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COSMOLOGIA
Projeto pretende responder às perguntas que cientista alemão deixou, diz pesquisador da agência espacial
Nasa cria programa para ir além de Einstein
SALVADOR NOGUEIRA
ENVIADO ESPECIAL AO RIO
Como toda boa teoria, a da relatividade geral de Albert Einstein
levantou mais perguntas do que
respondeu. Um recém-criado
programa da Nasa pretende começar a atacar essas questões fundamentais deixadas como incógnitas nas idéias einsteinianas sobre a gravitação.
Nicholas White, cientista da
agência espacial americana, apresentou na manhã do último sábado a seus colegas o programa "Beyond Einstein" (além de Einstein,
na tradução), durante o último
dia de atividades da 10a Reunião
Marcel Grossmann de Relatividade Geral, evento que congregou
durante a semana passada centenas de físicos do mundo todo no
Rio de Janeiro.
Segundo White, a teoria da relatividade geral levanta, mas não é
capaz de responder, três questões
profundas. Para começar, as
equações, somadas às observações astronômicas, sugerem que
o Universo está em expansão.
Pensando inversamente, o cosmos já deve ter estado no passado
mais condensado do que está. Levando esse raciocínio ao extremo,
os cientistas acreditam que o Universo teria começado numa grande explosão, num ponto muito
denso e quente. Mas o que alimentou esse assim chamado Big
Bang? A relatividade não dá palpites a esse respeito.
Foi a teoria de Einstein também
que aludiu à existência de buracos
negros, massas estelares tão compactas que a gravidade existente
em sua superfície impede que
qualquer coisa escape de lá, até
mesmo a luz. Mas é impossível
usar essa mesma teoria para tentar entender completamente o
que acontece com o espaço, com
o tempo e com a matéria na borda
de um desses objetos -é preciso
levar em conta também efeitos de
natureza quântica, governados
por outras leis físicas, que em
princípio parecem ser incompatíveis com a relatividade.
Para terminar, em seu modelo
do Universo baseado na relatividade, Einstein introduziu uma
"constante cosmológica", uma
misteriosa força física desconhecida em que ele acreditava, por razões ideológicas. Hoje esse mistério se manifesta na forma da energia escura, um enigma da natureza que está fazendo com que o
cosmos acelere seu ritmo de expansão, ao contrário do esperado.
À procura de respostas
Por essas e outras, "o legado de
Einstein claramente está incompleto", disse White. E a Nasa pretende produzir instrumentos,
usando a plataforma singular e
extremamente valiosa do espaço,
para sondar essas questões fundamentais acerca do funcionamento do cosmos.
A agência espacial americana
deve começar a financiar o programa a partir do ano que vem. A
idéia é construir, ao longo da próxima década, dois "Grandes Observatórios de Einstein". O primeiro deles seria o Lisa (sigla para
Conjunto Espacial de Interferometria a Laser), o primeiro detector de ondas gravitacionais colocado no espaço.
Segundo a teoria, ondas gravitacionais são geradas quando algum corpo se movimenta. Como
são muito fracas, nunca foram detectadas. Mas vários sistemas
criados em terra e, agora com o
Lisa, no espaço deverão começar
a fazer medições desse efeito previsto pela relatividade.
Caso isso se confirme, os cientistas esperam usar esses detectores para vasculhar uma época do
Universo em que nenhum tipo de
radiação eletromagnética era propagado, mas ondas gravitacionais
já existiam.
Frota espacial
O segundo Grande Observatório de Einstein será o Constellation-X. Como o próprio nome já
sugere, será uma constelação de
satélites para captar raios X como
nunca antes se fez na história da
pesquisa astronômica.
Sabe-se que a matéria que está
prestes a cair num buraco negro é
acelerada a velocidades altíssimas
e emite grandes quantidades de
raios X. O novo observatório concebido pela Nasa deve oferecer
grandes lampejos sobre o que
ocorre nas imediações do buraco
negro e deve ser capaz de "fotografar" com clareza o chamado
"horizonte de eventos", ponto a
partir do qual a luz já não consegue mais escapar do objeto.
Com o projeto, a Nasa espera
conseguir responder a algumas
questões que hoje seguem sendo
uma interrogação. Mas, claro, o
que de fato se espera são as novas
perguntas que o "Beyond Einstein" deve suscitar.
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