São Paulo, terça-feira, 28 de agosto de 2007

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Grupo "acorda" bactéria congelada há 500 mil anos

Estudo extrai DNA vivo mais antigo do mundo e mostra como micróbio se mantém

Trabalho resolve enigma da dormência dessas criaturas e indica que solo gelado de Marte ainda pode abrigar "matusaléns" microbianos

ESA
Solo congelado de Marte pode abrigar bactérias adormecidas


DA REDAÇÃO

Bactérias que se mantiveram vivas por meio milhão de anos ajudaram um grupo internacional de cientistas a entender o segredo da longevidade desses micróbios -na Terra e talvez até fora dela.
Os pesquisadores descobriram que algumas bactérias conseguem respirar e manter um mínimo de atividades metabólicas mesmo em ambientes extremos, como o solo congelado da Sibéria. Assim, seu DNA é capaz de se reparar dos danos que sofre nessas condições, permitindo que elas vivam.
A aparente "ressurreição" dos micróbios era algo que havia muito intrigava os cientistas. A hipótese parcialmente aceita até então era que no gelo as bactérias entrariam em um estado de dormência -situação que aumenta a tolerância ao estresse e a resistência a condições adversas. O problema é que, com o tempo, células dormentes ficam metabolicamente inativas. Seu DNA deixa de fazer os autoconsertos necessários para sua sobrevivência e acaba se degradando.
As bactérias, no entanto, não seguem esse padrão. O genoma dos micróbios achados em solo congelado costuma ficar intacto. Em estudo publicado hoje na revista "PNAS", a equipe liderada por Eske Willerslev, da Universidade de Copenhague (Dinamarca), explica por quê.
Analisando amostras de bactérias de 500 mil anos encontradas no permafrost da Sibéria, do Canadá e da Antártida, os pesquisadores detectaram pela primeira vez sinais diretos de respiração, ao captarem a produção de CO2. Eles acreditam que o nível de dormência é baixo o suficiente para manter as atividades metabólicas.
O estudo sugere que o permafrost possa abrigar um conjunto de bactérias desconhecidas que resistiram às mudanças climáticas do passado. Para Vivian Pellizari, da Universidade de São Paulo, que estuda microorganismos da Antártida, as aplicações são variadas. "Essas bactérias podem representar um elo importante para o conhecimento da evolução da vida no planeta", diz. E também em outros mundos.
Os autores acreditam que se Marte ou a lua Europa, de Júpiter, já abrigaram algum tipo de vida similar a bactérias, elas também podem permanecer vivas no permafrost. "Este mecanismo de reparo pode muito bem ter sido empregado na sobrevivência dos microrganismos em outros planetas com condições de temperaturas extremas", explica Pellizari.


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