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CRIMINALÍSTICA
Equipe de elite da Secretaria da Segurança Pública e do Ipen publica artigo nos EUA com técnica mais precisa
Novo método paulista denuncia atirador
SALVADOR NOGUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Um grupo de especialistas brasileiros está unindo forças para
mostrar que pesquisa científica
pode, sim, ser caso de polícia. Eles
acabaram de desenvolver um método mais preciso e confiável para
determinar se um suspeito de fato
disparou uma arma -e qual.
O trabalho, realizado em conjunto por peritos do Instituto de
Criminalística de São Paulo e por
pesquisadores do Ipen (Instituto
de Pesquisas Energéticas e Nucleares), será publicado na edição
de julho do "Journal of Forensic
Sciences" (journalsip.astm.org/jofs/). Trata-se de uma publicação americana de renome internacional em ciências forenses
-área do conhecimento ligada à
obtenção de provas de origem
técnica a partir de material coletado na cena do crime, ou entre os
envolvidos na ocorrência.
O estudo é o primeiro do grupo
a ganhar destaque, mas não será o
último. Concebido a partir de um
acordo assinado em 2000 pelo governador Geraldo Alckmin, estabelecendo a parceria entre a Secretaria da Segurança Pública do
Estado de São Paulo e o Ipen, o
grupo é uma espécie de tropa de
elite na área de ciências forenses.
Os estudos devem tornar o trabalho policial mais próximo do
que se vê na série de TV "C.S.I.",
transmitida no Brasil pela Sony,
em que tecnologia e perícia legal
se juntam na solução de crimes.
A técnica desenvolvida pelo
grupo de Jorge Sarkis, do Ipen, e
Osvaldo Negrini Neto, do Instituto de Criminalística, já está até
tendo uso em investigações reais.
Coleta e análise
O método consiste em duas etapas. A primeira delas ocorre na
coleta de material para análise.
Para descobrir se um suspeito disparou uma arma, a melhor forma
é tentar coletar em suas mãos resíduos do disparo -partículas de
metais como chumbo, bário e antimônio são os traços mais comuns. Alguns procedimentos para isso, como o uso de fita adesiva
ou esparadrapo para arrancar as
partículas da pele, já estão ultrapassados e muitas vezes dão um
resultado negativo falso.
O novo método usa algodão
embebido num ácido para captar
as partículas. A coleta é feita em
áreas específicas da mão, não em
toda sua superfície, de modo a
evitar também falsos positivos.
Depois disso, entra a fase de fato
tecnológica. As amostras são levadas ao Ipen, onde um analisador
originalmente usado para pesquisas de física e química nuclear
processa os resultados.
"Com isso, é possível verificar as
assinaturas químicas de diferentes armas. Aí você pode dizer se o
disparo veio de um 38, de uma 9
mm etc.", diz Serkis. "O equipamento tem uma precisão para
analisar amostras de uma parte
por trilhão ou uma parte por quatrilhão -alguns poucos átomos
podem ser identificados", complementa Negrini Neto.
O uso desse equipamento de alta precisão na análise das amostras já foi feito em outros países.
"Mas o método de coleta é totalmente novo e mostrou eficiência
até 400% superior a técnicas tradicionais", diz Negrini Neto.
A metodologia pode ser um diferencial importante na solução
de crimes, especialmente quando
as circunstâncias envolverem alegação de legítima defesa num caso de homicídio. Será possível
confirmar ou refutar o relato do
suspeito de que a vítima teria de
fato atirado contra ele antes.
O trabalho, financiado pela Fapesp (Fundação de Amparo à
Pesquisa do Estado de São Paulo),
é apenas um exemplo do que a
ciência pode fazer pela lei. Outro
estudo, também do grupo do Ipen
e do IC, está usando detecção de
traços de metal para apontar a
origem da maconha apreendida
na cidade de São Paulo.
"Esse trabalho está na fase de
conclusão", diz Sarkis. "Não precisamos mais depender da alegação do traficante para apontar a
origem da droga. Comparando a
presença de metais com amostras
de terreno de onde ela poderia ter
vindo, podemos confrontar o depoimento", continua.
Segundo Negrini Neto, os resultados do estudo demonstram que
95% da maconha apreendida na
capital paulista teve origem nos
Estados do sul do país, não do
norte, como alegavam antes vários dos traficantes presos.
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