São Paulo, domingo, 28 de agosto de 2011

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Nas ondas da RÁDIO ET

FERNANDA EZABELLA
ENVIADA ESPECIAL A MOUNTAIN VIEW

Cartazes com fotos de nebulosas e naves espaciais recebem o visitante que chega ao prédio de dois andares do Instituto Seti, na pacata Mountain View, cidade-sede de diversas empresas de tecnologia no vale do Silício, norte da Califórnia.
Réplicas de discos voadores e bonequinhos de alienígenas ficam discretos nas prateleiras de alguns cientistas do instituto, organização privada sem fins lucrativos que busca sinais de vida inteligente fora da Terra.
"Se eu não acreditasse nisso, atravessaria a rua e dobraria meu salário trabalhando para alguma dessas firmas tecnológicas", diz Seth Shostak, astrônomo-sênior do grupo. "Ciência funciona assim. Se você não tiver a crença, não é motivado para ir atrás dos dados, das provas."
A principal arma de pesquisa do Seti é um conjunto de 42 antenas instaladas num observatório do extremo norte do Estado, chamadas de Allen Telescope Array, em homenagem a Paul Allen, cofundador da Microsoft e doador de US$ 25 milhões para o projeto de US$ 50 milhões.
O complexo começou a funcionar em 2007 em parceria com a Universidade da Califórnia em Berkeley, que fazia experimentos científicos paralelos aos de busca de sinais ETs. Porém, com o corte no orçamento, a UC foi obrigada a se retirar, e as antenas foram desligadas em abril.
Neste mês, doadores particulares deram ao Seti cerca de US$ 200 mil para colocar as antenas de volta em ação, mas só até o final do ano. "Conseguir dinheiro será um desafio ano a ano", diz Tom Pierson, diretor administrativo do Seti.
Na sede do instituto, trabalham cerca de 140 funcionários, boa parte cientistas dedicados a astrobiologia (área que estuda como a vida surge no Cosmos) e apenas meia dúzia focada nos telescópios, já que o grosso do trabalho é feito por computadores.
O nome "seti" também é a sigla em inglês para "busca por inteligência extraterrestre", usada pela comunidade para a atividade de analisar ondas eletromagnéticas, já que seriam a forma de transmissão mais rápida.
A conexão do instituto com parceiros ilustres do vale do Silício, a seriedade das pesquisas e o fluxo de dinheiro fazem com que o Seti se diferencie dos tradicionais caçadores de alienígenas.
"Procuramos por evidências de vida no espaço profundo. Não examinamos cadáveres de aliens", diz Pierson. "Estaríamos interessados se fosse real. Mas nunca apareceu nada concreto."
Apenas uma vez o Seti chegou perto de captar um "sinal bom". Era 1997, e a empolgação durou 18 horas, até que se viu que se tratava de uma interferência da Agência Espacial Europeia.
"Ninguém foi para casa dormir, o coração batendo forte", lembra Pierson.
Shostak foi mais cético. "Fiquei confuso. Minha primeira reação foi: 'Isso vai arruinar minha semana!'. As pessoas acreditam que o governo fecharia tudo e manteria segredo. O governo mostrou algum interesse em 1997? Nada! A única pessoa que ligou foi um jornalista."


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