São Paulo, segunda-feira, 28 de junho de 2004

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TECNOLOGIA

Modelo criado pela Petrobras usa só uma coluna e dá maior estabilidade para exploração de jazidas no mar

Brasil inova em plataforma de petróleo

MARCUS VINICIUS MARINHO
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Uma plataforma de petróleo com coluna única e uma piscina estabilizadora no centro é a mais nova contribuição da engenharia nacional para a exploração de petróleo brasileiro. Por enquanto é só um projeto, mas já se encontra na fila daqueles que poderão ser postos em construção pela Petrobras a partir de agora.
Chamada de MonoBR, é uma plataforma marítima para exploração de petróleo em alto-mar (em profundidades que passam de 1.500 m). O resultado da estrutura em coluna com um buraco no meio: estabilidade, durabilidade e segurança dos trabalhadores no mar.
"Do ponto de vista do projeto do casco, as outras plataformas normalmente têm menos estabilidade, maiores riscos no caso de uma colisão e uma tendência de ter um casco mais difícil de construir", diz um dos responsáveis pelo projeto, o engenheiro Isaías Quaresma Masetti, 47, do Cenpes (Centro de Pesquisa e Desenvolvimento) da Petrobras.
A inovação foi desenvolvida por cientistas da estatal em colaboração com pesquisadores da USP, da UFRJ, da Ufal (Universidade Federal de Alagoas), do IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo) e da Marinha brasileira.
Além das plataformas "de jaqueta", que realizam a extração de petróleo fixadas ao leito oceânico, existem as plataformas semi-submersíveis convencionais (flutuantes, ancoradas por cabos), a maioria com várias colunas de sustentação -como aquela em que ocorreu a explosão que afundou a P-36 em março de 2001).

Inovação no projeto
Embora seja desse segundo tipo, a MonoBR, com 95 metros de comprimento, tem uma coluna cilíndrica só. Isso, segundo os pesquisadores, confere maior estabilidade. Tem também uma abertura bem no fundo do casco, chamado de "moonpool" (literalmente, "piscina da lua"), que minimiza os movimentos (e o desgaste) produzidos pelas ondas.
Embora a "moonpool" seja conhecida de projetistas do setor, ela é normalmente utilizada em navios para permitir o acesso de equipamentos de perfuração ao fundo do mar, e não para diminuir movimentos verticais e horizontais. O nome estranho tem uma explicação idem: "Diz-se que, antigamente, os marinheiros olhavam para a abertura e, como a água ali se movimenta muito menos que a água das redondezas, à noite podiam ver a lua claramente refletida", diz Masetti.
A moonpool é a grande vantagem da MonoBR. "Já existem várias plataformas de uma única coluna instaladas no mundo, especialmente no golfo do México", diz Masetti. "No entanto, o conceito de moonpool, inovador, compensa os movimentos fora do plano. Isso permite que a plataforma seja projetada com calados [distância vertical entre a superfície da água e a face inferior da quilha] menores, algo muito conveniente para construção do casco e montagem do convés", afirma.
Segundo o pesquisador, a plataforma foi especialmente projetada para a realidade do mar e do petróleo nacionais. "O Brasil tem um mar relativamente calmo, mas em estado de oscilação constante. A MonoBR foi projetada olhando para esse contexto, de forma a possuir uma boa reserva de estabilidade com painéis contínuos e poucos pontos de concentração de tensão", diz.

Só no papel
Embora seja ainda um projeto, a nova plataforma, que já resultou em um pedido de patente nos EUA, já passou por todos os "vestibulares" que a empresa estatal faz para avalizar novos conceitos. Assim, a MonoBR já pode ser relacionada na lista de alternativas disponíveis para licitações de plataformas, o que servirá também para que se avalie seu preço.
"Uma eventual vantagem em termos de preço do casco seria confirmada só numa licitação em que apresentássemos ao mercado as opções equivalentes para serem cotadas", diz Masetti. "O preço de construção é um item difícil de comparar, pois depende da oportunidade de mercado, das facilidades do estaleiro e de sua experiência mais recente."
Segundo Masetti, o objetivo principal da MonoBR não é ser uma plataforma de baixo custo. "Queremos que ela seja competitiva, porém preferimos que seus maiores ganhos sejam operacionais, que aproveitem as características intrínsecas do casco -e não só vantagens de preço em termos do peso em aço."
Ainda há desconfianças a vencer, porém: "Todo mundo fica com o pé atrás nessa área. Inovações em plataformas de petróleo só são utilizadas se trouxerem muitos ganhos", diz. "Por isso, estamos planejando melhorias como um novo sistema de ancoramento, por exemplo."
A MonoBR foi apresentada em reportagem na edição número 100 da revista "Pesquisa Fapesp" (revistapesquisa.fapesp.br).


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