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Energia no país ficou 30% mais suja, diz ministério
Emissão de carbono do setor cresceu mais do que geração entre 1994 e 2007
Entrada em operação de
usinas termelétricas explica
aumento; na indústria, CO2
cresceu 22% mais que o PIB, devido à construção civil
MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A emissão de gás carbônico
na geração de energia elétrica
no Brasil cresceu 30% acima da
oferta de luz entre 1994 e 2007.
O aumento, registrado em estudo do Ministério do Meio
Ambiente, explica-se pela atividade de usinas térmicas a óleo
diesel e carvão no país.
O estudo indica as termelétricas como próximo alvo da
política de redução de emissão
de gases de efeito estufa, ao lado dos transportes, da indústria e do desmatamento. Também acende um sinal amarelo
em relação às ambições do Brasil de posar como potência verde nas negociações do clima em
Copenhague, em dezembro.
"Nossa matriz energética ficou mais suja", comentou o ministro Carlos Minc ao divulgar
as estimativas de emissões de
CO2 pela queima de combustíveis fósseis e processos industriais. "Os dados ainda estão
muito bons, comparados ao
resto do mundo, mas a direção
é ruim", destacou. Entre 1994 e
2007, a geração de energia elétrica no país cresceu 71%, enquanto as emissões de carbono
na geração aumentaram 122%.
O percentual de aumento supera o registrado pelo setor de
transportes, o que mais queima
combustíveis fósseis no Brasil.
Para ajudar a reduzir as
emissões deste setor -que
cresceram 56%, sobretudo devido a veículos movidos a diesel- o Conama (Conselho Nacional do Meio Ambiente) votará na semana que vem novos
limites de emissões para os carros de passeio e camionetes fabricados a partir de 2013.
Uma resolução em estudo no
Conama exigirá a inspeção veicular em todo o país. Hoje só o
Estado do Rio de Janeiro e o
município de São Paulo fazem
esse tipo de controle. "São necessárias medidas para conter
as emissões em outros setores
e não apenas pelo desmatamento", observou o ministro.
As termelétricas deverão
ocupar cada vez mais a matriz
energética relativamente limpa do Brasil. O Plano Decenal
de Energia do governo prevê a
construção de 66 térmicas movidas a combustíveis fósseis.
Apesar disso, Minc afirmou
que a exigência de compensar o
lançamento de CO2 na atmosfera pelas usinas é objeto de
negociação no governo e deverá ser atenuada. "Tem aquela
queda de braço e estamos negociando: a exigência de plantar árvores aumenta o custo
dos empreendimentos", ponderou. Em maio, ele dissera à
Folha que não abriria mão da
compensação: "Não tem volta".
Construção civil
Enquanto a economia brasileira cresceu 45,1% em 13 anos,
as emissões da indústria cresceram 22% a mais entre 1994 e
2007. Os 77% de aumento no
setor não incluem a queima de
combustíveis fósseis. O crescimento foi liderado pela indústria de cimento, insumo da
construção civil, um dos setores-chave do pacote de estímulo do governo federal para conter a crise econômica.
Os efeitos da crise não aparecem nos dados do ministério,
no entanto. As estimativas
anunciadas ontem são baseadas em dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), da EPE (Empresa de
Pesquisa Energética) e dados
da indústria até 2007.
Os números devem ser atualizados uma vez por ano e não
seguem a mesma metodologia
do inventário oficial de emissões, em elaboração pelo Ministério de Ciência e Tecnologia. O primeiro e único inventário do gênero, que estimou as
emissões totais do Brasil em 1
bilhão de toneladas -colocando o país entre os seis maiores
emissores de CO2 do mundo-
usa os dados de 1994. O próximo, a ser publicado no fim deste ano, tem 2000 como base.
Minc prevê que as emissões
da indústria e da queima de
combustíveis fósseis deverão
alcançar entre 25% e 30% das
emissões totais do país. Esse
crescimento será acompanhado pela redução das emissões
do desmatamento de 75% do
total para algo entre 55% e
60%. O desmate segue como
principal emissor do país.
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