|
Próximo Texto | Índice
MATERIAIS
Estrutura de polímero tem 2,5 milímetros e poderá ser usada em câmeras ultraprecisas para aplicações médicas
Americanos criam olho de inseto artificial
DA REPORTAGEM LOCAL
Filmes de horror e ficção científica adoram aqueles olhos de
mosca compostos por milhares
de pequenos olhinhos, mas agora
foi a vez da ciência propriamente
dita tirar partido de um dos mais
exóticos equipamentos produzidos pela natureza. Uma equipe da
Universidade da Califórnia produziu um olho de inseto artificial
que promete ter aplicações médicas, industriais e militares.
A idéia de uma mosca-espiã no
quartel-general inimigo observando seus planos, sonho de gerações de generais, agora começa a
fazer sentido. Ou de um aparelho
de endoscopia ultraleve e preciso
capaz de sondar em detalhe o interior do corpo humano.
Um olho de uma abelha ou
mosca, por exemplo, é constituído por uma combinação de milhares de pequenos olhos, chamados de omatídeos pelos biólogos.
Uma libélula chega a ter 30 mil
omatídeos por olho. Já o olho artificial criado agora é mais modesto: tem 8.700. Cada um de seus
omatídeos tem 30 micrômetros
(milésimos de milímetro) de diâmetro, e o olho artificial inteiro
tem 2,5 milímetros.
Cada omatídeo ocupa um lugar
distinto, apontando cada um para
uma direção diferente, na superfície esférica do olho do inseto. O
conjunto deles capta um amplo
campo de visão, além de permitir
uma rápida detecção de movimento -essencial para o inseto
evitar um predador.
São atributos que seriam também importantes em equipamentos com usos diversos, o que
atraiu o interesse dos pesquisadores Ki-Hun Jeong, Jaeyoun Kim e
Luke P. Lee, da Universidade da
Califórnia em Berkeley. Os três
descrevem os seus "olhos compostos artificiais biologicamente
inspirados" em artigo com esse título na edição de hoje da revista
científica americana "Science"
(www.sciencemag.org).
E inspirado é o termo certo. Lee
declara que foi seu treinamento
como biofísico e bioengenheiro
que deu a idéia de basear seu equipamento no desenvolvimento
dos olhos dos insetos.
Para baixo e avante
Um primeiro desafio foi partir
da tecnologia existente de microfabricação, que privilegia sistemas em duas dimensões. A equipe precisava de um conjunto de
pequenas lentes dispostas em
uma superfície esférica.
Também era preciso criar um
meio de produzir um conduto interno para a luz em cada "olhinho" -os omatídeos artificiais.
Uma das soluções foi usar a luz
para criar o seu próprio canal em
cada omatídeo, furando a estrutura, feita de uma resina, como uma
broca ultraprecisa com um ângulo exclusivo.
Em vez de usar técnicas tradicionais que se valem de altas temperaturas, Lee e colegas usaram
uma resina em temperaturas baixas, mais próximas da natureza.
As resinas são afetadas por luz ultravioleta, em um processo chamado de fotopolimerização.
Criado o conduto para a luz
dentro do omatídeo, é possível
agora colocar na base um dispositivo eletrônico para capturar luz,
um CCD, como os de uma câmara fotográfica digital.
(RICARDO BONALUME NETO)
Próximo Texto: Só mosquitos doentes carregam agente da malária Índice
|