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TECNOLOGIA
Modelo criado pela Petrobras usa só uma coluna e dá maior estabilidade para exploração de jazidas no mar
Brasil inova em plataforma de petróleo
MARCUS VINICIUS MARINHO
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Uma plataforma de petróleo
com coluna única e uma piscina
estabilizadora no centro é a mais
nova contribuição da engenharia
nacional para a exploração de petróleo brasileiro. Por enquanto é
só um projeto, mas já se encontra
na fila daqueles que poderão ser
postos em construção pela Petrobras a partir de agora.
Chamada de MonoBR, é uma
plataforma marítima para exploração de petróleo em alto-mar
(em profundidades que passam
de 1.500 m). O resultado da estrutura em coluna com um buraco
no meio: estabilidade, durabilidade e segurança dos trabalhadores no mar.
"Do ponto de vista do projeto
do casco, as outras plataformas
normalmente têm menos estabilidade, maiores riscos no caso de
uma colisão e uma tendência de
ter um casco mais difícil de construir", diz um dos responsáveis
pelo projeto, o engenheiro Isaías
Quaresma Masetti, 47, do Cenpes
(Centro de Pesquisa e Desenvolvimento) da Petrobras.
A inovação foi desenvolvida por
cientistas da estatal em colaboração com pesquisadores da USP,
da UFRJ, da Ufal (Universidade
Federal de Alagoas), do IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas
do Estado de São Paulo) e da Marinha brasileira.
Além das plataformas "de jaqueta", que realizam a extração de
petróleo fixadas ao leito oceânico,
existem as plataformas semi-submersíveis convencionais (flutuantes, ancoradas por cabos), a
maioria com várias colunas de
sustentação -como aquela em
que ocorreu a explosão que afundou a P-36 em março de 2001).
Inovação no projeto
Embora seja desse segundo tipo, a MonoBR, com 95 metros de
comprimento, tem uma coluna
cilíndrica só. Isso, segundo os
pesquisadores, confere maior estabilidade. Tem também uma
abertura bem no fundo do casco,
chamado de "moonpool" (literalmente, "piscina da lua"), que minimiza os movimentos (e o desgaste) produzidos pelas ondas.
Embora a "moonpool" seja conhecida de projetistas do setor,
ela é normalmente utilizada em
navios para permitir o acesso de
equipamentos de perfuração ao
fundo do mar, e não para diminuir movimentos verticais e horizontais. O nome estranho tem
uma explicação idem: "Diz-se
que, antigamente, os marinheiros
olhavam para a abertura e, como
a água ali se movimenta muito
menos que a água das redondezas, à noite podiam ver a lua claramente refletida", diz Masetti.
A moonpool é a grande vantagem da MonoBR. "Já existem várias plataformas de uma única coluna instaladas no mundo, especialmente no golfo do México",
diz Masetti. "No entanto, o conceito de moonpool, inovador,
compensa os movimentos fora do
plano. Isso permite que a plataforma seja projetada com calados
[distância vertical entre a superfície da água e a face inferior da quilha] menores, algo muito conveniente para construção do casco e
montagem do convés", afirma.
Segundo o pesquisador, a plataforma foi especialmente projetada para a realidade do mar e do
petróleo nacionais. "O Brasil tem
um mar relativamente calmo,
mas em estado de oscilação constante. A MonoBR foi projetada
olhando para esse contexto, de
forma a possuir uma boa reserva
de estabilidade com painéis contínuos e poucos pontos de concentração de tensão", diz.
Só no papel
Embora seja ainda um projeto, a
nova plataforma, que já resultou
em um pedido de patente nos
EUA, já passou por todos os "vestibulares" que a empresa estatal
faz para avalizar novos conceitos.
Assim, a MonoBR já pode ser relacionada na lista de alternativas
disponíveis para licitações de plataformas, o que servirá também
para que se avalie seu preço.
"Uma eventual vantagem em
termos de preço do casco seria
confirmada só numa licitação em
que apresentássemos ao mercado
as opções equivalentes para serem cotadas", diz Masetti. "O preço de construção é um item difícil
de comparar, pois depende da
oportunidade de mercado, das facilidades do estaleiro e de sua experiência mais recente."
Segundo Masetti, o objetivo
principal da MonoBR não é ser
uma plataforma de baixo custo.
"Queremos que ela seja competitiva, porém preferimos que seus
maiores ganhos sejam operacionais, que aproveitem as características intrínsecas do casco -e
não só vantagens de preço em termos do peso em aço."
Ainda há desconfianças a vencer, porém: "Todo mundo fica
com o pé atrás nessa área. Inovações em plataformas de petróleo
só são utilizadas se trouxerem
muitos ganhos", diz. "Por isso, estamos planejando melhorias como um novo sistema de ancoramento, por exemplo."
A MonoBR foi apresentada em
reportagem na edição número
100 da revista "Pesquisa Fapesp"
(revistapesquisa.fapesp.br).
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