São Paulo, terça-feira, 28 de maio de 2002

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MEDICINA

Tratamento usa vírus para inserir DNA saudável no animal; pesquisadores querem testar a técnica em humanos

Geneterapia cura infertilidade em roedor

CHARLES ARTHUR
DO "THE INDEPENDENT"

Um grupo de cientistas está oferecendo esperança a casais inférteis ao substituir com sucesso genes defeituosos em camundongos por cópias funcionais, restaurando a fertilidade dos animais. Os pesquisadores dos EUA e do Japão acham que sua técnica poderia agora ser usada em humanos.
Acredita-se que até 20% dos casais sejam inférteis, dos quais 30% a 50% são por culpa do homem -e a falha quase sempre tem uma origem genética.
Os grandes índices de infertilidade são usados como "desculpa" pelos defensores da clonagem reprodutiva. Eles defendem que, nesses casos, a única forma de permitir que um indivíduo tenha um filho que possua seu material genético seria por clonagem.
Os cientistas agora parecem apontar para uma alternativa, funcional pelo menos para parte dos casos de infertilidade. Em seus experimentos, os pesquisadores descobriram que, ao inocular genes funcionais em uma forma de vírus chamada de lentivírus -que insere seu próprio DNA no de seu hospedeiro- eles poderiam restaurar células não-funcionais à saúde perfeita.
Os camundongos foram então capazes de produzir espermatozóides, e, usando um método de fertilização in vitro chamado injeção de espermatozóide introcitoplasmática (Icsi, na sigla em inglês), que já é consagrado e frequentemente utilizado em humanos, cinco camundongos machos foram capazes de ter 390 filhotes.
Melhor ainda, os filhotes não carregavam nenhum dos genes do lentivírus. Isso indica que a terapia aparentemente é segura, apesar de chegar perigosamente perto da chamada geneterapia de células germinativas, na qual a técnica poderia ser usada para modificar a herança genética de um indivíduo.
Uma porta-voz da Autoridade de Fertilização Humana e Embriologia, órgão que precisa licenciar qualquer uso da técnica em humanos no Reino Unido, se declarou otimista, mas cautelosa. "Vamos acompanhar isso com grande interesse, mas é um salto gigantesco ir de estudos iniciais com animais a responder sobre quais seriam os efeitos em seres humanos. Provavelmente não rejeitaríamos em princípio, mas teríamos de olhar para todas as aplicações, a fim de usar esse método individualmente".
A chave para o sucesso da técnica é que ela não passa o DNA "inserido" do lentivírus, mesmo que ele esteja agindo nas células que ajudam a gerar os espermatozóides, evitando que seu conteúdo seja transmitido aos óvulos posteriormente fecundados.
A terapia genética de células germinativas é proibida por causa de seus riscos potenciais -os cientistas ainda não estão certos sobre a estabilidade de modificações como essa e se o DNA do vírus utilizado para adicionar as mudanças seria seguro se passado aos descendentes dos tratados.
O novo sistema pareceu ser seguro, disse a equipe do Laboratório de Genética no Salk Institute, em La Jolla, Califórnia (EUA), e do Instituto de Pesquisa Química e Física, em Tsukuba, Japão.
Mas na revista da Academia Nacional de Ciências dos EUA, a "PNAS" (www.pnas.org), os autores apontam que "mais estudos detalhados e de larga escala podem ser necessários, porque é difícil excluir totalmente a possibilidade de transmissão por células germinativas".



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