São Paulo, sexta-feira, 28 de maio de 2004

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ASTRONOMIA

Estudos com telescópio espacial também revelam ingredientes da vida em discos de poeira de estrelas jovens

Nasa encontra planeta-bebê extra-solar

SALVADOR NOGUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Astrônomos nos EUA anunciaram a descoberta do que pode ser o planeta mais novo já detectado. Já outro grupo de pesquisadores, usando o mesmo equipamento, identificou pela primeira vez de forma indubitável a presença dos ingredientes essenciais à vida num disco de poeira ao redor de outra estrela, que não o Sol.
As descobertas são apenas as primeiras, de muitas mais que promete o Telescópio Espacial Spitzer, lançado no ano passado pela Nasa, a agência espacial americana. Coletando luz em freqüências do infravermelho que não podem ser observadas do solo, o sistema faz maravilhas na caça a discos de poeira em torno de estrelas jovens. Acredita-se que esses aglomerados de gás e partículas sejam a matéria-prima para a construção de planetas.
A hipótese de que esse seja o modo pelo qual as estrelas fabricam seus planetas remonta ao final do século 18, elaborada principalmente pelo matemático francês Pierre-Simon de Laplace (1749-1827). Mas o primeiro desses discos só foi observado mesmo nos anos 1980, por cientistas do Caltech (Instituto de Tecnologia da Califórnia), instituição-mãe do JPL (Laboratório de Propulsão a Jato da Nasa), órgão que hoje administra o Spitzer.
A detecção do planeta-bebê ocorreu durante um rastreamento de uma coleção de estrelas jovens, à procura de mais exemplos desses chamados discos de acreção. Num deles, em torno da estrela CoKu Tau 4, eles acharam algo intrigante: um vão, no meio do disco. A explicação mais provável, segundo eles, é a de que um planeta gigante gasoso esteja naquela posição, agindo como um "limpa-trilho", num sistema ainda em fase final de formação.
Caso seja confirmado, será o planeta mais novo já detectado -praticamente um bebê, com menos de 1 milhão de anos de idade. Para efeito de comparação, a Terra tem uns 4,6 bilhões de anos.
Já a descoberta dos traços de gelo e compostos orgânicos (como etanol) foi feita por Dan Watson e William Forrest, da Universidade de Rochester, nos EUA. Eles usaram o Spitzer para observar cinco estrelas jovens na constelação de Touro, a 420 anos-luz daqui (um ano-luz equivale a 9,5 trilhões de quilômetros).
A descoberta confirma a hipótese de que essas substâncias são o "feijão com arroz" da formação de planetas cosmos afora -o que leva à conclusão de que, no que depender de matéria-prima, a vida deve ser comum no Universo.
Os feitos foram anunciados ontem, no JPL da Nasa, em Pasadena, Califórnia. Os detalhes técnicos das descobertas serão revelados futuramente em artigos publicados no suplemento da publicação especializada "Astrophysical Journal", em 1º de setembro.

Para o "Guinness Book"
Além da detecção dos ingredientes da vida e do planeta mais jovem, os astrônomos presentes também apresentaram um novo recorde: os dois discos de acreção mais distantes já observados.
Eles estão num berçário estelar com cerca de 300 estrelas recém-nascidas, chamado RCW 49. Ele está localizado a 13.700 anos-luz da Terra, na constelação do Centauro. "Dados preliminares sugerem que todas as 300 ou mais estrelas abrigam discos, mas até agora só olhamos de perto duas delas. Ambas tinham discos", disse Ed Churchwell, astrônomo da Universidade de Wisconsin e líder da equipe que conduziu esse estudo específico com o Spitzer.


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