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São Paulo, segunda-feira, 28 de julho de 2003

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COSMOLOGIA

Projeto pretende responder às perguntas que cientista alemão deixou, diz pesquisador da agência espacial

Nasa cria programa para ir além de Einstein

SALVADOR NOGUEIRA
ENVIADO ESPECIAL AO RIO

Como toda boa teoria, a da relatividade geral de Albert Einstein levantou mais perguntas do que respondeu. Um recém-criado programa da Nasa pretende começar a atacar essas questões fundamentais deixadas como incógnitas nas idéias einsteinianas sobre a gravitação.
Nicholas White, cientista da agência espacial americana, apresentou na manhã do último sábado a seus colegas o programa "Beyond Einstein" (além de Einstein, na tradução), durante o último dia de atividades da 10a Reunião Marcel Grossmann de Relatividade Geral, evento que congregou durante a semana passada centenas de físicos do mundo todo no Rio de Janeiro.
Segundo White, a teoria da relatividade geral levanta, mas não é capaz de responder, três questões profundas. Para começar, as equações, somadas às observações astronômicas, sugerem que o Universo está em expansão. Pensando inversamente, o cosmos já deve ter estado no passado mais condensado do que está. Levando esse raciocínio ao extremo, os cientistas acreditam que o Universo teria começado numa grande explosão, num ponto muito denso e quente. Mas o que alimentou esse assim chamado Big Bang? A relatividade não dá palpites a esse respeito.
Foi a teoria de Einstein também que aludiu à existência de buracos negros, massas estelares tão compactas que a gravidade existente em sua superfície impede que qualquer coisa escape de lá, até mesmo a luz. Mas é impossível usar essa mesma teoria para tentar entender completamente o que acontece com o espaço, com o tempo e com a matéria na borda de um desses objetos -é preciso levar em conta também efeitos de natureza quântica, governados por outras leis físicas, que em princípio parecem ser incompatíveis com a relatividade.
Para terminar, em seu modelo do Universo baseado na relatividade, Einstein introduziu uma "constante cosmológica", uma misteriosa força física desconhecida em que ele acreditava, por razões ideológicas. Hoje esse mistério se manifesta na forma da energia escura, um enigma da natureza que está fazendo com que o cosmos acelere seu ritmo de expansão, ao contrário do esperado.

À procura de respostas
Por essas e outras, "o legado de Einstein claramente está incompleto", disse White. E a Nasa pretende produzir instrumentos, usando a plataforma singular e extremamente valiosa do espaço, para sondar essas questões fundamentais acerca do funcionamento do cosmos.
A agência espacial americana deve começar a financiar o programa a partir do ano que vem. A idéia é construir, ao longo da próxima década, dois "Grandes Observatórios de Einstein". O primeiro deles seria o Lisa (sigla para Conjunto Espacial de Interferometria a Laser), o primeiro detector de ondas gravitacionais colocado no espaço.
Segundo a teoria, ondas gravitacionais são geradas quando algum corpo se movimenta. Como são muito fracas, nunca foram detectadas. Mas vários sistemas criados em terra e, agora com o Lisa, no espaço deverão começar a fazer medições desse efeito previsto pela relatividade.
Caso isso se confirme, os cientistas esperam usar esses detectores para vasculhar uma época do Universo em que nenhum tipo de radiação eletromagnética era propagado, mas ondas gravitacionais já existiam.

Frota espacial
O segundo Grande Observatório de Einstein será o Constellation-X. Como o próprio nome já sugere, será uma constelação de satélites para captar raios X como nunca antes se fez na história da pesquisa astronômica.
Sabe-se que a matéria que está prestes a cair num buraco negro é acelerada a velocidades altíssimas e emite grandes quantidades de raios X. O novo observatório concebido pela Nasa deve oferecer grandes lampejos sobre o que ocorre nas imediações do buraco negro e deve ser capaz de "fotografar" com clareza o chamado "horizonte de eventos", ponto a partir do qual a luz já não consegue mais escapar do objeto.
Com o projeto, a Nasa espera conseguir responder a algumas questões que hoje seguem sendo uma interrogação. Mas, claro, o que de fato se espera são as novas perguntas que o "Beyond Einstein" deve suscitar.


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