia existente de microfabricação, que privilegia sistemas em duas dimensões. A equipe precisava de um conjunto de pequenas lentes dispostas em uma superfície esférica.
Também era preciso criar um meio de produzir um conduto interno para a luz em cada "olhinho" -os omatídeos artificiais.
Uma das soluções foi usar a luz para criar o seu próprio canal em cada omatídeo, furando a estrutura, feita de uma resina, como uma broca ultraprecisa com um ângulo exclusivo.
Em vez de usar técnicas tradicionais que se valem de altas temperaturas, Lee e colegas usaram uma resina em temperaturas baixas, mais próximas da natureza. As resinas são afetadas por luz ultravioleta, em um processo chamado de fotopolimerização.
Criado o conduto para a luz dentro do omatídeo, é possível agora colocar na base um dispositivo eletrônico para capturar luz, um CCD, como os de uma câmara fotográfica digital.
(RICARDO BONALUME NETO)


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