São Paulo, segunda-feira, 28 de maio de 2007

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Genes comuns causam câncer de mama

Estudo inédito identifica, de uma vez, quatro novos genes associados com doença que mata 500 mil mulheres por ano

Mutações trazem risco baixo de tumor para suas portadoras, mas uma delas está presente em 16% da população, aponta pesquisa


Caio Guatelli - 30.jan.2002/Folha Imagem
Pesquisador analisa chip de DNA usado em detecção de tumor


CLAUDIO ANGELO
EDITOR DE CIÊNCIA

Um grupo internacional identificou, numa tacada só, quatro genes envolvidos no surgimento do câncer de mama. A boa notícia é que eles trazem um risco relativamente baixo da doença para as mulheres que os possuem. A má é que eles são bem comuns na população: um deles, por exemplo, está presente em uma em cada seis leitoras deste texto.
A descoberta é o maior avanço na guerra da genética contra o câncer de mama desde os anos 1990, quando foram isolados os primeiros genes ligados à doença, que mata 500 mil pessoas todos os anos.
Embora ainda não seja possível fazer testes para detectar os novos genes, os cientistas acham que a nova descoberta permitirá identificar mulheres jovens com risco aumentado de desenvolver a doença e submetê-las mais cedo à mamografia.
O estudo, publicado na forma de três artigos científicos nas revistas "Nature" e "Nature Genetics", também é um marco na pesquisa básica: é a primeira vez que se faz uma garimpagem em dois terços das 3 bilhões de letras genéticas do genoma humano em busca de trechos alterados do DNA (mutações) ligados ao tumor de mama.
E os pesquisadores "bamburraram" na procura: numa amostra de quase 50 mil mulheres, eles encontraram mutações em quatro genes onde não se sabia existirem fatores de risco e uma em uma região do genoma onde ainda não se identificou nenhum gene.
Variações em um desses genes -o FGFR2, presente em 16% da população- aumentam o risco de tumor de 1 em 11 para 1 em 6 em portadoras de duas cópias do gene.
Até agora, os genes mais importantes ligados ao tumor de mama já descobertos eram o BRCA1 e o BCRA2. Mulheres com duas cópias alteradas de um deles em seu DNA (cada um de nós recebe duas cópias de cada gene, uma do pai e uma da mãe) têm de 50% a 85% de risco de ter a doença.
Mas ambos são raros, e só explicam de 5% a 10% dos casos de câncer de mama. Mesmo assim, sua detecção em testes genéticos faz várias mulheres com histórico familiar da doença se submeterem à extração preventiva do seio.
As mutações recém-identificadas, juntas, explicam apenas 4% dos tumores de mama. "Portanto, não é provável que isso provoque uma onda de mastectomias preventivas", disse à Folha o geneticista Marcelo Nóbrega, da Universidade de Chicago (EUA).
"Mas uma série de estudos a partir de agora associarão essas variações genéticas novas a respostas a tratamentos variados, prognóstico de progressão da doença e sobrevida. É possível que, daqui a vários anos, desses estudos possam surgir indicações de terapias específicas para cânceres de mama com assinaturas genéticas diferentes", continuou Nóbrega.

Arrastão
O método usado para a identificação, a busca no genoma completo, tem se tornado possível sobretudo devido ao barateamento da tecnologia genômica. Segundo Nóbrega, com ele os cientistas já pescaram no último ano e meio novas variantes genéticas associadas a diabetes e câncer de próstata.
Bruce Ponder, autor-sênior do estudo, compara o método a uma pesca com redes de arrasto, em vez dos caniços usados até agora para descobrir genes de interesse no caudal do DNA.
Isso abre as portas para a identificação de mais genes ligados ao câncer de mama -75% dos casos da doença ainda não têm causa identificada.


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