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Pesquisadores criam milho vitaminado
Alimento transgênico foi produzido por grupo com objetivo de reduzir a carência alimentar das populações pobres
Planta é a primeira a conter
vários tipos de vitamina, e
em concentrações maiores
que qualquer cereal; estudo
não teve verba da indústria
RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL
Um grupo internacional de
pesquisadores conseguiu pela
primeira vez produzir um alimento transgênico contendo
mais de um tipo de vitamina e
em quantidades bem maiores.
O milho transgênico contém
tanto do pigmento alaranjado
betacaroteno -substância que
dá origem à vitamina A- que ficou até da cor de cenoura.
Os pesquisadores são acadêmicos sem vínculos com grandes companhias, e seu trabalho,
dizem, visa diminuir a carência
de vitaminas das populações
mais pobres. Em artigo na revista científica "PNAS", eles
lembram que quase metade da
população mundial sofre com
falta de vitaminas.
As vítimas se concentram
nos países subdesenvolvidos,
onde as populações "subsistem
em uma dieta monótona de
grãos", escreveram os autores.
"Nós estimamos que, se uma
pessoa comer de 100 a 200 gramas de milho por dia, terá a dose recomendada completa de
quatro vitaminas carotenogênicas -betacaroteno, licopeno,
zeaxantina e luteína -, níveis
adequados de folato e cerca de
20% da vitamina C", disse à Folha o líder da pesquisa, Paul
Christou, da Universidade de
Lleida e do Instituto Catalão de
Pesquisa e Estudos Avançados,
de Barcelona, Espanha.
"Pela primeira vez nós demonstramos que se pode usar a
engenharia genética e plantas
transgênicas para melhorar
múltiplos traços nutricionais
em uma mesma cultura simultaneamente. Até muito recentemente, mesmo vários cientistas duvidavam de que isso seria
possível", afirmou Christou.
O caso do betacaroteno foi o
mais dramático: a equipe conseguiu aumentar em 169 vezes
a quantidade natural do milho.
Isso também é cinco vezes
mais betacaroteno do que em
outro alimento transgênico, o
chamado "arroz dourado", que
acabou virando propaganda da
biotecnologia "do bem". Para
suprir suas necessidades de vitamina A com esse arroz, no entanto, uma pessoa precisaria
comer mais de 4 quilos por dia.
Bomba
A criação do "supermilho"
envolveu bombardear embriões da planta de 10 a 14 dias
com partículas metálicas cobertas com cinco genes -dois
envolvidos na síntese do betacaroteno, um para vitamina C,
um para folato (vitamina B9) e
um para servir de "marcador".
O supermilho também apresentou nível de vitamina C seis
vezes maior que o natural e
duas vezes mais folatos.
O betacaroteno é importante
para a visão. A vitamina B9 é
fundamental para a formação
de proteínas e da hemoglobina
do sangue, e importante para
evitar anemias. Já a vitamina C
é importante para a formação
do colágeno, a proteína que dá
resistência aos ossos e dentes.
Ainda é preciso estudar melhor a capacidade de absorção
dessas vitaminas do milho pelo
organismo humano. O processo de cozimento também poderia destruí-las. Mas Christou é
otimista. "Lembre-se que nós
comemos vegetais cozidos e
ainda assim obtemos uma boa
dose de vitaminas", diz.
Ele rebate as críticas feitas
por grupos ambientalistas, que
não admitem nenhuma forma
de cultura transgênica.
"A comercialização e a liberação de plantas transgênicas são
governadas por regras draconianas e sem paralelo em qualquer outro setor. A União Europeia, após um estudo de 15
anos envolvendo 400 instituições públicas de pesquisa, a um
custo de 70 milhões, declarou
que plantas e produtos derivados geneticamente modificados não apresentam risco à
saúde ou ao ambiente."
"Trabalho neste campo faz
27 anos. Não tenho filiação à
Monsanto, Syngenta, ou qualquer outra companhia de biotecnologia, e todo nosso financiamento é público e aberto,
como nossa pesquisa focando
em aplicações humanitárias
em países em desenvolvimento", diz o pesquisador.
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